Artigos e Entrevistas

Novos tempos, discursos antigos?

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
O discurso gerundista dá uma ideia de um futuro em andamento
 
Mais uma eleição ocorre em nossas cidades e, ao vermos debates e propagandas, percebemos poucas menções ao maior porto do Hemisfério Sul. Algumas vezes, notamos citações ao "maior porto da América Latina" e quem conhece do setor portuário deve se questionar se os candidatos à vereança ou ao cargo de prefeito estão se referindo ao Porto do Panamá, pois ele é, atualmente, o maior da América Latina.
 
O discurso gerundista dá uma ideia de um futuro em andamento, uma ação duradoura que não será finalizada nunca. Ao longo das campanhas, notamos a preocupação da relação do porto com as cidades, do orgulho gerado pelo "maior porto da América Latina", a mão de obra, a automação e tantos outros temas que estão dentro de um contexto de uma pauta focada na propaganda. Mas, de fato, o que pode se tornar realidade? O discurso atual se diferencia do adotado em outros tempos?
 
Apesar do volume arrecadado com as atividades portuárias no Porto de Santos pelas cidades locais, podemos dizer que realmente existe conhecimento e zelo pelos negócios desse setor tão fundamental para a nossa região e País? Muito é abordado quanto à mão de obra, mas não existem ações concretas e que sejam aderentes às necessidades desse mundo moderno. Esqueceram de ouvir o porto, ouvem e discursam situações que estão distantes da necessidade e realidade.
 
O Porto de Santos perde carga para outros complexos, já não ocupa a posição de maior da América Latina, políticos insistem em discursar dentro de pilares que não agregam em absolutamente nada no negócio portuário e muito menos na relação do porto com as cidades.
 
Desejo que as próximas gestões municipais consigam se concentrar em um turismo forte, como é feito em outros portos do mundo. Por meio de um tíquete adequado para consumo, onde o receptivo possa atrair um público que consuma e que por sua vez gere renda a quem presta o serviço. Assim, o prestador de serviço poderá contratar centenas ou milhares de pessoas ao invés de lidar com negócios pontuais e com pouca geração de renda e empregos.
 
Deve-se perceber que as atividades estão mudando e, com isso, é necessário saber e planejar o que será feito com a atividade em zona secundária, em áreas que não possuem berço de atracação, pois são locais que geram milhares e milhares de empregos, mas sofrem com a falta de mobilidade, infraestrutura e impostos. O modelo está mudando e muito possivelmente em menos de cinco anos o tempo da carga parada em nosso porto será duas ou três vezes menor. Sem armazenamento, muda-se o modelo e assim é fundamental atrair a indústria para perto do porto. Somente a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) não resolverá!
 
Estudos de Impacto e Vizinhança (EIV) e o Termo de Implantação de Medidas Mitigatórias e/ou Compensatórias (Trimmc) contribuíram com muitas obras em Santos, por exemplo, mas seria importante revisitar os critérios que são atribuídos e, principalmente, quem será responsável pelo custeio de tantos serviços que já foram feitos e entregues por meio desses instrumentos. Já podemos perceber alguns exemplos de intervenções executadas por empresas do porto nesse cenário e que, hoje, têm dificuldade em se manter de pé.
 
Ao olhar para a mão de obra atual e futura, é necessário dividir o planejamento entre elas. Entendendo como atrair a nova geração que chega ao mercado de trabalho com suas regras e enfrentamentos e sabendo como lidar com a geração atual, que se encontra imersa no mundo da inovação e da tecnologia, sem muitas vezes perceber o volume de transformação das suas atividades e com isso se sente insegura com tamanha revolução.
 
É preciso saber o que fazer, como fazer e, principalmente, se espelhar no que já foi feito mundialmente. Saber usar de tecnologia e inovação não é politica e pode se tornar o maior legado que nossa geração deixará para as próximas. Que os próximos prefeitos de Santos, Guarujá e Cubatão possam exercer suas funções, preocupando-se com pontos que devem ser resolvidos, sem ficar refém das falsas promessas do Estado ou da Federação. Claro, focando no que é possível realizar e sem se distrair com aquilo que estão sempre prometendo sem que nunca seja possível ou até factível entregar.
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 

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