Artigos e Entrevistas

Are you shipping me?

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
Como resultado da lei de oferta e demanda, os preços e taxas subiram a níveis impressionantes
 
A cadeia de abastecimento global aparenta estar sofrendo e muito com os acontecimentos durante e pós-pandemia da covid-19. O atraso nos embarques e o fechamento dos portos devido à pandemia reduziram de maneira significativa a capacidade do sistema em se organizar logisticamente.
 
Como resultado da lei de oferta e demanda, os preços e taxas subiram a níveis impressionantes. Especialistas já afirmam que o valor se tornou proibitivo para empresas com commodities de baixo valor agregado, impossibilitando a importação destes produtos frente aos valores altos dos fretes.
 
Tudo vem ocorrendo pela falta de contêiner no mundo, onde os portos estão esgotados em sua capacidade, frente ao volume, e outros, com escassez, devido à lentidão de reposicionamento das caixas metálicas. É claro que operadores possuem navios extras, assim como a aviação possui aviões para atendimento de demandas pontuais, mas a demanda e o fluxo logístico foram tão afetados que está praticamente impossível equacionar a situação.
 
Além das dificuldades operacionais e de infraestrutura já conhecidas em nosso País, o arranjo logístico foi afetado de tal forma que uma eventual nova onda de covid pode estagnar as operações portuárias mundiais.
 
Os preços no eixo leste-oeste chegaram a US$ 32.000 para enviar alguns contêineres de Xangai para Los Angeles. No mundo dos negócios, essa é uma maneira que o prestador tem de dizer ao cliente que não está interessado em fazer negócio. O preço é proibitivo.
 
Um cenário assim desespera as empresas que montaram seus planos de negócios com base em fretes na casa de US$ 1.000 a US$ 2.000. A instabilidade dos preços vai afetar os negócios no mundo e, se o volume de negócios diminuir, a oferta de contêiner pode cair, uma vez que esse modal poderá deixar de girar no nosso eixo, ou seja, nos eixos norte e sul da navegação.
 
O mercado está tão preocupado que chegou-se a cogitar a cobrança de ‘booking’, um valor de reserva do fretamento de espaço antes mesmo da cobrança do frete. Isso afeta a previsibilidade na composição dos custos finais de materiais e produtos acabados. Dificilmente podemos compor custos com tanta variação. Ainda mais no Brasil, onde os impostos são cobrados em cima de importação de bens de consumo. Será que retornaremos ao processo inflacionário?
 
Índices mostram que taxas da costa oeste estão em US$ 18.345, seis vezes mais do que no ano anterior, e o preço do frete para a costa leste dos Estados Unidos quadruplicou para US$ 19.620. Já as taxas da Ásia ao Norte da Europa subiram 4%, e são oito vezes mais altas do que há um ano e 2,5 vezes mais do que no início do ano.
 
A alta da inflação nos transportes é mais do que muitos podem absorver. E, com o dólar beirando a casa dos R$ 5,50, a situação fica muito mais preocupante para que possamos importar produtos no Brasil. Aliam-se os altos custos de impostos à falta de previsão nos preços, mais o risco possível da operação, e teremos valores que, com certeza, o mercado não consegue absorver internamente.
 
Com esse cenário, o modelo de estoque das fábricas muda significativamente, priorizando o que de fato é necessário. Com isso, o fluxo de importação diminui e, por tabela, cai o volume importado. Essa mudança afetará o número de contêineres destinados ao nosso País. Isso é um exemplo simples de uma equação do mundo dos negócios portuários.
 
Atualmente, está muito difícil conseguir contêineres ou espaço nos navios nos portos de origem, pois a demanda por frete marítimo continua a superar a oferta, mantendo os portos congestionados e os preços altos.
 
A enorme maré de importações em outros continentes atingiu os transportes aéreo, rodoviário, ferroviário e armazenamento, sobrecarregando a capacidade em muitos centros comerciais.
 
Será que conseguiremos embarcar nesse mundo tão competitivo e que poderá colapsar os custos? Como iremos girar a roda da economia nacional?
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360º. Possui mais de 20 anos de experiência em tecnologia e automação portuária.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)



Compartilhe


Voltar