Artigos e Entrevistas

Eu, você, eles, um porto e as cidades

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
Não conseguimos sair do ciclo de ondas dentro do setor portuário quanto aos investimentos
 
Que os portos do Brasil destravaram a agenda de concessões, já é sabido por todos. O que fica no momento é a contínua guerra de créditos por quem conseguiu tal feito. Lado A ou Lado B? Por outro lado, ainda não conseguimos sair do ciclo de ondas dentro do setor portuário quanto aos investimentos. Ou seja, ficamos por décadas debatendo temas e projetos que são importantes e tão logo conseguimos destravá-los, celebramos por mais algumas décadas o que demoramos para fazer por décadas. Por que somos assim?
 
Não entendo a razão pela qual a nossa sociedade é refém de discursos e narrativas. Talvez seja pela dependência do próprio sistema. Um sistema que capturou as iniciativas nas esferas pública e privada, deixando-as paralisadas durante tanto tempo e fazendo com que qualquer movimento seja sinônimo de celebração.
 
Celebramos anúncios de obras atrás de obras, projetos atrás de projetos, mesmo sabendo que, do total, aproximadamente 50% não serão concluídos segundo o próprio Tribunal de Contas da União (TCU).
 
Hoje, temos anunciados mais de 25 projetos estruturantes em nossa Baixada Santista e em nenhum momento foi feita uma análise sobre a forma que eles serão entregues, de que forma serão executados nem como serão planejados. Já imaginou começar mais de 25 obras ao mesmo tempo em nossa região, incluindo o tão sonhado túnel Santos-Guarujá? Certamente a região ficará paralisada, ou melhor, inviabilizada, se considerarmos que hoje a mobilidade urbana e portuária já está muito comprometida.
 
Para muitos, isso é algo com que não devemos nos preocupar, pois demoramos muito para resolver fazer e se vamos fazer, que saia do papel de qualquer maneira. Para tantos outros, um pouco mais sábios, percebe-se que todo ano eleitoral é quando grandes obras são anunciadas e dessa vez não será diferente. Já para poucos, a preocupação é motivar os tantos de um lado e os tantos de outro lado para que continuem sonhando, mas sonhando com os pés no chão, para sabermos como iremos entregar e, principalmente, o legado que iremos deixar.
 
Túnel, aeroporto, terceira pista da Rodovia dos Imigrantes, viadutos, novos terminais e muito mais. Demandas represadas por décadas e que devem ser tratadas com total responsabilidade. O Porto de Santos, como maior do Hemisfério Sul, não pode escolher cargas e deve acomodar o maior volume transportado. Devemos atrair produtos de valor agregado, como os contêineres, mas precisamos continuar com operações de cargas projeto. A carga projeto atende a indústria paulista e nacional e não pode ser desprezada pelo Porto de Santos.
 
É preciso um planejamento com alinhamento entre o negócio e os interesses sociais e regionais. Não podemos continuar defendendo interesses pontuais sem que haja um plano do interesse coletivo. A nossa região deve e muito ao Porto de Santos e hoje o Porto de Santos precisa ajudar no planejamento urbano e portuário. Estamos vivendo um momento único e que irá definir como a nossa região se comportará nas próximas décadas.
 
Haverá emprego? Haverá oportunidades? Haverá negócio? Haverá cidade? Haverá espaço para se locomover? Conseguimos resolver de forma muito assertiva o encaminhamento dos negócios portuários e a cada dia o setor ganha mais representatividade no cenário político nacional. Algo que nunca conseguimos e que devemos continuar impulsionando, dando a notoriedade adequada para as demandas, de forma técnica, para que a iniciativa pública possa ser empurrada pelas necessidades das cidades e do Porto de Santos.
 
Aos que destravaram a agenda de concessões, os merecidos parabéns. Porém, aos que estão vivendo somente dessa agenda, é preciso que entendam que não podem ficar aprisionados ao passado. Tem muita coisa por vir. Talvez possam agradar a muitos, mas entendendo que existem poucos que ainda olham para aquilo que muitos necessitam.
 
*Maxwell Rodrigues, empresário e especialista portuário. É apresentador do programa Porto 360° na TV Tribuna
 

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