Artigos e Entrevistas

Caio da Marimex: 'Entrosamento porto-cidade não existe'

Fonte: Diário do Litoral
 
Caio sobre relação porto-cidade: 'Não há força política e vontade para que a relação saia do papel e dos discursos'
 
Em entrevista exclusiva ao Diário do Litoral, o presidente da Marimex Inteligência Portuária em Logística Integrada, Antônio Carlos Fonseca Cristiano, o Caio da Marimex, afirma que as autoridades municipais, estaduais e federais precisam parar de somente discutir a relação porto-cidade e, realmente, pôr em prática projetos que sejam eficazes para portuários e cidadãos e cidadãs santistas.
 
“O entrosamento porto-cidade não existe. Mais um ano eleitoral em que só existiram promessas no Brasil inteiro. Não vi e não vejo até hoje algum prefeito, deputado, governador, ministro enfim, se debruçar de verdade sobre essa questão. Ninguém quer pôr a mão na massa e resolver. Não há força política e vontade para que a relação saia do papel e dos discursos. Se fala hoje em porto-indústria. Esquece, sem chances também se não houver entrosamento”.
 
Sobre a questão, o empresário continua: “a Receita Federal, a Polícia Federal e os governos têm que se envolver de forma conjunta e definitiva. Falta autoridade e, quando isso acontece, prevalece a famosa Lei de Gerson – a dos mais espertos. 
 
Hoje, o porto está dominado por empresas internacionais e não existe qualquer preocupação em relação a isso. O aumento de armazéns para operação de celulose, por exemplo, está matando o Porto de Santos”.
 
Para o empresário, sem o entrosamento eficaz, nenhuma frente parlamentar de portos e aeroportos – que já são três no Brasil - para discutir com o setor de infraestrutura de transportes, gargalos, logística e outros assuntos vai gerar qualquer resultado prático.
 
Também acredita que a implantação de um novo pátio em Cubatão ou em São Vicente, não é a única alternativa para acabar com os congestionamentos.
 
“A questão é muito mais complexa. Os terminais precisam trabalhar com agendamento e a Autoridade Portuária de Santos (APS) precisa fiscalizar esse procedimento operacional e multar. Também é preciso ampliar os Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) e melhora os acessos internos do porto.
 
Havia uma promessa de estender a Avenida Perimetral de forma paralela à Avenida Mário Covas, do Canal 4 à Ponta da Praia. Mas esqueceram de cumpri-la e os caminhões continuam entrando na cidade”. 
 
Há pelo menos 10 anos, se pensa que um sistema de transporte por hidrovia visando otimizar transporte de passageiros e até movimentação de cargas, especialmente de importação e exportação, pelo Porto de Santos.
 
No entanto, Caio disse que já tentou implantar um atracadouro para beneficiar os funcionários da Marimex na área da Alemoa e não conseguiu. “Esbarra na Marinha e outras autoridades que não querem discutir a questão e nem deixar que as empresas apresentem soluções”.
 
Meio Ambiente
 
Por outro lado, o presidente da Marimex acredita que os órgãos ambientais, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), precisam ficar mais atentos e fiscalizar com mais afinco os empreendimentos e as intervenções que acontecem no espaço portuário.
 
Também precisam fazer valer as decisões judiciais contra infratores de forma eficaz. “Multas milionárias são emitidas, mas ninguém paga. Uma vez, denunciei um empresa e descobri que ela tinha 45 multas que nunca foram pagas”. 
 
Vale lembrar que o Diário do Litoral, há anos, vem denunciando situações críticas envolvendo o maior porto da América Latina, como a série de reportagens intitulada Lama e Caos – versão impressa e em audiovisual (Diário de Um Repórter). Nela, mostrou-se os impactos da dragagem ao meio ambiente e na vida dos pescadores artesanais. 
 
Também denunciou os impactos das marinas no Canal do Bertioga e outras questões, como a cava subaquática, um verdadeiro vulcão submerso, com alto grau de toxidade e letalidade, podendo entrar em erupção a qualquer momento, causando uma verdadeira catástrofe social e ambiental no Estuário de Santos. As autoridades nada fazem. 
 
Terminal
 
Sobre o novo terminal da empresa, no Valongo, e deve gerar investimentos na ordem de R$ 350 milhões, Caio acredita que será uma referência no Porto de Santos, mas ainda está sobre aprovação da APS e órgãos federais. Ele prevê que o equipamento deve entrar em operação até o final de 2027.   
 
“Ele será na segunda entrada do Porto e teremos dois anos de obras após a liberação dos órgãos oficiais e a fase de concorrências”, revela, reforçando que o futuro terminal terá três armazéns, com área de 25 mil metros quadrados e um pátio para contêineres com 65 mil metros quadrados.
 
O espaço terá a capacidade de movimentar milhares de TEUs (Twenty-foot Equivalent Unit) - unidade padrão utilizada na indústria de transporte marítimo para medir a capacidade de carga dos contêineres. 
 
Um TEU representa o espaço ocupado por um contêiner de 20 pés de comprimento (aproximadamente 6,1 metros).
 
O ponto forte do novo terminal será a Inteligência Artificial, que deverá agregar segurança e agilidade na manipulação das cargas.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)



Compartilhe


Voltar