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Discussões de mudança de escala de trabalho 6x1

Fonte: A Tribuna On-line / Roberto Teller*
 
Será que ainda faz sentido discutir modelos de escala tradicionais? Ou deveríamos concentrar esforços em preparar a força de trabalho para funções que ainda estão por surgir?
 
A proposta de abolir a escala 6x1, que estabelece seis dias de trabalho seguidos por um de descanso, tem gerado polêmica. Muitos defendem seus benefícios para a qualidade de vida, enquanto outros argumentam que a medida poderia impactar a competitividade de certos setores. Mas há um ponto fundamental sendo ignorado: o trabalho, como o conhecemos, está em rápida transformação.
 
A Era da Informação vem redesenhando o mercado de trabalho. Ferramentas de aprendizado de máquina e inteligência artificial não só realizam tarefas complexas como reconfiguram os padrões de produção. Nos portos brasileiros, sistemas automatizados já assumem funções que, há poucos anos, dependiam de grandes equipes. Processos como análise de notas fiscais, gestão de documentos e até elaboração de contratos complexos estão sendo feitos por algoritmos.
 
O impacto disso vai muito além da eficiência operacional. A transformação digital reduz a necessidade de trabalho repetitivo e amplia a demanda por qualificações técnicas e intelectuais. Nesse cenário, será que ainda faz sentido discutir modelos de escala tradicionais? Ou deveríamos concentrar esforços em preparar a força de trabalho para funções que ainda estão por surgir?
 
Os portos brasileiros, especialmente o de Santos, ilustram essa evolução. O avanço tecnológico já os posiciona em níveis comparáveis aos europeus e americanos. Mas isso levanta outra questão: como garantir que as inovações não deixem milhares de trabalhadores sem emprego ou sem perspectivas?
 
Defensores do fim da escala 6x1 argumentam que a medida pode gerar mais empregos. Mas essa visão não considera que muitas dessas vagas talvez nem existam em um futuro próximo, substituídas por máquinas, softwares e sistemas autônomos. Por outro lado, há quem questione se a redução da jornada realmente se traduz em mais qualidade de vida.
 
A discussão também toca em aspectos culturais e sociais. Estamos prontos para abandonar modelos tradicionais que moldaram as relações de trabalho por décadas? E como preparar trabalhadores para um mercado onde habilidades técnicas e cognitivas se tornam mais importantes que força física ou repetição?
 
A requalificação será o maior desafio. Empresas, governos e instituições educacionais precisam antecipar essa revolução, criando programas de capacitação que acompanhem as mudanças. Nos portos, por exemplo, uma universidade portuária, voltada para inovações e tendências, poderia ser a chave para transformar o impacto da automação em oportunidade.
 
Portanto, embora válida, a discussão sobre a escala 6x1 pode estar deslocada da realidade que já se impõe. O foco deveria ser menos sobre modelos do passado e mais sobre como construir um mercado de trabalho que equilibre tecnologia, produtividade, inclusão e diversidade, tema este tão propagado, mas ainda tão lento e necessário.
 
Estamos diante de um mundo onde a eficiência é inevitável, mas precisamos garantir que essa eficiência beneficie a todos. O desafio está lançado: como construir um futuro mais humano em meio a um cenário cada vez mais tecnológico?
 
Bem-vindos ao futuro!
 
*Roberto Teller, consultor sênior de Infraestrutura na Alvarez & Marsal
 

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