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Déficit ferroviário no complexo portuário santista? Aos números!

Fonte: A Tribuna On-line / Frederico Busssinger*
 
“O que não pode ser medido, não pode ser gerenciado” (Deming, “pai da Cultura da Qualidade”)
 
Tanto o Porto Organizado de Santos (Poligonal) como seu Complexo Portuário (incluindo terminais de uso privado, os TUPs: todo o Estuário) preveem expansões. O Plano Mestre - PM (ABR/19) trata do Complexo, e o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento – PDZ (JUN/20), do Porto Organizado: isso em tese, visto que, na prática, o PDZ menciona e, até, revisa dados e informações do PM.
 
Em grandes números prevê-se nos próximos 20 anos, até 2040, um crescimento de 50%, atingindo-se 240,6 Mt/ano: algo como mais 2/3 (80 Mt/ano).
 
Essa carga adicional prevista, exceto os transbordos, precisará chegar/sair da Baixada Santista; certo? Para tanto são propostos rearranjos operacionais que resultarão em nova matriz de transportes: 40% ferro (hoje 33%); 47% rodo; 4% duto; e 9% transbordo.
 
Dito de outra forma: esses 80 Mt/ano dependem do crescimento de 37,8% (27,7 Mt/ano) no fluxo rodoviário: 2.530 carretas de 30 t por dia-calendário (21% do pico); aproximadamente o volume mencionado pelo representante da Ecorodovias em recente seminário: 3.000/dia-calendário.
 
Mas a grande transformação proposta/prevista é a quase duplicação da movimentação ferroviária (91%): das atuais 45 Mt para 86 Mt/ano, fluxo que precisará tanto descer/subir a Serra do Mar, pelos dois sistemas (Rumo e MRS), como entrar/sair da (atual) "Ferradura", hoje parte da concessão da MRS e por ela gerida.
 
O plano de expansão da MRS, apresentado para renovação antecipada de sua concessão, prevê fluxos de/para o Complexo Portuário (Porto Organizado e TUPs) de: 79 Mt/a (2026); 87 Mt/a (2030); 95 Mt/a (2040). Portanto, haveria um um “saldo” de capacidade ferroviária de 9 Mt/a em 2040.
 
Mas essa é, apenas, a ponta do iceberg: além dos projetos e projeções consagrados no PM e PDZ, há tanto expansões previstas para os TUPs existentes, como estudos para implantação de novos TUPs: quase todos eles contando, majoritariamente (ou totalmente), com alimentação ferroviária.
 
Alguns são conhecidos; outros ainda não foram trazidos à público ou noticiados pela imprensa. Pelos contratos de adesão (autorizações) já celebrados e/ou requeridos à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), todavia, é possível estimar-se só na região de Barnabé-Bagres, p.ex, que TPB, TPL, STS e Santorini projetam agregar entre 65 Mt-80 Mt/ano de demanda ferroviária!
 
Foi recentemente anunciado que “Porto de Santos prepara expansão de área” (AT-26/AGO/21); justamente nessa região das ilhas Barnabé-Bagres e espelhos d´água contíguos: 6,1 milhões de m2 terrestres, sobre os atuais 8,1 Mm2 (75%). Para tanto, pouco mais de um ano depois, a Poligonal voltaria a ser alterada; agora no contexto da desestatização/privatização: certamente para aumentar/valorizar seus “ativos”.
 
Para fins de análise de fluxos, entretanto, estarem essas áreas fora (TUPs) ou dentro da Poligonal pouco importa; vez que, supõe-se, se o governo cogita reincorporá-las ao Porto Organizado, é para utilizá-las visando implantação de novos terminais que, muito possivelmente, terão movimentações similares.
 
Enfim, o “saldo” de capacidade ferroviário passaria a “déficit”. Aliás, um expressivo déficit que poderia ser de, até, quase o dobro dos 45 Mt movimentados pelas 3 concessionárias, juntas, em 2020!
 
Não havendo erro de cálculo, muito provavelmente alguma coisa não acontecerá: ou as expansões; ou as implantações; ou a mudança da matriz de transportes. Ou, alternativamente, novas ações e obras precisarão ser explicitadas ou pensadas... tarefa para um planejamento integrado e para os gestores “deminianos”.
 
*Frederico Bussinger, engenheiro, economista e consultor. Foi diretor do Metro/SP, Departamento Hidroviário (SP), e da Codesp. Também foi presidente da SPTrans, CPTM, Docas de São Sebastião e da Confea.
 

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