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Com pandemia, fechamento de vagas formais atinge mais quem ganha de 1 a 2 salários mínimos
Fonte: O Globo
75,5% do total de vagas fechadas no ano estão nesse patamar de renda; ocupações com maior número de postos criados estão nas áreas de saúde, educação e agricultura.
A pandemia mudou o cenário de criação de vagas no país. Se em 2018 e 2019 o saldo positivo de vagas formais era restrito às faixas salariais de até dois salários mínimos, em 2020, até o mês de maio, esses foram os patamares de salário com maior fechamento de postos de trabalho.
Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), enviados pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho a pedido do G1.
No acumulado de 2020, do total de 1,145 milhão de vagas fechadas, mais da metade foi na faixa salarial de 1,01 a 1,5 salário mínimo - um total de 635,1 mil postos de trabalho fechados. Essa faixa liderou o saldo de vagas criadas em 2018 e 2019.
Já na faixa de 1,51 a 2 salários mínimos, foram 229,3 mil postos fechados até maio deste ano. Essas duas faixas corresponderam a 75,5% do total de vagas fechadas no ano.
No caso da renda de 0,51 a 1,0 salário mínimo, que ficou na vice-liderança de criação de vagas em 2018 e 2019, foram fechadas mais de 45 mil vagas.
A única faixa salarial com saldo positivo de vagas neste ano foi a de até meio salário mínimo: 24,2 mil vagas criadas. Veja no gráfico abaixo:
Setores e cargos com maior demanda
A pandemia também mudou o ranking de ocupações que mais criaram vagas com carteira assinada nos primeiros meses de 2020. A predominância foi nas áreas de saúde, educação e agricultura.
As medidas de restrição e isolamento social para reduzir a velocidade do avanço da doença provocaram a suspensão do funcionamento de serviços considerados não essenciais, o fechamento de boa parte do comércio e também de fábricas.
Em janeiro, técnico de enfermagem e enfermeiro não apareciam entre os 30 cargos com maior saldo de vagas. No acumulado até maio, entretanto, ambos lideraram a lista de cargos, sendo responsáveis pela criação de quase 45 mil vagas (veja relação abaixo). Esse cenário tem relação com a demanda de profissionais para o tratamento da Covid-19.
Já no ranking de ocupações que mais perderam vagas, vendedor de comércio varejista lidera, com 180.258 postos de trabalho fechados até maio. O quadro também tem relação com a pandemia, que levou ao fechamento de estabelecimentos. Em janeiro, o cargo também liderou o fechamento, com 28,8 mil vagas a menos. Entretanto, essa redução foi motivada principalmente pelo término de contratos temporários para as vendas de Natal.
Outras ocupações que fecharam vagas até maio, que têm relação com o encerramento de atividades devido à pandemia, são atendente de lanchonete, auxiliar de escritório, operador de caixa, cozinheiro geral e garçom.
O comércio e serviços foram os setores que mais fecharam vagas até maio, o que explica o ranking de cargos com maior perda de postos. O setor agropecuário foi o único que registrou saldo positivo de vagas.
Veja abaixo o saldo de vagas em cada setor no ano até maio:
• Comércio: -446.584 vagas
• Serviços: -442.580 vagas
• Construção: -44.647 vagas
• Indústria: -236.410 vagas
• Não identificado: -84 vagas
• Agropecuária: 25.430 vagas
Ranking de ocupações que mais criaram vagas:
1. Técnico de Enfermagem: 29.376
2. Enfermeiro: 15.501
3. Tratorista Agrícola:12.635
4. Trabalhador Volante da Agricultura: 12.410
5. Motorista de Caminhão (Rotas Regionais e Internacionais): 12.301
6. Trabalhador da Cultura de Café: 9.867
7. Professor de Nível Superior do Ensino Fundamental (1ª a 4ª Série): 8.389
8. Auxiliar de Processamento de Fumo: 7.398
9. Magarefe: 6.582
10. Trabalhador Agropecuário em Geral: 5.655
11. Professor de Nível Médio no Ensino Fundamental: 5.482
12. Auxiliar de Desenvolvimento Infantil: 4.914
13 Operador de Máquinas de Beneficiamento de Produtos Agrícolas: 4.335
14. Professor da Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental (1ª a 4ª Série): 4.201
15. Trabalhador da Cultura de Milho e Sorgo: 3.965
16. Professor de Nível Superior na Educação Infantil (4 a 6 Anos): 3.488
17. Professor de Nível Médio na Educação Infantil: 3.441
18. Fisioterapeuta Geral: 3.131
19. Auxiliar de Enfermagem: 2.771
20. Analista de Desenvolvimento de Sistemas: 2.728
21. Professor de Nível Superior na Educação Infantil (0 a 3 Anos): 2.559
22. Professor de Ensino Superior na Área de Prática de Ensino: 2.511
23. Embalador à Mão: 2.491
24. Professor de Ensino Superior na Área de Didática: 2.313
25. Abatedor: 2.249
26. Operador de Colheitadeira: 2.199
27. Professor de Disciplinas Pedagógicas no Ensino Médio: 2.063
28. Professor de Língua Inglesa: 1.906
29. Inspetor de Alunos de Escola Pública: 1.861
30. Orientador Educacional: 1.761
Ranking de ocupações que mais perderam vagas:
1. Vendedor de Comércio Varejista: -180.258
2. Atendente de Lanchonete: -45.170
3. Auxiliar de Escritório, em Geral: -42.775
4. Operador de Caixa: -40.682
5. Cozinheiro Geral: -38.963
6. Garçom: -34.171
7. Auxiliar nos Serviços de Alimentação: -33.774
8. Assistente Administrativo: -33.675
9. Trabalhador da Cultura de Cana-de-Açúcar: -30.985
10. Recepcionista, em Geral: -23.385
11. Faxineiro: -22.918
12. Atendente de Lojas e Mercados: -22.401
13. Almoxarife: -21.165
14. Trabalhador no Cultivo de Arvores Frutíferas: -17.496
15. Camareiro de Hotel: -16.962
16. Frentista: -16.046
17. Promotor de Vendas: -15.395
18. Alimentador de Linha de Produção: -14.960
19. Supervisor Administrativo: -14.815
20. Costureiro na Confecção em Série: -12.190
21. Ajudante de Motorista: -12.120
22. Assistente de Vendas: -10.415
23. Operador de Telemarketing Ativo e Receptivo: -10.233
23. Operador de Telemarketing Ativo e Receptivo: -10.233
24. Motorista de Ônibus Rodoviário: -9.851
25. Gerente Administrativo: -9.605
26. Costureiro, a Máquina na Confecção em Série: -9.460
27. Pedreiro: -9.458
28. Motorista de Ônibus Urbano: -9.279
29. Trabalhador Polivalente da Confecção de Calçados: -9.100
30. Vendedor em Comércio Atacadista: -9.068
Menos escolarizados são mais afetados
O maior fechamento de vagas se deu entre níveis de escolaridade mais baixos, com exceção dos analfabetos, que foram os menos afetados. Lideram no saldo negativo de vagas os profissionais com nível médio completo, seguidos de quem tem fundamental incompleto e completo. Além dos analfabetos, o desemprego afetou menos os profissionais de nível superior.
Já em relação à faixa etária, profissionais de 30 a 39 anos foram os mais afetados: 368,2 mil vagas fechadas. A única faixa etária que teve saldo de vagas positivo foi até os 17 anos.
Na crise, mais qualificados perdem menos
Para Daniel Duque, pesquisador do FGV Ibre, os números apontam que os trabalhadores mais qualificados tiveram uma piora bem menos significativa.
“Quanto ao salário de admissão do Caged, eles aumentaram. Isso significa que estão sendo expulsos do mercado de trabalho aqueles com menores rendimentos, e os empregos formais criados no período de pandemia são os de maior salário, então você vê uma mudança de composição do mercado de trabalho”, comenta.
Juliana Inhasz, coordenadora da graduação em economia do Insper, afirma que os efeitos para o trabalhador desempregado com renda mais baixa serão mais perversos porque, no geral, ele possui qualificação menor e terão de disputar vagas com aqueles que têm qualificação maior.
“A gente tem um mercado com muita gente desempregada, inclusive com mais qualificação, que se mostra disposta a trabalhar por salários menores do que ganhava quando deixou o mercado. E essas pessoas vão acabar sendo talvez mais atrativas do que as com baixa qualificação. Então esses trabalhadores de baixa renda vão ter uma dificuldade maior para se recolocar”, diz.
Daniel Duque considera que, quando há uma crise no mercado de trabalho, os mais atingidos são os que têm menor qualificação, em especial os jovens com menos experiência e menos a oferecer.
“Então as pessoas que têm menor escolaridade e menos qualificação terão mais dificuldade de se recolocar do que quem tem formação superior e especializações. Os jovens tiveram a possibilidade do serviço de entrega que foi um certo colchão”, afirma.
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