Artigos e Entrevistas

Um AeroPORTO

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
A polarização também toma conta dos debates em que uns defendem uma linha de raciocínio e outros acham explicações para
 
Quando Silvio Costa Filho assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), acredito ele jamais imaginaria passar por uma situação tão complexa como o desastre que está ocorrendo no estado do Rio Grande do Sul.
 
Expressões como catástrofe socioambiental, emergência climática, adaptabilidade e resiliência dominam os noticiários e passam a integrar o vocabulário de autoridades e da população brasileira, na busca por explicações e soluções aos eventos climáticos extremos.
 
A polarização também toma conta dos debates em que uns defendem uma linha de raciocínio e outros acham explicações para o que não é possível explicar.
 
Até mesmo em um cenário como esse, a sociedade continua imersa em conceitos e percepções provenientes de uma agenda que não contribui e deixa de olhar para o que realmente importa. Será que nossa sociedade ou o mundo está doente?
 
O aeroporto de Porto Alegre virou um porto, as pessoas não conseguem chegar ou sair de lá sem o uso de embarcações. Diante de um desastre como esse, percebemos o quão frágil estamos em diversos aspectos, mas quero destacar alguns deles.
 
Pelo lado social, continuamos no Brasil a criar métodos e regras para controlar pessoas e processos fruto da desconfiança e sem políticas públicas para punir severamente aqueles que estejam infringindo algo de fato. Os que fazem o bem são punidos por aqueles que fazem o mal. A entrega de insumos e mantimentos por “voluntários” deve seguir o rito de “foto + protocolo de entrega”, por exemplo. Burocratizamos o desastre!
 
Absurdos do nosso cotidiano nos negócios e na vida, que obrigam as empresas e pessoas de bem a ficarem reféns de uma burocracia que desvirtua as regras estabelecidas, transformando a sociedade em escravos de suas próprias normas.
 
Um estado que impõe inúmeras regras e processos que afetam as pessoas de bem pela ineficiência em controlar e gerir aqueles que as infringem.
 
Além da preocupação com o meio ambiente, a sociedade precisa combater lideranças que ganham popularidade em uma democracia que explora emoções, preconceitos, e ignorância para despertar o povo comum contra as elites, provocando as paixões da multidão e interrompendo as deliberações fundamentais.
 
Já na logística, sabemos que o Brasil inteiro se mobilizou para ajudar o estado do Rio Grande do Sul, com inúmeras doações e ajuda que chegam de todos os cantos. Com isso, mais uma fragilidade veio à tona e mostrou o despreparo para situações como a que está ocorrendo. Enviar, receber e distribuir tantos mantimentos e insumos que são necessários nesse momento, é quase impossível pela falta de oferta de infraestrutura.
 
Percebemos o quanto mais aeroportos, portos e estradas são importantes também nesse momento. O Ministério luta para criar uma nova malha portuária e aeroportuária nesse momento!
 
Um contêiner com comida e água, por exemplo, atravessa uma guerra sem fim pelos portos brasileiros para romper a burocracia e após transpor todas as batalhas, ao chegar no destino percebe que a logística de distribuição ainda sofre com o controle do controle do controle daquilo que não precisa ser controlado agora e deve ser entregue a quem está necessitado.
 
Inevitável pensar em como agir com seres humanos que roubam ou desviam mantimentos em uma situação como essa! Você já refletiu? Alguém que age dessa maneira é um “ser” humano?
 
Muitos podem afirmar que isso decorre de uma catástrofe e que é impossível prever tais condições. Lembro que já não é de hoje que o mundo alerta quanto às mudanças climáticas.
 
A Autoridade Portuária de Santos (APS) divulgou sua preocupação em 2022, por meio do levantamento de risco climático e medidas de adaptação para infraestrutura portuária. Foram levantadas ameaças climáticas de maior probabilidade e os riscos estruturais e operacionais aos quais o porto está sujeito. Já atendemos todas as medidas?
 
As pessoas, os portos e aeroportos precisam estar preparados para esse novo universo da realidade, onde as previsões já indicam que estas situações irão ocorrer com maior frequência. Será que estamos realmente preparados, mesmo com o alarde de tantos estudiosos e da mídia?
 
Já imaginaram o Porto de Santos ficar sem operar por 30 dias? E se o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) ficasse interrompido? Já imaginaram o aeroporto de Guarulhos ou Congonhas paralisados? Quais seriam as alternativas? O que seria feito?
 
Quando olhamos para estas situações, sabemos que logisticamente não temos opções e infraestrutura adequadas. O caos se instala e não sabemos a quem interessa ficar inerte.
 
Por que as políticas públicas ficam desprovidas de movimento quando é necessário se movimentar? Por que as políticas públicas não dão sinal de vida e somente agem quando vidas são perdidas?
 
Estamos paralisados, inanimados e desanimados... A mobilização do setor portuário em prol do Rio Grande do Sul é admirável, com inúmeras ações e empresas que estão contribuindo para ajudar aqueles que necessitam. Enquanto isso o Porto de Santos continua sem um aeroporto e o aeroporto de Porto Alegre virou um porto.
 
Até quando defenderemos interesses ao invés de impulsionar novas alternativas que contribuam com o desenvolvimento e que preservem o meio ambiente, os negócios e a vida?
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 

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