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A torrada sempre cai com a manteiga para baixo

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
A Lei de Murphy, a Matemática, a Física e o Porto de Santos
 
Edward Aloysius Murphy Jr. ficou conhecido no mundo inteiro por uma simples frase: se algo pode dar errado, dará. Apesar de parecer só um mito bem-humorado que assombra os azarados, o preceito tem uma explicação matemática por trás. Na verdade, diversas teorias que fazem parte da famosa Lei de Murphy têm um método científico escondido.
 
Na parte matemática: não é que tudo dê errado sempre, mas vamos combinar que quanto mais tempo uma tarefa durar, maiores se tornam as chances de algum contratempo acontecer. E isso não tem nada de pessimismo, basta pensarmos estatisticamente. Será que muitos têm a impressão de que aquilo que é necessário ser resolvido no Porto nunca é solucionado e sempre existem contratempos que impedem a solução?
 
A ciência por trás da Lei de Murphy já inspirou uma série de artigos explorando essa relação. Um dos nomes mais conhecidos nessa tarefa é Robert Matthews, um físico britânico. A história da torrada é explicada por ele de maneira simples, assim como a tese de que a outra fila é sempre mais rápida que a sua. Mas quem explica por quais motivos não conseguimos aumentar a capacidade do Porto de Santos, cuidar da zeladoria, infraestrutura de acessos e dragagem? Temas mais que conhecidos por todos da nossa região e do País. O tempo passa e parece que a torrada sempre cai com a manteiga para baixo.
 
Temos um Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) aprovado pela antiga gestão da Autoridade Portuária e publicado no site da companhia, mostrando uma projeção de crescimento exponencial em 2040 na movimentação de cargas no porto de Santos, em comparação com 2020.
 
Para exemplificar, a movimentação de celulose terá um crescimento de 48%. Já para o modal ferroviário, projeta-se um aumento de 45 milhões em 2020 para 86 milhões de toneladas em 2040. Outra importante movimentação projetada é a de contêineres, de 5,3 milhões de TEU em 2020 para 8,7 milhões em 2040, um aumento de 64%.
 
A capacidade atual do Porto, segundo o PDZ, é de 161,9 milhões de toneladas em 2020 com uma demanda de mercado em torno de 135,7 milhões de toneladas. Contudo, para 2040, os números apontam que a demanda será de 214,9 milhões de toneladas e a capacidade, segundo site da Autoridade Portuária, deve ser de 240,6 milhões de toneladas. Porém, isso dependerá do aumento da capacidade em movimentação e armazenamento.
 
Não é necessário ser nenhum expert em Matemática para calcular a necessidade iminente da expansão do Porto, com novas áreas para armazenamento de carga para atender a demanda projetada. Qualquer físico sabe que dois corpos não ocupam o mesmo espaco e, apesar de empilharmos contêineres, dificilmente conseguiremos atender um crescimento de 64% colocando um contêiner em cima do outro.
 
As últimas concessões aparentemente resolvem a questão da celulose e a criação da Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips) atende ao modal ferroviário, mas o que faremos para atender os contêineres? Nessa relação do Porto com a Cidade, é evidente que precisamos aproximar o complexo portuário do cidadão, mas é importante saber que, nesse relacionamento, o emprego é algo muito importante. Cargas com maior valor agregado e com alto volume de movimentação proporcionam novas vagas de emprego. Esse é o DNA da operação de contêineres: valor agregado e emprego.
 
A primeira Lei de Newton, também conhecida como princípio da inércia, afirma que todo corpo permanece em seu estado de repouso ou em movimento retilíneo e uniforme, caso as forças que atuem sobre ele se anulem. As forças que atuam em nosso setor devem sair do estado de repouso para esse tema, garantindo que o Porto de Santos não perca carga para outros locais na próxima década, assim como já acontece hoje. Se permanecerem nesse estado ou com a capacidade de armazenamento atual, provocaremos a fuga dos investimentos, a falta de vagas para novos empregos e o desvio de cargas para outros portos.
 
A terceira Lei de Newton é conhecida como lei da ação e reação. Se não reagirmos, perderemos mercado e não acompanharemos o desenvolvimento do mundo. Nossa região poderá ser muito afetada nos próximos anos. Para toda força de ação que é aplicada a um corpo, surge uma força de reação em um corpo diferente. Essa força de reação tem a mesma intensidade da força de ação e atua na mesma direção, mas com sentido oposto. Qual força estamos aplicando no crescimento do Porto e em qual sentido?
 
Em 2040, espero não debater os temas que nos preocupam hoje. Se isso acontecer, podemos dizer que a culpa é da Lei de Murphy. Porém, por mais que as coisas mudem, a torrada sempre vai cair com a manteiga para baixo.
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 

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