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Abastecimento ‘limpo’ pode atrair mais cruzeiros a Santos

Fonte: A Tribuna On-line
 
GNL e energia elétrica são alternativas procuradas por empresas, mas portos brasileiros precisam se preparar
 
Aumentar o tempo da temporada de cruzeiros no País é uma meta perseguida pelas companhias há tempos, de modo a que, a partir de um determinado momento, preencha todo o ano. Para isso, a presença de mais navios é necessária. E um fator que pode ajudar a trazer novas embarcações é ampliar as possibilidades de abastecimento dos transatlânticos, com combustível limpo e a energia elétrica. Esse é um tema relevante para as empresas atuam nos portos brasileiros, incluindo o de Santos.
 
“Vamos reduzir em 40% as emissões de carbono até 2030. E 100% até 2050. Esse é um compromisso sério e de muita responsabilidade, mas a gente também depende dos governos com relação ao combustível”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil), Marco Ferraz.
 
O combustível, no caso, é o Gás Natural Liquefeito (GNL). “Para se ter uma ideia, não há nenhum porto na América do Sul que esteja pronto para abastecer os navios. Estamos conversando com o Governo Federal, com o Ministério de Portos e com os portos para que, no menor espaço de tempo, possa ter, porque existem navios que queriam vir para cá e não estão vindo por falta do gás natural”, explica Ferraz.
 
Empresas
 
A Costa Cruzeiros possui transatlânticos movidos a GNL, casos do Costa Toscana e Costa Smeralda, ainda distantes dos mares nacionais. “Fomos a primeira companhia a investir em Gás Natural Liquefeito, hoje considerado a energia mais limpa que existe. Estamos lidando com o que é o futuro”, afirma o presidente Dario Rustico.
 
A MSC Cruzeiros também está nesse caminho. “Em junho, quando inauguramos o MSC Euribia, no norte da Europa, realizamos o primeiro cruzeiro de sete noites com emissões líquidas zero de gases poluentes, utilizando GNL. Fizemos isso para demonstrar para a comunidade internacional que é possível zerar as emissões já, agora. Mas, infelizmente, esse combustível não está disponível em escala industrial. Tivemos que encomendar lote exclusivo para essa viagem”, conta o presidente Adrian Ursilli. “Outras tecnologias, como o hidrogênio, já estão no nosso radar, para que possamos construir navios com esse novo combustível”, emenda.
 
O presidente da Clia Brasil também lista outras alterações ligadas à economia de combustível. “Tudo está sendo discutido a fundo: mudança de casco do navio, da tinta do casco, microbolhas embaixo do casco para o navio escorregar melhor e diminuir velocidade. Quando você reduz velocidade, você pode afetar os roteiros. Então até isso está sendo tratado, ou seja, até onde os navios chegam: se tem que ficar sete noites, ele não pode ir tão longe mais porque não vai poder andar 22, 24 nós (40,7 a 44,4 km/h) e vai andar 12, 14 (22,2 a 25,9 km/h)”, detalha.
 
Energia elétrica
 
O mesmo desafio acontece no caso da energia elétrica, algo que também interessa muito às companhias. “Nenhum porto da América do Sul tem energia elétrica. Caso tivesse, o navio poderia ligar e desligar na energia local, não gerando nenhuma emissão enquanto estiver atracado. Também estamos conversando com todos os envolvidos e tentando trazer para Santos”, diz Ferraz.
 
Para ele, o futuro terminal de cruzeiros que está previsto no Valongo precisa ter energia elétrica nos três berços de atracação. “A gente já colocou isso como uma necessidade. Existe uma transformação no mercado, mas a gente enxerga que o caminho é esse, tem que ser assim. Precisamos que os governos nos ajudem nessa questão de infraestrutura também”, reforça.
 
Diversificar matriz
 
A Autoridade Portuária de Santos (APS) informou, em nota, que possui um projeto de diversificação da matriz energética do Porto de Santos. Ele visa descarbonizar as operações portuárias e incentivar o uso de combustíveis renováveis e verdes pelos navios, embarcações e veículos que utilizam e operam no Porto de Santos.
 
Segundo a APS, o escopo do projeto contempla, primeiro, a produção e distribuição de hidrogênio verde, a partir da energia da Usina de Itatinga, e com água de reúso da própria APS; a eletrificação do cais para fornecimento de energia elétrica para os navios e embarcações (Cold Ironing); a implantação de geradores de energia solar (placas solares); e a implantação de energia eólica off-shore.
 
O projeto conceitual está pronto e foi aprovado pela diretoria da APS em setembro deste ano. Atualmente, a APS segue elaborando os estudos e documentação necessária para contratação de consultoria para elaboração do projeto básico, bem como da modelagem do projeto de parceria público-privada que balizará a contratação. Os prazos estimados são que em junho de 2024 seja contratada a consultoria e a expectativa é que o edital da PPP seja publicado em março de 2025.
 
Busca de recursos
 
O presidente da APS, Anderson Pomini, esteve em Brasília na semana passada, onde, em audiência com a Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, solicitou apoio para o projeto de produção de hidrogênio verde no Porto de Santos. Para este projeto, a APS pretende concorrer em editais do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
 
Também procurado sobre os temas, o Ministério de Portos e Aeroportos não respondeu até o fechamento da reportagem. O Concais, por sua vez, não informou nem confirmou quaisquer detalhes sobre o projeto que envolve mudança do terminal de passageiros para o Valongo.
 

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