Artigos e Entrevistas

Os jovens, a crise e o trabalho

Fonte: Folha de S. Paulo / Claudia Costin*
 
Faixa foi a que mais perdeu renda com a crise
 
Em estudo recente, Marcelo Néri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV, mostra que os jovens foram os que mais perderam renda com a crise econômica do país. Dados da renda individual do trabalho e da desigualdade resultante mostram os brasileiros de 15 a 19 anos como os mais penalizados no período de 2014 a 2019, seguidos pelos de 19 a 29.
 
Isso parece ser consistente com outras crises que vivemos. Afinal, se a oferta de postos de trabalho escasseia, é natural que se dê preferência aos mais experientes e com mais anos de escolaridade. Naturalmente, mostra a pesquisa, os jovens sem instrução integram o grupo que sofreu maior redução nos ganhos. Mas é bom lembrar que mesmo aqueles que estudaram mais também viram sua renda e empregabilidade diminuírem.
 
A expectativa é que, com a lenta, mas aparentemente consistente, retomada do crescimento, postos de trabalho retornarão, e os problemas tenderão a desaparecer. Só que não, como dizem os adolescentes. 
 
Martin Ford, em seu interessante livro “A Ascensão dos Robôs”, mostra que, cada vez mais, as fases de recuperação econômica, no mundo desenvolvido, acabam deixando de lado parte dos que se viram sem trabalho na crise, já que se torna progressivamente mais barato substituir gente por máquinas. O que mais o preocupa, no entanto, é o fato de trabalhadores que desempenham tarefas um pouco mais complexas, algumas delas demandando formação de nível superior, também começarem a ser trocados por algoritmos.
 
Com isso, de acordo com o autor, as desigualdades de renda tenderão a crescer mais ainda, já que restaria aos de menor qualificação a informalidade ou empregos de baixíssima remuneração. 
 
No estudo coordenado por Marcelo Néri, aparece outro dado preocupante: o percentual dos chamados nem-nem, os que nem estudam nem trabalham, teve um crescimento importante no período mais grave da crise. Isso certamente se deve, além do desinteresse pela escola, a certa descrença no papel da educação como mecanismo de ascensão social.
 
Para resolver esse problema, o receituário é conhecido. Ao invés de gritarmos bravatas uns para os outros, é urgente pensar em políticas públicas competentes que conectem a educação a um mercado de trabalho em transformação acelerada. 
 
Isso envolve investir em educação de qualidade para o século 21, inclusive em ensino técnico, especialmente profissionalizando o trabalho dos professores e tornando a escola mais significativa para os jovens. Mas isso não será suficiente se não criarmos bons programas para iniciar os jovens no mundo do empreendedorismo e do emprego.
 
*Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
 

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