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Gestão estratégica território portuário

Fonte: A Tribuna On-line / Flávia Nico*
 
Existindo programa de sustentabilidade e havendo relações de confiança, o território vira um ativo do negócio portuário
 
O senso comum entende gestão do território como assunto de menor importância, restrito à área de sustentabilidade – quando ela existe. Defendo que é aspecto estratégico do negócio portuário e, para que se apresente como uma oportunidade, deve estar no radar do Conselho de Administração da autoridade portuária.
 
Uma boa gestão do território portuário depende de a política de sustentabilidade existir como um programa que articula ações isoladas em relação à cidade-porto dentro de um plano maior, esse sim associado ao planejamento estratégico do negócio. As ações de impacto social devem ser pensadas, planejadas e executadas como parte do propósito do negócio portuário, vinculado diretamente à estratégia do porto. No entanto, o que comumente vemos é uma miríade de ações desconexas, com impactos até relevantes localmente, mas que exigem um esforço tremendo de uma equipe diminuta e que pouco trazem de benefícios para o porto.
 
A gestão do território portuário depende de uma boa relação do porto com a comunidade, dos elos históricos, das relações de confiança. A concepção remete aos distritos italianos, aos arranjos produtivos locais, aos clusters ou ecosistemas... como preferirem chamar. A ideia central é a mesma: uma comunidade portuária é feita de elos seguros que garantem relações de confiança e de trocas do tipo win-win. A mensagem é clara: não dá para passar do estágio de enfrentamento porto-cidade apostando apenas em uma marca nova e uma campanha em redes sociais que informe da preocupação do porto com o território.
 
Finalmente, para produzir um programa de sustentabilidade voltado para a relação cidade-porto pautado na noção de uma comunidade portuária vibrante, a autoridade portuária deve atuar na gestão de riscos. A gestão de riscos é um conjunto de estratégias e práticas que buscam identificar, mitigar e controlar riscos para evitar perdas.
 
A gestão de riscos ajudará a elaborar o programa de sustentabilidade do porto, identificando os pontos sensíveis ou materiais para o porto e proporcionando um melhor conhecimento da comunidade portuária. Mas, se a associação de um programa de sustentabilidade ao planejamento estratégico é algo que uma boa equipe técnica consegue desenvolver, a integração do porto com território precisa ser construída. É neste momento que as oportunidades aparecem!
 
A realização de investimentos na comunidade portuária é vista como uma despesa não prioritária e associada a custos altos. Erro de estratégia: a gestão do porto precisa enxergar o porto como parte da comunidade portuária, do território. Porto como negócio que impacta positivamente no território porque é nele que se situa. O porto que constrói redes porque faz parte de uma comunidade, o porto que participa de negociações com diferentes partes interessadas porque conhece os riscos e oportunidades que trazem ao seu negócio.
 
Existindo um programa de sustentabilidade elaborado a partir do conhecimento dos riscos do negócio e havendo relações de confiança construídas historicamente, o território vira um ativo do negócio portuário. Retomando o argumento, quando a gestão do território portuário é encabeçada pelo CEO da empresa e tratada no âmbito do Conselho de Administração, a relação porto-cidade ganha os devidos contornos e peso estratégico com potencial de se transformar em oportunidades para o negócio portuário.
 
Falaremos mais sobre isso nos próximos artigos, afinal, esse é só o início de nossas conversas. Obrigado pelo seu tempo. E nos vemos em breve!
 
*Flavia Nico Vasconcelos é doutora em Sociologia e especialista em cidades portuárias. Desenvolve soluções de sustentabilidade para que os portos brasileiros e seus operadores implementem a agenda ESG e os ODS da Agenda 2030. Está contribuindo com a Secretaria de Portos/MINFRA, desde 2021, como Coordenadora Geral de Descentralização e Delegações.
 

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