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“Temos déficit de mão de obra capacitada na área portuária”, afirma professor de Santos

Fonte: A Tribuna On-line
 
Julio Cesar da Silva Aquino é coordenador do curso de Portos da Etec Dona Escolástica Rosa
 
A qualificação é um elemento essencial para quem vai exercer funções no ramo portuário. E não importa a idade. Professor e coordenador do curso de Portos da Escola Técnica Estadual (Etec) Dona Escolástica Rosa, em sua classe descentralizada na Escola Estadual Zulmira Campos, no Castelo, em Santos, Julio Cesar da Silva Aquino falou para A Tribuna sobre o interesse e a preparação de alunos de todas as idades no curso de Portos.
 
No que consiste o curso técnico de Portos da Etec Escolástica Rosa? Ele existe há quanto tempo? Qual o público-alvo e a duração?
 
O curso técnico em Portos é direcionado para as operações portuárias. O intuito é fazer com que os alunos tenham conhecimento sobre as operações de embarque e descarga do Porto, além de capacitar os alunos para que suas chances de empregabilidade aumentem, visto que as oportunidades existem. Porém, temos déficit de mão de obra capacitada, fazendo com que os terminais tenham que treinar os trabalhadores e os qualificar internamente. O curso já existe desde 2012, o público-alvo são pessoas que têm o desejo de ingressar na área portuária, tanto no setor administrativo quanto no operacional. É um curso bem específico e tem duração de três semestres (um ano e meio).
 
Há muita procura? São quantas turmas e alunos? Qual faixa etária?
 
Sim, as pessoas estão começando entender que Santos detém o maior porto do Hemisfério Sul e estão buscando se especializar para aumentar as chances de ingressar em um dos setores que tem a maior oferta de empregos e melhores salários. Quanto às turmas, hoje temos três, divididas em três módulos, com 98 alunos inscritos. A faixa etária vai de 16 a 42 anos, mas é livre para todas as idades. Tanto os mais jovens quanto os mais experientes estão antenados às mudanças do mercado e se especializando nessa área tão importante para Santos e a economia do Brasil.
 
Qual é o perfil dos alunos que procuram o curso de Portos? O que eles buscam em termos de futuro profissional? Quais os cargos geralmente buscados?
 
O perfil dos alunos geralmente é de pessoas que já estão no mercado de trabalho, porém exercendo atividades alheias às operações portuárias. São trabalhadores que estão no setor comercial, ou até mesmo trabalhadores autônomos. Esses estudantes buscam empregabilidade no Porto e já entenderam que existe oferta de emprego, porém a especialização é fundamental. Quando eles entram no curso, percebem que existe um leque enorme de possibilidades onde eles podem ingressar na área, como, por exemplo, operadores de conjunto transportador, operadores de empilhadeiras, conferente de carga, vistoriadores, assistentes administrativos no setor portuário e outras funções.
 
Como são passados os detalhes de um universo tão específico?
 
No período após o fim das restrições da pandemia, a nossa maior dificuldade é conseguir que as empresas voltem a abrir as portas para visitas técnicas dos estudantes, para que eles vejam a realidade daquilo que mostramos em sala de aula. Apesar de todos os recursos técnicos, digitais e de imagens disponíveis, é imprescindível que eles tenham esse contato dentro dos terminais. É muito diferente ver o tamanho de um STS (Ship to Shore) no slide em sala de aula do que ver ao vivo, a poucos metros de distância, o tamanho colossal que tem esse equipamento. Foi um dos motivos que me levou a criar a maquete ou mesa tática, como eu gosto de referir, pois ali consigo transmitir um pouco da realidade e dos setores espalhados em um porto estruturado.
 
Quando os alunos começam a tomar conhecimento do universo portuário e de suas possibilidades, como reagem?
 
Em sala de aula, costumo muito ouvir dos alunos que (souberam desse universo) por verem conhecidos que trabalham no Porto e ter uma certa condição financeira diferenciada, e questões relacionadas a benefícios e planos de carreira, pois no setor portuário a média salarial é superior ao praticado em outros segmentos, como no comercio varejista, por exemplo.
 
Como surgiu a ideia do projeto de se fazer a maquete de um terminal portuário? Qual foi o objetivo? Como foi a participação dos alunos?
 
A ideia surgiu a partir da dificuldade de se conseguir visitas técnicas aos terminais estruturados após o início da pandemia. Como não posso levar os alunos aos terminais, decidi criar o nosso próprio terminal e ali trabalhar dentro da mesa tática, mostrar cada função existente no Porto, suas dificuldades e habilidades requeridas. Fiz um desafio aos alunos para que, dentro daquilo que estudamos, criassem uma planta de um terminal com todos os setores de um porto estruturado, como cais, berço, quadras, posição de guindastes, máquinas, funções, cargos, salários etc. Até mesmo quais cursos uma pessoa deve fazer para ser habilitado a operar uma empilhadeira stacker, por exemplo. O grupo vencedor passou a planta da folha para a mesa tática, metade da sala ajudou a fazer a maquete e a outra metade se encarregou das pesquisas referentes aos equipamentos e cargos citados acima. Mas, no final, todos acabaram botando a mão na massa literalmente.
 
Há outros projetos em curso?
 
Sim, o meu projeto é criar meios mais lúdicos de aprendizado aos alunos. A intenção é criar uma mesa tática para cada um dos três módulos transformando salas convencionais em salas maker, totalmente voltadas a operação portuária, mas que também possam ser usadas pelos alunos dos cursos de logística e Administração dentro de um componente específico.
 
Voltando a falar em mercado profissional, como o senhor vê o curso nessa formação? Há muitos alunos que passaram pelo curso e que, posteriormente, seguiram os estudos e, hoje, atuam no universo portuário?
 
Com certeza. Diversos alunos que terminaram o curso conseguiram colocação no setor portuário, e está aumentando nosso número de estudantes que estão sendo encaminhados desde o primeiro módulo para trabalharem como jovens aprendizes com empresas parceiras, como a CLI, por exemplo, que dentro do primeiro módulo já contratou quatro jovens e mais três que estão no segundo módulo.
 

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