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'O Porto de Santos tem um sistema anticorrupção muito eficiente', diz superintendente

Fonte: A Tribuna On-line
 
Sidnei Aranha fala, em entrevista, sobre este e outros assuntos do maior porto da América Latina
 
O advogado Sidnei Aranha assumiu a Superintendência de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho da Autoridade Portuária de Santos (APS), em maio deste ano, com o objetivo de avançar nas pautas ESG (Ambiental, Social e Governança, da sigla em inglês), especialmente no eixo ambiental. Aranha tem experiência na área. Antes de assumir o cargo na APS foi secretário municipal de Meio Ambiente de Guarujá por seis anos. Ele afirma que a Autoridade Portuária cumpre todas as legislações ambientais impostas pelos órgãos fiscalizadores, mas tem projetos para ir além disso, que devem ser colocados em prática a partir do próximo ano. Leia a seguir trechos da entrevista dada para A Tribuna.
 
A dragagem do canal do Porto de Santos é fundamental à navegação, mas parte da população ainda a enxerga como um trabalho que pode causar danos ambientais. O que a APS faz para reverter isso?
 
Temos que ficar de forma contínua esclarecendo a população, porque há muitos mitos sobre a dragagem. Por isso, lançamos uma cartilha dizendo o que é a dragagem, por que ela é importante e quais os controles ambientais que fazemos no licenciamento. Só podemos dragar dentro de limites colocados pelo Ibama.
 
Quando falamos em descarbo-nização do Porto, mudança da matriz energética, o que seria mais adequado hoje?
 
Não tem um combustível (adequado), mas inúmeras oportunidades. Há ocasiões em que você pode usar a energia eólica, a solar ou mesmo o hidrogênio. É a mesma questão hoje na infraestrutura de saneamento: não existe mais você construir um grande reservatório para abastecer todas as cidades. Existe uma multiplicidade de pequenas soluções, baseadas na natureza. Então, você pode transformar a Usina de Itatinga (em Bertioga, que abastece o Porto com energia elétrica) em hidrogênio, pode usar os nossos oito quilômetros quadrados da poligonal do Porto com painel solar, pode fazer offshore junto com os municípios no programa de especialização marítima com a eólica. Então você vai ter inúmeras soluções para atender a alta demanda do Porto por eletrificação. A Tribuna deu uma matéria fantástica essa semana sobre a necessidade de eletrificação dos berços. Mas quem vai suprir essa demanda? Não pode cair na rede tradicional de alto custo. É chamar a cidade e falar assim: sou demandante, eu compro, só preciso que você produza. E como uma cidade pode produzir? Discutindo com cada morador para colocar painel solar na sua casa. A Alemanha fez isso e deu certo.
 
Qual o papel da Usina de Itatinga para abastecer o Porto?
 
Temos 54 terminais, com a demanda atual e toda a expansão nas cidades, ela não produz energia elétrica suficiente para atender, mas temos soluções baseadas na natureza, temos infraestrutura verde no entorno do Porto que podemos negociar, fazer uma troca. É como a água. O Porto capta e sobra água. E em Guarujá está faltando. Por que não discutimos isso? Já começou a ser feito.
 
Como são trabalhados os impactos ambientais que envolvem a atividade portuária?
 
A questão ambiental está solucionada. Nós cumprimos aquilo que o Ibama e a Cetesb falam. Quando vamos licenciar algo, cumprimos as exigências. Temos no Brasil uma Política Nacional de Meio Ambiente feita em 1981, mas que é uma lei vanguardista, que disciplinou os cuidados ambientais. A gente controla a biota aquática, a fauna, os animais marinhos. Fazemos controle do ar, da dispersão. As licenças ambientais nos obrigam a fazer o controle ambiental durante 24 horas por dia. Então, toda essa parte de controle ambiental de água, terra e ar é monitorada pelos nossos programas ambientais.
 
Mas cumprir a legislação é obrigação. O que a APS faz para ir além?
 
Estamos com projeto para usar os grãos que recolhemos na varrição das perimetrais em biodigestão. Hoje esses grãos estão indo para compostagem em Campinas. Entendemos que a gente pode usar para montar uma usina de biodigestão para gerar energia elétrica. É inovador, nenhum órgão ambiental pediu. Estamos estudando, porque são mais de 100 toneladas de grãos por mês. Isso é só uma parte, se juntar com todos os terminais, passa de 250 toneladas. É uma biomassa bastante significativa para gerar energia. Produziria energia para o Porto e o que sobrasse venderíamos, uma fonte de renda alternativa para o Porto. Outra questão analisada é o aumento da capacidade de produção de energia solar. Olha a quantidade de telhados que temos, de armazéns. Além disso, usamos água de reúso, pretendemos fazer hidrogênio verde na Usina de Itatinga e trocar, no próximo contrato, nossa frota de carros, que é alugada, por veículos elétricos.
 
Em relação ao sistema de governança, em que situação está a Autoridade Portuária de Santos?
 
A governança sofreu uma revolução no Brasil nos últimos 10 anos. E o Porto de Santos é campeão nisso. Estamos preparando nosso Relatório de Sustentabilidade (2022), somos o primeiro porto do Brasil em governança, equiparada à da Petrobras. Temos conselhos, auditorias. Temos alta pontuação em índices de governança. Temos um plano de metas, uma matriz de risco e 100% de transparência. E posso falar que o Porto de Santos tem um sistema anticorrupção muito eficiente. Temos ouvidoria, compliance, corregedoria, comissão de ética, auditorias internas... E me parece um equívoco, embora eu seja cargo comissionado, achar que existe número grandioso de cargos comissionados aqui. Temos 814 funcionários, você vai ter uns 18 cargos comissionados. Os gerentes são de carreira.
 
E como mitigar os impactos do Porto nas comunidades do entorno?
 
Recentemente, recebemos na APS professores da USP e da Uninove para discutir o Atlas da Poluição. Porque o caminhão que entra e que sai, deixa material pesado e particulado, não só na poligonal, como em todo entorno. Fizemos essa pesquisa em Guarujá, constatamos isso, e o presidente (Anderson) Pomini não colocou debaixo do tapete não. Pretendemos fazer essa pesquisa também em Santos, porque nós precisamos entender qual é o impacto dessa movimentação de carga. É muito bonito a gente falar que o Porto movimenta 30% da balança comercial brasileira, é verdade, mas temos que cuidar também do cara que está ao lado do terminal.
 
Como é a relação com os colaboradores? É trabalhada a diversidade na APS?
 
O que precisa ser mudado é que é uma empresa que só tem 16% de mulheres e 84% de homens. Estamos trabalhando na diversidade. É hoje uma empresa branca e de homens de 31 a 50 anos. São 69% de brancos, 20% de pardos, 4% de negros e 3% de amarelos. É trabalhar para mudar. Mas a empresa é extraordinária para trabalhar, faz parte da história e do desenvolvimento do Brasil.
 

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