Artigos e Entrevistas

A parte do planejamento que salva vidas

Fonte: A Tribuna On-line / Luis Claudio Santana Montenegro*
 
O que é mesmo importante é saber o que fazer quando desastres ou acidentes acontecem
 
Planejar envolve definir as ações que se executa hoje para alcançar os resultados desejados no futuro. Será que planejamos tão pouco porque não sabemos bem que resultado desejamos? Ou será que desejamos tanta coisa que não conseguimos nem mesmo nos organizar para planejar?
 
Justamente porque planejamos pouco, a nossa sociedade desconhece um elemento essencial e estratégico em qualquer planejamento: o capítulo das contingências. Imprevistos fazem parte da vida, e é senso comum que, mesmo com muito planejamento, algo pode dar errado, que dirá com pouco ou nenhum planejamento.
 
Planos de contingência são estratégias ou medidas preparadas para lidar com situações inesperadas ou emergências. Eles garantem que, se algo der errado, exista um plano para minimizar os impactos e manter a vida o mais normal possível.
 
O tema contingência me é muito familiar, pois, antes mesmo de me formar em engenharia, eu já estava envolvido em me especializar em engenharia de segurança, especialização essa de que muito me orgulho. Aliás, foi esse o caminho que me fixou no setor portuário, quando, ainda no final da década de 90, pude colaborar na implantação da histórica norma regulamentadora de segurança no trabalho portuário, a NR-29.
 
Na norma, de 1997, nas diretrizes de segurança, já estavam vivos os planos de controle de emergências e planos de ajuda mútua dos portos brasileiros.
 
Como dizíamos, imprevistos trágicos acontecem. Aconteceu, por exemplo, no Porto de Santos, no incêndio de 2015, quando ações emergenciais envolveram a utilização de mais de 8 bilhões de litros de água e quase meio milhão de litros de espuma para conter o incêndio. Mais recentemente, em outro exemplo, fomos pegos de surpresa por uma pandemia devastadora. Agora, lidamos com esta catástrofe no Rio Grande do Sul.
 
É claro que qualquer discussão de planejamento teria condições de prever esses desastres. Talvez não fosse possível acertar sua magnitude, ou talvez não fosse possível cravar o momento em que aconteceriam, mas profissionais preparados para planejar contingências certamente teriam colocado tais previsões na mesa.
 
Prever o futuro, na verdade, nem é o objetivo do planejamento. O que é mesmo importante é saber o que fazer quando desastres ou acidentes acontecem.
 
Pois qualquer plano de contingência teria, no mínimo, os seguintes fundamentos para o caso do Rio Grande do Sul: identificação de áreas mais vulneráveis e possíveis impactos de enchentes de grande proporção; canais de comunicação claros para alertar a população e coordenar as ações entre autoridades, equipes de resgate e a comunidade, evitando o espalhamento de notícias e informações falsas e equivocadas; plano de rotas de evacuação e abrigos seguros para desabrigados; treinamento contínuo e atualizado para equipes de resgate e plano de compatibilização de voluntários; preparação de serviços médicos para atendimento de feridos e potenciais surtos de doenças.
 
Não menos importante, dois outros temas, que são mais afetos a esta nossa coluna: o planejamento de logística, para garantir recursos essenciais, como alimentos, água, medicamentos, abrigos e equipamentos de resgate; e o desenho claro de um plano para a reconstrução das áreas afetadas, com apoio contínuo às vítimas na reconstrução de suas vidas.
 
Parece que essas coisas são simples de dizer agora, mas posso garantir que todas elas, que agora parecem tão evidentes, estão previstas nos manuais clássicos de planos de controle de emergências e planos de ajuda mútua que os portos brasileiros já conhecem formalmente há décadas.
 
Outros acidentes acontecerão. A questão que realmente nos importa é se estaremos planejados para minimizá-los ou não.
 
*Luis Claudio Santana Montenegro, é engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia
 

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