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Vai todo mundo perder?

Fonte: A Tribuna de Santos / Maxwell Rodrigues*
 
Quem ganhar vai perder e quem perder vai ganhar? Ou vai todo mundo perder? A competição acirrada no mercado global de contêineres faz com que o dinamismo dos negócios e os investimentos sejam vorazes e o protecionismo mercadológico não tenha espaço para alegações sem fundamentos concorrenciais concretos. Algo que hoje, talvez, faça sentido diante do momento que estamos vivendo no Porto de Santos. A frase que usei no início deste texto pode ser confusa, mas esclarece o que estamos passando na atração de investimentos.
 
A concorrência é a competição entre dois ou mais negócios que disputam a mesma fatia de mercado. A análise dela, portanto, diz respeito à observação do que esses competidores estão fazendo nos mais diversos aspectos do negócio para criar e melhorar suas próprias estratégias, de modo a se destacar. Mas como se destacar com tamanha mudança de regras e instabilidade jurídica no Brasil? Os argumentos de atratividade do capital estrangeiro pelo Governo Federal são enormes.
 
Acompanhamos rotineiramente ministros e representantes “vendendo” os portos do Brasil em eventos nacionais e internacionais. Venda vem do latim vendita, a ação e o efeito de transferir a propriedade de algo a outra pessoa mediante o pagamento de um preço estipulado. Por aqui, o investidor precisa enfrentar um sistema política partidário feudal para comprar, não basta somente pagar. A proposta de “vender” no mundo de hoje não é só uma atitude que gera negócios, e sim um estilo de políticas públicas que abre portas para o conhecimento e confiança dentro de um mercado específico.
 
Nessas definições, percebemos que no setor portuário muitas vezes não é tão fácil vender ou comprar ativos, principalmente porque em muitos casos, depois que a venda ocorre, as regras do jogo mudam pelo caminho. Algo difícil de explicar aos prospects internacionais que são abordados rotineiramente pelas estratégias de concessões no aspecto da “pré-venda”.
 
Estamos acompanhando todos esses movimentos atualmente no mercado de movimentação de contêineres no Porto de Santos sem nos preocupamos com o impacto gigantesco que esse debate por ter na imagem de liberdade de concorrência proposta pelo Brasil. As mais diversas narrativas surgem e se aproveitam do arcabouço legal esquizofrênico para prorrogar algo que poderia ser simples de resolver. A quem interessa tanto conflito? Quando o foco é o conflito, teorias surgem e atores da sociedade civil saem em defesa de interesses que não ficam claro para a própria sociedade.
 
Uns defendem quem está operando e outros se posicionaram a favor de quem quer se instalar no porto. Os argumentos são os mais diversos possíveis e tentam proteger algo que não é o foco do debate. Enfim, qual é o pepino? Qual o problema? O PDZ proposto estipular crescimento significativo nos próximos anos, aumentando os problemas de infraestrutura e a necessidade de mais espaço para movimentação de contêineres. A Antaq estima que os portos brasileiros deverão movimentar, já em 2026, 1,402 bilhão de toneladas, contra a projeção de 1,239 bilhão de toneladas para 2022.
 
Somente pelos portos, passarão mais de 90% do total da movimentação de comércio nacional e internacional. Antes do final desta década, em 2028, os espaços do terminal STS10 estarão em plena capacidade de operação, quando teremos um aumento de demanda consolidado. Se olharmos para o que está sendo planejado, a preocupação deve se concentrar em resolver problemas de acessos ferroviários, rodoviários e agilizar a atracação de navios. Com o volume aumentando, precisaremos de mais terminais operando. Uma equação estrutura que tem aderência ao que consta no PDZ, além de atender aos interesses público e da sociedade com a geração de empregos, atratividade do capital investido e redução de custos, tornando o Brasil muito mais competitivo.
 
Para os investidores que venham a ganhar concessões portuárias, perder depois da vitória e ter de lidar com a interferência nos seus negócios é uma probabilidade bem alta. Já aqueles que perdem uma concessão e tentam evitar a entrada de novos players, acabam comprometendo a eficiência e o futuro do Porto de Santos com “billing” de ineficiência e em gargalos. Se continuarmos com guerras que impedem o investimento, iremos todos perder!
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 

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