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Enfim, sonhos que parecem sair do papel

Fonte: A Tribuna On-line / Marcelo Neri*
 
Na estruturação do mercado de operações portuárias, transporte e turismo, é fato que a falta de planejamento direcionado e de zoneamento adequado das áreas portuárias desempenhou ao longo de décadas um papel significativo na ausência de oportunidades atrativas para investidores no Porto de Santos e no Centro da Cidade. Esse processo histórico de desenvolvimento desorganizado resultou em uma distribuição irregular das áreas portuárias, bem como em uma ocupação desordenada das regiões adjacentes.
 
A estratégia para o Porto de Santos, como na maioria dos portos brasileiros, foi a concentração excessiva de atividades portuárias em determinadas áreas e a ausência de interação com a cidade, o que pode ter criado uma imagem estigmatizada do Porto, associada apenas a operações e comércio, dificultando a implantação de projetos e a atração de investimentos para atividades turísticas. A falta de diversificação e a ausência de uma estratégia abrangente de crescimento podem ter limitado as chances de investimento neste setor.
 
O conceito basilar deveria ser sempre o seguinte: onde estão o transporte e sua infraestrutura, deveriam também estar um melhor planejamento e uma plena execução na área de turismo. Considere o inverso como verdadeiro. Partindo desse princípio, em visitas recentes que fiz a Tel Aviv e Buenos Aires para participar de eventos e discussões sobre o setor portuário, com ênfase em transporte aquaviário, logística, inovação e tecnologia, vivi um estado de indignação e, ao mesmo tempo, euforia.
 
A indignação vem quando faço a inevitável comparação com o que ainda nos falta no maior porto do Hemisfério Sul e percebo, por exemplo, o que ocorre quando vamos à Argentina e desfrutamos de Puerto Madero, onde há um agradável ambiente turístico de boas acomodações e a integração Porto-Cidade. Ou, ainda, quando passamos por Tel Aviv e notamos o que poderíamos obter para o público e privado, dentro do Porto, com um parque tecnológico e acadêmico. Em Israel, há busca constante por aceleradores de inovação, em um país que não se apequena diante de seu tamanho e idade, rugindo numa batalha constante, com vontade política e capacidade de execução na busca pelo novo, cada vez mais mostrando ao mundo como devemos desenvolver uma mentalidade de crescimento por meio da melhoria contínua via tecnologia de ponta.
 
Tendo a oportunidade de ver de perto as melhores práticas do turismo sendo corretamente mescladas à tecnologia e à infraestrutura de transportes, condição que deveria ser mandatória nos processos públicos e privados, veio também o sentimento de euforia. Ele é resultado de recentes percepções do que possa ser um momento único que estamos vivendo no Porto de Santos. Parece que finalmente temos saindo do papel e vindo à tona o tão sonhado túnel Santos-Guarujá, um amplo pacote de melhorias para o Centro da Cidade e o não menos esperado projeto Parque Valongo, que pode vir a contemplar também um parque tecnológico para o Porto.
 
A sincronicidade e a sinergia de oportunidades podem vir a tirar do papel projetos sonhados há tempos, formando o conhecido tripé de sucesso das nações desenvolvidas, com mundos acadêmico, privado e público em um mesmo ambiente de produção de riqueza. Hoje, temos várias forças trabalhando com uma mesma agenda, como Ministério de Portos e Aeroportos, Prefeitura, Governo do Estado, mídia local, deputados da região, associações e entidades do setor privado.
 
Todos com interesses voltados para o bem comum de uma melhor integração do Porto com a Cidade, modernizando o aparelho turístico portuário e apostando em uma visão mais holística, indo além da região e olhando para o Brasil e o resto do mundo no momento em que se traz e se executa um projeto acadêmico e de centro de tecnologia no maior Porto da América do Sul - quem sabe, com possíveis parcerias com entidades internacionais de respeito.
 
Assim, de uma vez por todas, a infraestrutura de transporte de cargas e de turismo e os setores acadêmico e tecnológico poderão dar ao Porto e a Santos o que ambos merecem: um presente em forma de modernidade, entretenimento e credibilidade para seus habitantes e seus visitantes. Parece-me que a hora é essa e temos tudo para que Porto e Cidade finalmente sejam agraciados com merecidas e necessárias melhorias de integração.
 
*Marcelo Neri é presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar)
 

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