Artigos e Entrevistas

A forma de gelo!

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
Podemos dizer que esta aberta a temporada de desculpas e críticas aos modelos antigos ou aos atuais propostos
 
Tive a oportunidade de visitar nesta semana o Complexo Portuário de Itajaí e Navegantes, em Santa Catarina. De um lado, em Navegantes, um Terminal de Uso Privado (TUP), que é uma instalação localizada fora da área do porto organizado, construída e explorada por entidade privada para movimentação e/ou armazenamento de cargas destinadas ou provenientes do transporte aquaviário, com autorização da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Do outro lado, um porto público em Itajaí.
 
Em Navegantes, ficou clara a produtividade de um terminal extremamente organizado, com projeções de crescimento em sua movimentação e nos seus investimentos. Já em Itajaí, um terminal abandonado por um operador que lá não se encontra mais. É claro que os engenheiros de obra pronta devem pensar em iniciar o debate entre o que é mais oportuno ou estratégico, a privatização ou não dos portos. Ocorre que, diante da situação pontual daquela localidade, o que podemos observar é a improdutividade e a sinuca de bico em que a gestão do porto público se encontra hoje, tentando um contrato de transição e pretendendo a concessão da área no menor espaço de tempo possível.
 
Enquanto isso, a demanda cresce e o porto privado localizado em Navegantes alcança seu recorde de movimentação histórico no primeiro semestre de 2023. Como já diziam muitos, enquanto uns choram, os outros vendem lenços. Qual seria o modelo ideal? Gestão pública? Gestão privada? Aumentar a demanda? O porto é nosso? O porto é deles? Certo mesmo é afirmar que o modelo ideal em qualquer universo de negócios é aquele que gera resultados. Na situação em que se encontra o Complexo Portuário de Itajaí e Navegantes, isso é muito claro. Ou melhor, transparente igual água límpida.
 
Em um mundo tão polarizado, é normal estampar qualquer pessoa como partidária, uma vez que não concorde com suas ideias. Rotineiramente nos defrontamos com muitos rotulando os outros por simplesmente não concordarem com seus pensamentos em vez de debaterem em alto nível. Afinal, ideias deveriam ser respeitadas e discutidas com fundamentos técnicos. O principal fundamento técnico de qualquer negócio que aprendi na minha vida corporativa se chama resultado.
 
Podemos dizer que está aberta a temporada de desculpas e críticas aos modelos antigos ou os atuais que estão sendo propostos. E ouvi em Itajaí que Santos iria destinar carga para lá. Será? Alguém ouviu falar que Santos está com carga excedente ao ponto de desviar para Itajaí?
 
Enquanto isso, o certo é que conseguimos o primeiro terminal fantasma do Brasil. Não falo de um local que opera sem nenhum trabalhador portuário, como Roterdã, mas sim aquele que opera sem nenhuma carga, ou quase nenhuma, em área tão nobre. Uma visão triste para qualquer liderança do setor portuário e que irá afetar toda a cadeia produtiva. Serviços fundamentais como a dragagem e aumento da bacia de evolução ficam como secundários, apesar de tamanha importância.
 
Seja qual for a direção da política pública portuária para aquela localidade, precisamos deixar claro que o modelo experimentado até agora não funcionou. O resultado é um terminal vazio e com o último BID (preço que um comprador está disposto a pagar por um ativo) que deu deserto. Ou seja, sem empresas participando. Por enquanto, ficamos com duas palavras que assombram o local: fantasma e deserto. Incrível como, nos negócios portuários do Brasil, todos querem tirar proveito do gelo, mas ninguém quer encher a forminha. Ficamos todos sem gelo, rodeados de fantasmas e no meio do deserto.

*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 

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