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A inovação é minha!

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
Na festa da inovação ficamos em casa preocupados em usar a roupa da moda que chegamos atrasados
 
Franklin Roosevelt entendeu que os Estados Unidos venceram a Segunda Guerra Mundial porque suaram para ficar à frente na corrida tecnológica. Afinal, invenções vencem batalhas e aquecem a economia. Hoje em dia, quem não possui um micro-ondas em casa? Esse eletrodoméstico nasceu de um acelerador de partículas portátil chamado magnetron, que emitia radiação e que detectava submarinos e aviões nazistas nos radares da época. Trata-se de um ótimo exemplo de demanda e escala. Quantas pessoas atualmente são empregadas no mundo pelo fato de novas vagas surgirem por conta da inovação?
 
Em 1939, milhões de pessoas estavam empregadas em indústrias que sequer existiam ao final da Primeira Guerra Mundial, como rádio, ar-condicionado, plásticos etc. Trazendo para os dias de hoje, vemos o Brasil perdendo milhares de empresas na última década. Desde 2015, início da recessão econômica, 17 fábricas encerraram as atividades por dia. Será o Brasil o maior caso de fracasso em inovação industrial no mundo? E como isso afeta o setor portuário?
 
O Brasil precisa entender o grau de diversidade das suas exportações e aumentar a complexidade e o valor agregado dos produtos de forma umbilical com inovação. A soja e outras commodities são algo que muitos países já plantam e possuem baixíssima complexidade, por exemplo.
 
Placa-mãe, processadores e memórias são produtos de alta complexidade e somente um país no mundo consegue produzi-los em larga escala. Exportar cobre é algo de baixa complexidade, mas produzir placa-mãe é algo que envolve muita inovação, conhecimento acumulado ao longo de anos e tecnologia de sobra, ou seja, alta complexidade. Qual setor emprega mais? O de baixa ou o de alta complexidade?
 
Commodities são sinônimo de estagnação? Não, mas o momento atual pede reflexões importantes. Afinal, carros elétricos passarão como um rolo compressor pelo mercado de petróleo? É aceitável agredir o Cerrado e a Amazônia para o gado e soja? Mudanças climáticas vão afetar a nossa agropecuária? O caminho da inovação é, de fato, o mais seguro para o Brasil.
 
A inovação deve ser feita por meio da demanda e com incentivos fiscais que possam permitir o desenvolvimento dessa área. As soluções necessitam de capilaridade e escala para que as empresas possam se manter. Criar tão somente startups com foco pontual de problemas não irá fazer com que a prosperidade para pequenas empresas chegue a um mercado globalizado e com muita concorrência. Elas quebram antes mesmo de começar.
 
Em outros países, incentivos em pesquisa e desenvolvimento partem não só da iniciativa privada, mas também da iniciativa pública. Em um mercado internacional, percebemos que o inglês é a segunda língua fluente da população. Se pretendemos atuar em um segmento como esse, comprando, vendendo e entendendo o que está acontecendo, precisamos ler, escrever e falar no inglês. Sim ou não? A inovação é do mundo.
 
As iniciativas que temos hoje para impulsionar inovação contemplam a obrigatoriedade de fluência do inglês nesses jovens? Refletindo: depois de criar algo inovador para o mercado nacional portuário, para quantos terminais uma startup poderia vender seus produtos e serviços aqui no Brasil? Haveria escala ou seria necessário em seu plano de negócio expandir para outros países? Como manter investimentos para atualização de versões dos sistemas ou de peças?
 
Inovação não tem dono e passa pela mudança de mindset de lideranças. O capital tem foco no resultado e muitas vezes é selvagem, mas o que fazer com o futuro? Por diversas vezes, mencionei que precisamos criar lideranças novas dentro do setor portuário, com perspectivas diferentes e que possam absorver ao máximo o conhecimento dos grandes nomes que atuam hoje em dia. Precisamos impulsionar o desenvolvimento da indústria nacional, abrindo novos mercados, com a força de trabalho dos jovens, que chegam revolucionando setores e com uma vontade enorme de realizar, mas com qualidade de vida. É um conflito de gerações?
 
A equação passa pelo impulsionamento da indústria, com demandas relevantes de inovação, políticas de governo que permitam a exportação da inteligência adquirida, integração logística, tecnologia para redução de custos e eficiência. Queremos fazer, temos vontade de realizar, vivemos em um mundo onde nada pode e precisamos avançar para não perder.
 
Na festa da inovação, ficamos em casa tão preocupados em escolher e usar a roupa da moda que chegamos atrasados e perdemos o show principal. Ficamos somente com a curtição da rebordosa no dia seguinte.
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 

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