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O imexível e o "incaível"

Fonte: AssCom Sindaport / Denise Campos De Giulio

Ainda ecoa nos ouvidos de boa parte dos brasileiros a pérola neologística criada pelo ministro do trabalho do Governo Collor de Mello (1990 - 1992), Antônio Rogério Magri. À época, questionado por um repórter se o salário do trabalhador seria reduzido, o sindicalista que se tornou ministro de Estado encarou o pobre jornalista e sem dó e nem piedade da língua portuguesa cravou: "o salário do trabalhador é imexível".

A célebre frase ganhou as manchetes dos principais noticiários do País e passou a fazer parte do discurso cotidiano popularesco, ganhando espaço para discussões e acalorados debates inclusive nos centros acadêmicos da etimologia, ciência que estuda a origem das palavras e suas derivações.
 
Apesar de toda polêmica, especialistas e estudiosos  atestaram
o acerto de Magri, que acabou entrando para a história muito mais por seu "imexível" do que propriamente por sua contribuição para o Brasil. Envolvido em escândalos de corrupção o ministro acabou demitido em 1992, deixando a semântica como legada e órfã uma verdadeira legião de fãs.

 
O maior deles certamente se encontra na Companha Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e ocupa uma das quatro diretorias da estatal. Trazido pelas mãos do ex-presidente José Di Bella Filho, em 2007, o dito cujo segue intocável no cargo mesmo diante da reestruturação organizacional em curso nos principais escalões da empresa. 

Seu vergonhoso comprometimento pluripartidário o credencia a ser o único e legítimo trabalhador portuário multifuncional do Brasil, nos termos da lei 12.815/2013. Em tempos da extinta Portobras seria eleito o Portuário Padrão. Com um leque invejável de padrinhos (políticos, empresários e até mesmo sindicalistas) ligados a vários partidos de apoio ao Governo, mantêm-se imexível no posto, obviamente para poder servir e atender aos interesses espúrios e densos. 

Vale ressaltar que a prática é bastante comum em tempos de eleições presidenciais, cujo processo de arrecadação de valores para as campanhas e propagandas político-partidárias ultrapassa as raias da ética e da moralidade. E não foi em vão que a Docas santista construiu sua fama de "mamãe Codesp" ao longo dos anos, sobretudo dos últimos. 

Além do oportunismo eleitoreiro, soma-se as incertezas jurídicas e as lacunas deixadas pelo novo marco regulatório, ainda em discussão e, portanto, não consolidado. Nesse sentido, as oportunidades se multiplicam e continuam definindo a dança das cadeiras na Autoridade Portuária de Santos, gerando descontinuidade administrativa e retardando cada vez mais o progresso e os avanços que o complexo necessita.

O imexível segue firme, todavia já não tão forte. Impedidos política e momentaneamente de promoverem a substituição do gafanhoto que se julga "tombado" pela área patrimonial, os novos responsáveis pela pasta de Portos e pela Codesp estão alterando rotinas e retirando suas atribuições de forma gradativa visando seu esvaziamento de poder.

Apenas para se ter uma ideia da longevidade mantida pelo diretor da Codesp preferido dos "delúbios" da vida, além do padrinho Di Bella também passaram (e caíram) pelo comando da Autoridade Portuária de Santos os engenheiros José Roberto Serra e Renato Ferreira Barco. Em termos hierárquicos, alguns degraus acima os ex-ministros Pedro Brito e Leônidas Cristino também naufragaram após segurarem o timão da SEP. 

Enquanto isso, o fã número um de Rogério Magri vai se garantindo na boquinha ao lado de outro não menos preferido, bastante conhecido no seguimento como "o homem do PAC" (Programa de Aceleração do Crescimento) portuário. Ou seja, como desgraça pouca é bobagem a Codesp tem o "privilégio" de contar não apenas com o imexível como também com o incaível (sic).

Protecionismos à parte, é sempre bom lembrar que PAC virou sinônimo de obras públicas, de licitações, contratos, consultorias, prestadores de serviços, empresas fantasmas e empreiteiras de todos os tipos. Daí para as doações, de preferência em dólar, de verbas (propinas, rebates, comissões e etc) destinadas aos partidos e padrinhos políticos basta apenas uma cueca. 
 


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Comentários (2)

Marco Antônio
Data: 03/06/2014 - 11h32
É impressionante como a lua e a tábua das marés influencia na repentina mudança de opinião das pessoas.
antonio carlos paes alves
Data: 02/06/2014 - 12h22
Os imexíveis e incaíveis receberam aval do governo federal, por moralizar e sanear financeiramente a CODESP, defenestrando os "imorais, incompetentes e corruptos" (ou aqueles que teriam capacidade de perceber a farsa). Ao menos é o que indica a continuidade deles na Empresa. Ou será que estou errado?

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