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O futuro do mundo do trabalho depende de que?

Fonte: Carta Capital / Clemente Ganz Lúcio*
 
Está claro para a elite que as democracias devem ser controladas. Onde não for possível ou houver resistência, podem ser sacrificadas

 
“Sopram ventos malignos no planeta azul.”
Manuel Castells, in “Ruptura”
 
São transformações por dentro do sistema capitalista de produção, de consumo e de distribuição, que agora se defrontam com as potencialidades e o poder das máquinas; com o desemprego estrutural de massas excluídas; com o aumento da desigualdade, sem precedentes; com os problemas ambientais (as mais diversas formas de poluição, a mudança climática e o aquecimento global); com as múltiplas formas de guerra, inclusive a nuclear; com a escalada da violência, das drogas, do tráfico.
 
Ou seja, a quantidade (quase incontável), a complexidade e a escala dos problemas afetarão de maneira radical diversas dimensões do mundo do trabalho.
 
Essas transformações promoverão rupturas em todo o sistema produtivo. Os agentes econômicos já viabilizam a máxima flexibilidade para promover, atuar e reagir a essa transformação, sem resistência e com segurança. As mudanças institucionais (reforma trabalhista, por exemplo) preparam e entregam esse ambiente.
 
As reformas dos Estados, privatizações e venda de recursos naturais oferecem ao mercado ampliadas oportunidades de negócio. Está claro para a elite que as democracias devem ser controladas, para não gerar insegurança (a chamada confiança do investidor), e orientadas para aguentar as mudanças. Onde não for possível ou houver resistência, as democracias podem ser sacrificadas!
 
O Brasil, com as riquezas e o sistema produtivo, é um dos maiores jogadores nesse mundo e faz parte desse tsunami transformador.
 
O sindicalismo tem o desafio de mergulhar na reflexão sobre o futuro, prospectar os desafios, articular a compreensão da complexidade e enunciar lutas inovadoras para essa nova etapa histórica. O sindicalismo tem, mais uma vez, a tarefa de trazer para o jogo social o trabalhador como sujeito coletivo, como classe, como ator político que constrói a história de todos, das nações, dos países e, hoje, do planeta.
 
É preciso pensar 10, 20, 30 anos para a frente. Por isso, os principais protagonistas desse movimento são os jovens trabalhadores. Serão eles que estarão produzindo, revelando as contradições da nova produção e distribuição desse outro sistema capitalista. É esse mundo, que será nosso também, mas produzido pelos jovens, que deve instruir o debate.
 
Serão os jovens de hoje que terão que imaginar e criar outras formas de luta a partir do mundo do trabalho. São eles que terão que se colocar em movimento. Nós seremos seus companheiros de luta e estaremos juntos, para o que der e vier, enquanto estivermos vivos!
 
*Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do Dieese
 

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