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No aniversário do Porto de Santos, confira entrevista com Anderson Pomini, presidente da APS

Fonte: A Tribuna On-line
 
"Costumamos dizer que 2023 foi o ano dos ajustes”, diz
 
Após um 2023 considerado de “ajustes”, a Autoridade Portuária de Santos (APS) trabalha, agora, para acelerar projetos considerados fundamentais para o crescimento do complexo marítimo, como o aprofundamento do canal de navegação para 16 ou 17 metros. O planejamento da estatal inclui ainda a construção do túnel Santos-Guarujá, o início das obras da Avenida Perimetral da Margem Esquerda e a entrega e conclusão do viaduto sobre a ferrovia na Avenida Mário Covas Júnior. Mas não para por aí. A implantação da terceira pista ligando o Porto ao Planalto também está entre as prioridades, já que ela é vista como a única alternativa para desafogar o Sistema Anchieta-Imigrantes diante da previsão de aumento da movimentação pelo cais santista até 2035. Saiba mais detalhes sobre o futuro do Porto de Santos na entrevista concedida pelo presidente da APS, Anderson Pomini.
 
Segmentos do mercado afirmaram que 2023 foi um ano ‘perdido’ para o Porto de Santos. O que deve ser feito de diferente em 2024? Quais os planos?
 
Costumamos dizer que 2023 foi o “ano dos ajustes”. Era necessário destravar assuntos que estavam com algumas amarras jurídicas e conceituais e obtivemos avanços significativos: a delegação de competências para a APS, que permite à companhia rapidez na gestão do Porto de Santos, com possibilidade de elaborar editais, licitar arrendamentos de instalações portuárias – como está sendo feito com o STS08 –, celebrar e fiscalizar gestão de contratos de arrendamentos, e deliberar sobre planos de investimentos. O túnel Santos-Guarujá já tem contratada a empresa para a elaboração da modelagem.
 
O Parque Valongo é uma área que está sendo totalmente revitalizada depois de décadas de abandono e a Perimetral de Guarujá, depois de 10 anos de sua última intervenção, agora vai contar com recursos de R$ 500 milhões do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
 
Outra obra que também levou uma década para ser retomada é o aprofundamento dos berços dos armazéns 12A ao 21, para que eles fiquem adequados à atual profundidade do canal de navegação, de 15 metros.
 
Temos a pera rodoviária, cujas obras já começaram, viabilizada após acordo com a empresa que está instalada no local da intervenção e que manterá suas atividades em outra área do Porto. É importante ressaltar que, ao mesmo tempo em que todas estas iniciativas estavam em andamento, o Porto de Santos demonstrou resiliência e, graças ao trabalho de todos os envolvidos, da APS, da Praticagem, de terminais portuários, transportadores ferroviários e rodoviários, bateu novos recordes de movimentação, chegando no final do ano a mais de 173 milhões de toneladas, mesmo com o clima que se mostrou adverso em boa parte do período.
 
Para 2024, além de acelerar as necessidades para a construção do túnel Santos-Guarujá – das audiências públicas até a publicação do edital, passando pela aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU) –, temos a necessidade de atender aos anseios do mercado e iniciar o aprofundamento do canal de navegação para 16 metros; dar início ao canteiro de obras de Perimetral da Margem Esquerda e retomar as obras da Perimetral da Margem Direita; entregar o aprofundamento dos berços dos armazéns 12A ao 21; em parceria com a iniciativa privada e com a Prefeitura de Santos, entregar a conclusão do viaduto sobre a ferrovia na Avenida Mário Covas Júnior e as primeiras intervenções do Parque Valongo; e concluir o arrendamento do STS08, dentre outras iniciativas.
 
O que levou a estatal a desistir da construção do megaterminal de contêineres no Saboó, o STS10?
 
Não há uma desistência, mas sim uma revisão. No modelo que foi desenvolvido anteriormente, o STS10 interfere em projetos que estamos desenvolvendo, como a transferência do terminal de cruzeiros para o Centro de Santos. Além disso, parte da área antes prevista é composta pelo atual terminal Ecoporto, cuja prorrogação contratual está em estudo. É preciso, contudo, salientar que a APS está atenta à curva de crescimento da movimentação de contêineres e já providenciou a expansão da BTP, com a prorrogação do arrendamento da área da empresa por mais 20 anos após o término da vigência atual (até 2047). O contrato de arrendamento de área da BTP no Porto de Santos tem prazo original de vencimento em janeiro de 2027. Com a prorrogação, está previsto o adensamento de área em 23,4 mil m2 e a obrigatoriedade de investimentos por parte da arrendatária. Com estas iniciativas e também com a Santos Brasil ampliando seu cais em mais de 220 metros, com aumento da capacidade para 2,4 milhões de TEU/ano, e a DP World investindo cerca de R$ 200 milhões para expansão do seu cais em 200 metros, ampliando a capacidade do terminal em mais 200 mil TEU/ano, o Porto de Santos mantém a plena capacidade de movimentar contêineres, enquanto planeja novas instalações.
 
Além dos contêineres, que estão sempre no radar da companhia, quais outras cargas devem ser priorizadas a curto e médio prazos?
 
As cargas do agronegócio são a vitrine do Porto de Santos e facilitar a chegada delas ao complexo portuário é uma das prioridades. Por isso que há o empenho para a construção da pera ferroviária, por exemplo, e as conversas com as prefeituras locais, concessionária das rodovias, caminhoneiros e autoridades para melhorar a coordenação da chegada das cargas rodoviárias e evitar congestionamentos nas vias, como tem ocorrido em Cubatão e na Alemoa.
 
É claro que esta última iniciativa é um paliativo, sendo imprescindível que o governo do estado viabilize a construção de uma terceira rodovia de acesso à Baixada. Agora, para além das cargas de maior valor econômico e visibilidade, a Autoridade Portuária tem o compromisso social de manter as condições para aquelas que aparecem menos nas estatísticas, mas são igualmente importantes, como o suco de laranja e granéis minerais sólidos. Para isso, a APS visa garantir a disponibilidade de berços públicos no cais.
 
Como está a questão do aprofundamento do canal de acesso ao complexo, uma das principais demandas dos operadores portuários? Serão duas etapas, para 16 e 17 metros?
 
A dragagem de aprofundamento já é objeto de estudo e a APS está finalizando o anteprojeto, o qual vai definir se a profundidade deverá ser primeiramente de 16 metros ou já de 17 metros. A projeção é obter licença de instalação e publicar o edital para as obras neste ano e concluir o aprofundamento no final de 2025.
 
O túnel Santos-Guarujá sai do papel?
 
A construção do túnel será feita por meio de uma parceria público-privada (PPP). A empresa contratada deverá apresentar a modelagem econômica em breve, conforme cronograma estimado pela APS.
 
Como estão as discussões em relação aos acessos terrestres ao Porto de Santos? A terceira pista segue como a melhor alternativa para atender a demanda do cais santista?
 
Não é a melhor alternativa: é a única alternativa. As projeções de demanda de cargas, a expansão portuária e a construção do túnel trarão um volume de tráfego rodoviário que hoje já não é comportado pelo Sistema Anchieta-Imigrantes. Mesmo com a ampliação da malha ferroviária e consequente aumento da participação do transporte por trilhos, os congestionamentos que já são enfrentados a cada feriado prolongado tenderão a aumentar. É premente a necessidade de implantação de uma nova rodovia entre a Capital e o Litoral.
 
Os investimentos para 2024 também incluem a Avenida Perimetral da Margem Esquerda, reforma do cais da Ilha Barnabé, melhorias da Perimetral da Margem Direita e avanços tecnológicos. Como estão esses projetos?
 
Sobre as perimetrais, já citamos nas respostas anteriores. São um foco nosso. A reforma do cais da Ilha Barnabé está em andamento, bem como a viabilização do gerenciamento de tráfego de navios (VTMIS), a viabilização do “gêmeo digital” – um backup de toda a estrutura armazenada nos computadores da APS –; ferramentas de georreferenciamento, dentre outras iniciativas que visam manter o Porto de Santos não somente atualizado com as inovações tecnológicas, mas na vanguarda do avanço tecnológico portuário. A APS tem firmado parcerias com várias startups e já conta com resultados importantes, que foram inclusive premiados internacionalmente, como o Prêmio de Excelência da Indústria Portuária AAPA-CIP.
 
O Parque Valongo começou a sair do papel. Quais os impactos desse projeto no Porto de Santos?
 
É o avanço mais significativo na relação Porto-Cidades, pois resolve o dilema dos armazéns que estavam abandonados, dando à cidade de Santos um novo urbanismo. A participação dos terminais, da Prefeitura, da APS e do Ministério Público demonstra que a união de todos para o bem comum só pode trazer resultados excelentes.
 
O Porto de Santos completa 132 anos hoje. Se traçarmos um histórico, quais os principais avanços que levaram à movimentação significativa verificada atualmente?
 
O Porto de Santos é um orgulho para todos nós, porque não bastaria uma localização privilegiada para mantê-lo como principal Porto do Brasil. Todos os que fazem o Porto de Santos possuem os méritos por fazerem que o complexo portuário santista seja a principal opção de entrada e saída de mercadorias do País. A APS se sente honrada em ser objeto da confiança dos investidores e fará sempre o máximo para cumprir seu objetivo de fazer de Santos o melhor Porto da América Latina.
 

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