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Mulheres sobrecarregadas e homens desempregados: famílias brasileiras chegam a 2019 ainda em crise

Fonte: BBC News
 
Recente recessão vivida pelo Brasil, a maior desde os anos 1980, resultou em orçamentos apertados e mudanças de rotina
 
Alexandre e Alessandra tinham uma vida confortável de classe média quando, em 2014, ele deixou seu emprego como gerente de logística e não conseguiu outro.
 
Com o marido desempregado, Alessandra se tornou a principal responsável pelas contas, sustentando a casa com seu salário de agente de viagens.
 
O orçamento apertado fez com que a família mudasse o padrão de vida.
 
"A gente saía todo final de semana, não parava quieto: comia fora, ia para shopping, cinema, teatro...Aí você vê tudo isso indo embora, porque você precisa ter grana pelo menos para o estacionamento", diz Alessandra.
 
"Foi uma queda muito brusca, de ter que abrir mão de muita coisa rapidamente."
 
A recente recessão vivida pelo Brasil foi a maior desde os anos 1980, quando o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), começou a medir as crises brasileiras. Em 11 trimestres, entre 2014 e 2016, o PIB do país acumulou uma queda de 8,6%. Nesse período, o desemprego chegou a atingir 14,2 milhões de pessoas e a renda per capita caiu 9,4%, o segundo pior resultado do século.
 
As experiências vividas pelo casal, portanto, foram compartilhadas por milhões de brasileiros.
 
Uma delas merece destaque, por influenciar com força as dinâmicas familiares: o protagonismo das cônjuges, grupo que não tinha salário ou cujo salário era secundário, no sustento da casa. Na maioria dos casos, elas são as esposas ou companheiras, enquanto os maridos se identificam como "chefes de família".
 
Um levantamento feito para a BBC News Brasil pelo professor Marcelo Neri, diretor do centro de políticas sociais da FGV, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indica que as cônjuges se saíram melhor do que os chefes de família durante a recessão. Elas tiveram aumentos expressivos de renda, horas trabalhadas e participação no mercado de trabalho.
 
Alessandra ficou sobrecarregada por acumular o trabalho, agora o único da casa, com tarefas domésticas. Mas a recessão trouxe também mudanças mais positivas para o casal: ao ver a mulher cansada, Alexandre decidiu assumir a limpeza.
 
Hoje, ele faz faxina às quartas-feiras.
 
"Começou a ficar pesado para ela e ela foi se desgastando porque virou a chefe da família. Hoje, o que posso fazer por ela, eu faço."
 

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