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Presidente da Sindisan faz balanço sobre o transporte de cargas no Porto de Santos

Fonte: A Tribuna On-line
 
André Luís Neiva destaca Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips) como avanço na infraestrutura do porto
 
Responsável por ser uma das molas propulsoras da economia, o transporte de cargas faz parte do cotidiano do Porto de Santos. Há avanços notáveis, como também existem ainda conquistas sendo perseguidas. Para falar sobre o quadro atual, A Tribuna conversou com André Luís Neiva, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan). Fundado em 1937, o sindicato patronal tem em sua base territorial 11 municípios da Baixada Santista e do Litoral Sul. O quadro é composto por 148 empresas que detêm mais de 6.500 placas veiculares registradas na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O Sindisan está ligado à Federação das Empresas de Transporte do Estado de São Paulo (Fetcesp), à Associação Nacional das Empresas de Transporte (NTC) e à Confederação Nacional do Transporte (CNT).
 
Qual o balanço que você faz sobre o transporte comercial de carga em 2023, em especial para o Porto de Santos? Quais conquistas e principais dificuldades apresentadas?
 
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) realizou uma pesquisa onde buscou acompanhar a confiança do empresário do segmento em relação ao cenário econômico e à sua atividade empresarial. O resultado apontou que, em uma escala de avaliação até 100%, o percentual foi de 39,9%. Ou seja, 60% do setor não estava confiante. Os fatores apontados foram: alto valor dos caminhões, crédito escasso, taxa de juros elevada, incerteza com relação à política de preços dos combustíveis e falta de incentivos às micros e pequenas empresas, entre outras questões.
 
E o quadro aqui na Baixada Santista?
 
Aqui na Baixada Santista o relato não foi diferente. Para as empresas de nossa base, foi um ano em que ocorreram momentos de picos de cargas e outros de escassez. O aumento do volume de cargas se deu principalmente por conta das exportações do agronegócio, transporte este realizado por empresas de fora da base e por ferrovias. Outro fator que gerou um impacto extremamente negativo e de grandes prejuízos, e continua impactando, foi a falta de acessos ao Porto. O maior Porto do Hemisfério Sul só tem uma ligação Planalto-Baixada, construída na década de 1940, para escoar suas cargas. Depende também de um único acesso ao complexo portuário, que conflita com o único acesso ao Distrito Industrial da Alemoa. O resultado disso acaba sendo congestionamento, perda de agendamentos, baixa produtividade e a consequente elevação do Custo Brasil.
 
No que a infraestrutura do Porto de Santos avançou para quem transporta cargas?
 
Dentre os avanços na infraestrutura do Porto, apontamos o início da Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips). O setor rodoviário entende e apoia o desenvolvimento dos demais modais. As projeções são excelentes e esse importante modal necessita de grandes e permanentes investimentos. No rodoviário, foram feitos reparos no viário. Contamos com a conclusão das perimetrais, a construção de um segundo acesso rodoviário ao Porto, a manutenção da dragagem do canal e o início da obra da ligação seca Santos-Guarujá.
 
Quais as atuais necessidades dos profissionais, também referentes a quem trabalha transportando cargas para o complexo portuário santista?
 
Infraestrutura é o item mais escasso, começando pelos acessos à cidade e ao Porto, terminais de apoio, áreas para estacionamento de caminhões e horários limitados em alguns Depots (depósitos de contêineres vazios). Necessitamos de um Porto que trabalhe 24 horas de fato, com uma maior e melhor distribuição do fluxo de veículos.
 
Como está a atual política de frete? No que ela melhorou ou piorou? No que tem de ser mudada?
 
A política de frete é ditada pelo mercado. O que ocorre é que alguns players, com grande poder, acabam balizando os preços para baixo, subsidiando com a oferta de serviços agregados e dando descontos para gerar escala. Atualmente, existem armadores oferecendo o serviço completo, verticali-zação na veia. Fica uma pergunta: quantos armadores existem hoje no mercado? Falta-nos isonomia. O Reporto deveria atender transportadoras, Redex (Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação) e Depots.
 
A alta no preço dos combustíveis, em especial o diesel, usado pelos caminhões, certamente tem causado muitos problemas. O que a categoria e o sindicato têm conseguido e o que pretendem fazer para, pelo menos, minimizar tudo isso no dia a dia?
 
A alta no preço dos combustíveis prejudicou demais o setor e, ao mesmo tempo, trouxe amadurecimento ao empresário que, de forma célere, apurou os impactos em seus custos e fez o devido repasse aos embarcadores. O Sindisan e as demais entidades do setor oferecem estudos e palestras para os empresários entenderem e calcularem seus custos, ferramenta vital para o sucesso e perenidade das empresas. Dentre os cursos e seminários, temos o Conet Intersindical, Conselho Nacional de Estudos em Transporte, Custos, Tarifas e Mercado, promovido pela NTC.
 
Para 2024, quais os desafios que você projeta para o setor? Qual o mais complicado e por quê?
 
Dentre os desafios, temos: início da construção de uma nova ligação Planalto-Baixada, preferencialmente fora do eixo do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), já saturado; a modulação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5322, para trazer segurança jurídica, manutenção dos postos de trabalho e novos investimentos; permitir que os setores patronal e laboral possam, por intermédio de convenção coletiva, criar alternativas para o cumprimento da jornada de forma segura e o efetivo descanso em seus lares; a criação de um regramento para o bom atendimento dos terminais portuários. Nos falta transparência na disponibilização de janela para entrega de contêineres, deadlines cada vez mais apertados e, além disso, falta de espaço para armazenar as cargas. Esperamos e vamos trabalhar por um 2024 mais estável e próspero. Precisamos muito de segurança jurídica, fundamental para gerar investimentos no setor e consequente manutenção e geração de empregos. Agradecemos todo o apoio do setor laboral bem como dos profissionais autônomos que também lutam pelo setor.
 

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