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Entrevista - Renato Barco, presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp)

Fonte: A Tribuna - 20/03/2013

Pela primeira vez desde o início dos transtornos viários na Baixada Santista, reflexo do início do escoamento da safra agrícola para o Porto de Santos, há pouco mais de um mês, o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o engenheiro Renato Barco, aventou a possibilidade de reter caminhões no Planalto, caso a situação piore. Sem apontar culpados, ele aguarda uma solução definitiva para o caos no trânsito somente após a realização de obras para facilitar o acesso ao Porto. Ontem, ele recebeu uma comitiva do Governo Federal, que veio à região para analisar os problemas logísticos do complexo portuário e seus acessos. Esses são alguns dos temas debatidos por Barco com a Reportagem de A Tribuna. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

A Codesp recebeu hoje uma comitiva formada por técnicos do Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a fim de avaliar os congestionamentos causados pelo escoamento da safra agrícola através do Porto de Santos. A equipe está aqui para cobrar soluções ou propor resultados?

Eu diria nem um, nem outro. Ela está sensível a tudo o que está acontecendo, a todos os problemas que estão acontecendo no País para melhor escoar a safra. Na realidade, ela vem se assenhorear da situação. Há a participação da Antaq e do Ministério dos Transportes. Cada um dando sua parcela de contribuição para que se chegue a um denominador comum, para que tenha uma participação maior da ferrovia em toda a matriz de transportes. Esse é a nossa grande meta.

As ferrovias estão saturadas? Em Mato Grosso, há filas para carregar no terminal de trens.

Nós somos acusados de promover as filas, mas próximo à produção, também existem filas. Isso vem demonstrar a dificuldade que se encontra nesse percurso. Pra nossa surpresa, nós estávamos movimentando (por trens), em 2011, 22% do total movimentado no Porto. No final de 2012, houve uma queda de 1%. Deu uma brecada nesse crescimento e retomamos a patamares de 2010. O movimento aumentou, mas a participação teve uma queda.

Por quê?

É difícil a gente dizer. É claro que, talvez para um movimento mais vigoroso que nem o nosso, começam a ficar mais evidentes as necessidades da própria rodovia. Eu vou voltar um pouco a 2009 e 2010, quando nós fizemos um estudo de acessibilidade ao Porto e já se detectava algumas carências no sistema ferroviário, como a duplicação de linhas, a automação e a construção do Ferroanel. São obras de infraestrutura grandiosas, não só na Margem Esquerda (Guarujá), como na Direita (Santos).

Há mais problemas para escoar as cargas por ferrovias?

Não. Não podemos deixar de lembrar os dois viadutos (das avenidas perimetrais portuárias) que foram construídos (em Vicente de Carvalho e em Outeirinhos). Dois grandes gargalos foram suprimidos. É claro que não está completo ainda. Faltam obras. A primeira delas é a supressão do último gargalo, coma construção do Mergulhão–obra do PAC cujo projeto executivo queremos começar a elaborar a curtíssimo prazo. Já existe uma empresa vencedora (da licitação) para a elaboração desse projeto. Nós já temos até verba pra isso. Uma obra de cerca de R$ 400 milhões, cujo projeto deve ser aprovado até abril de 2014.

E os trechos da Perimetral?

Para Santos, nós temos até outro ponto. Também é uma obra importante que faremos através de parcerias com empresas privadas. É a mudança das linhas férreas, aquelas que cortam todos os terminais da Ponta da Praia, do Armazém 23 até o Corredor de Exportação. Elas seriam todas remanejadas para o lado da Avenida Mario Covas. A obra deve ficar pronta até 2015. E a outra grande obra, em Guarujá, é a construção da Perimetral da Margem Esquerda. A avenida só não evoluiu mais por causa do mal tempo. E também o próprio caminhão que vai levar produtos básicos para a finalização da obra acaba entrando na fila do congestionamento. (A avenida) ficará pronta em abril, mas pode atrasar mais por causa do tempo.

E sobre a fase 2 da Perimetral de Guarujá?

É um projeto mais amplo e ambicioso, que vai trazer um ganho enorme para a região. Estamos finalizando os estudos.

Voltando a Santos, há prazos para o término da Perimetral?

O trecho 1 da avenida, que pega praticamente a Avenida Augusto Barata, passará por uma remodelação. Terá quatro pistas para a entrada e duas para a saída. Prazos, nós não temos.

Sobre os congestionamentos. o que a Codesp faz hoje para evitar a continuação do caos?

Em primeiro lugar, a Codesp nunca esteve parada. As medidas estão sendo tomadas. Nós estamos montando um sistema para a instalação de um programa OCR (de leitura digital da placas dos caminhões) nos gates dos terminais. Todos os terminais vão ter que partir para essa alternativa, para verificar a convergência entre caminhões agendados e operações realizadas. Os caminhoneiros também são indisciplinados. Eles não se conformam em respeitar a fila. Na hora de entrar na Rua do Adubo (Rua Idalino Pinês), eles travam tudo. Isso deixa os pátios reguladores lotados, a Via Anchieta lotada. Também está se buscando disciplinar essas filas. A prefeita de Guarujá (Maria Antonieta de Brito) fechou a Rua do Adubo, o que, por sinal, foi uma medida aplaudida, muito interessante e que trouxe bons resultados. Podemos pensar também em reter o tráfego no planalto, com pátios.

A supersafra deste ano já era prevista. A Codesp não chegou a se preparar para o escoamento de um volume de grãos maior do que o normal?

Nós não vínhamos detectando esse tipo de problema ao longo do ano. É claro que nós temos a obrigação de sermos pró-ativos. E nós não paramos. A Codesp não parou, tanto que a quantidade de veículos apurada ao longo do ano, inclusive em janeiro e fevereiro, vem se mantendo num patamar de 12 mil veículos por dia.

Então por quê há congestionamentos?

Uma coisa que ficou muito clara, quando houve a reunião com empresários de Cubatão (diretores do Ciesp de Cubatão, na semana passada), é que o trecho da Cosipa teve um aumento significativo de caminhões. Nosso problema é a acessibilidade ao Porto.

Quanto ao novo pátio, ele será gratuito?

Sim. Nós vamos providenciar a elaboração de um projeto básico, para ver que providência vamos tomar lá para ganhar tempo. A capacidade do pátio da Alemoa está entre 600 e 800 caminhões. Vamos torcer para o pátio da Alemoa ficar pronto neste ano.

Guarujá terá um pátio?

Essa providência já está sendo tomada juntamente com a prefeitura e outras arrendatárias. Há a área da Fassina e a Santos Brasil está em busca de outra área. Essas providências estão sendo tomadas. Eu não tenho previsão, mas é uma coisa muito rápida. Quem sabe amanhã (hoje), todas essas empresas vão estar reunidas (em uma sessão extraordinária do Conselho de Autoridade Portuária) e devem dar alguma notícia.

E o comitê de logística? Ele não teria que ter sido convocado para cuidar da crise?

Nós entendemos que não. A partir de agora não sei se seria prudente e fui acompanhado por outros colegas. Mas ele volta a ocorrer no mês que vem.




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