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As energias renováveis começam a chegar na prática aos portos brasileiros

Fonte: BE News / Angelino Caputo*
 
Causou muita satisfação no mundo ESG e tecnológico, o recente anúncio da DP World sobre a intensificação na adoção de energia renovável no Porto de Santos, com o projeto que visa a substituição de óleo diesel por energia elétrica nos seus RTGs (Rubber-Tyred Gantry Crane), que são aqueles guindastes destinados à movimentação dos contêineres no pátio do terminal.
 
Seguindo uma estratégia global da companhia para alcançar a neutralidade de carbono até 2040, a DP World Santos prevê investimentos de mais de R$ 80 milhões até o final do próximo ano, para eletrificar um total de 22 RTGs atualmente movidos a diesel, sendo que os primeiros quatro já estarão prontos ainda em 2023.
 
Mas isso não é uma tarefa tão fácil como parece. E um projeto bem sofisticado deve ser desenvolvido para a troca da tecnologia de propulsão dos guindastes. A princípio, os RTGs eletrificados podem ter capacidades de carga semelhantes aos movidos a diesel. Essa capacidade é determinada principalmente pelo projeto da estrutura e do mecanismo de elevação, em vez do mecanismo de propulsão em si.
 
No entanto, a eletrificação envolve a instalação de motores elétricos e sistemas de armazenamento de energia, como baterias e/ou sistemas de cabos elétricos, para fornecer a energia necessária para operação. Essas soluções permitem que os RTGs operem de forma mais limpa e silenciosa, reduzindo a emissão de gases de escape e os ruídos na operação. 
 
A solução apresenta maior eficiência energética, pois possibilita a recuperação de energia regenerativa durante as operações de levantamento e descida de contêineres. Além disso, os custos operacionais e de manutenção podem ser reduzidos a longo prazo, já que a propulsão elétrica tende a ser mais simples e menos desgastante do que a propulsão a diesel.
 
Pelo que foi divulgado, a alimentação dos sistemas elétricos dos RTGs da DP World em Santos será feita por meio de um sistema de cabeamento aéreo, semelhante ao que alimenta ônibus elétricos, e a previsão é que o consumo de diesel no terminal seja reduzido em até 60% após a implantação do projeto.
 
Um outro desafio, aparentemente ainda não contemplado nesse projeto, seria a eletrificação dos portêineres, que são aqueles enormes guindastes bem característicos de um terminal de contêineres, cuja função é carregar e descarregar essas caixas metálicas dos navios.
 
De forma similar aos RTGs elétricos, os portêineres elétricos também possuem uma operação bem mais silenciosa e não emitem poluentes, além de possuírem menor custo de manutenção, pelo fato de os motores elétricos terem menos peças móveis que os movidos a combustão.
 
Os portêineres a diesel são famosos por sua potência e capacidade de lidar com cargas muito pesadas. Assim, a substituição dos equipamentos a diesel por elétricos passa por uma análise e por um projeto rigoroso que considere a capacidade de carga requerida.
 
Enquanto já existem muitos portêineres elétricos projetados para terminais de médio porte e para áreas com restrições de espaço, os líderes mundiais no fornecimento dos equipamentos gigantes nesse seguimento (Kalmar, Konecranes, Liebherr, Sany e ZPMC) oferecem tanto projetos de conversão de equipamentos a diesel para elétricos como também equipamentos novos totalmente eletrificados.
 
Vale lembrar que a conversão geralmente envolve a substituição do motor a diesel por um motor elétrico e a instalação de um sistema de armazenamento de energia, como baterias, além da adaptação do sistema de controle e acionamento. Assim, nem todos os portêineres a diesel podem ser facilmente convertidos para elétricos.  
 
A viabilidade da conversão depende de vários fatores, como a estrutura, o design do portêiner, a disponibilidade de espaço para a instalação dos componentes elétricos e a capacidade da infraestrutura local para fornecer energia elétrica adequada.
 
Outro fator importante é o financeiro, pois os investimentos necessários para a conversão podem ser significativos em termos de tempo e custos. Por isso, sempre é necessário consultar especialistas e fornecedores dos equipamentos antes de se decidir por um projeto de conversão.
 
O importante é que a discussão chegou para valer. Saiu do campo das intenções e o exemplo da DP World Santos é digno de aplausos das nossas comunidades ESG e Tecnologia.
 
*Angelino Caputo, diretor-executivo da ABTRA e presidente do conselho do Brasil Tech Export
 

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