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Acessos terrestres ao Porto de Santos – precisamos discutir

Fonte: A Tribuna On-line / Rodrigo Paiva*
 
É preciso garantir absorção da demanda potencial no longo prazo
 
Chegou a hora de discutirmos onde estão os principais gargalos para o crescimento do Porto de Santos. Por décadas, se questionou a capacidade portuária como o principal fator a ser vencido para o crescimento e a eficiência do setor. Diversos estudos foram elaborados, muitas teses defendidas e, naquele momento, certamente um choque de gestão pública e privada era necessário.
 
Desde 1993, a operação privada vem se consolidando e a eficiência dos terminais só aumenta. As diversas concessões realizadas nessas últimas décadas mostram o apetite do investidor, quer seja operador, quer seja industrial, pela solução portuária adequada a seu negócio, garantindo embarques ou desembarques eficientes e armazenagem adequada.
 
Mas chegou a hora de olharmos para os acessos, principalmente os acessos rodoferroviários aos portos brasileiros, e, por conseguinte, ao Porto de Santos. Desde a última versão publicada do Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP), em 2019, até o recente início da discussão pelo Governo Estadual sobre a terceira descida rodoviária a Santos, foi identificada a necessidade de melhoria dos acessos terrestres aos portos.
 
A matriz de transporte de/para Santos é composta basicamente de acessos rodoferroviários, sendo as cargas a granel (soja, milho e fertilizantes, principalmente) com predominância ferroviária e as demais cargas gerais com predominância rodoviária.
 
Uma análise rápida do crescimento da movimentação de cargas no Porto de Santos entre 2014 e 2022 mostra uma taxa média ponderada de 4,8% ao ano, ao passo que as projeções dos instrumentos de planejamento até 2060 são 1,8% ao ano. A demanda pela infraestrutura de Santos tende a crescer acima do esperado, o que irá gerar cada vez mais pressão sob os acessos terrestres.
 
Em uma outra análise breve, desta vez dos dados de declaração de rede de dezembro de 2023 relativos ao acesso ferroviário, evidencia-se que há trechos onde a capacidade utilizada supera 70% e outros acima de 80%. Mantidos os crescimentos de demanda esperados, haverá saturação das capacidades.
 
O acesso rodoviário também sofre com o excesso de demanda. O compartilhamento rodoviário com os municípios do entorno e a demanda em rodovias de acesso geram situações de perda de competitividade e custos logísticos ainda mais elevados a importadores e embarcadores.
 
Realmente, está na hora de uma discussão séria e focada nos acessos terrestres, de forma a garantir que o Porto de Santos seja capaz de absorver sua demanda potencial no longo prazo e se perpetue como principal porto brasileiro.
 
*Rodrigo Paiva, especialista em infraestrutura e consultor portuário
 

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