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Resultados da procura Resultados da Web Desemprego mais longo afeta carreira de jovens, diz estudo

Fonte: Valor Econômico
 
O choque da covid-19 na economia estreitou ainda mais o espaço para os jovens brasileiros que ingressam no mercado de trabalho, atingindo um grupo já bastante afetado pela crise de 2015-2016. O problema é que as primeiras vivências na vida profissional podem reverberar por um período mais prolongado na carreira do jovem. É o que mostra a pesquisa “Transição da Escola para o Trabalho”, da iDados Consultoria, a ser apresentada hoje em evento com a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Foram ouvidos 3.527 jovens de 16 a 29 anos de todas as regiões do país entre maio e junho de 2019. 
 
O levantamento aponta, por exemplo, que o jovem que passa por um período maior de desemprego tem mais chance de continuar desocupado no futuro. A taxa média de desemprego, captada no momento da pesquisa, entre aqueles que ficaram até seis meses desocupados em algum momento da vida era de 13,5%. Para os entrevistados que já tinham ficado sete meses ou mais sem trabalho, a taxa saltava para 17,3%. “A crise agora deve jogar mais jovens para esse grupo com maior dificuldade”, diz Bruno Ottoni, pesquisador da iDados. 
 
Fora do mercado de trabalho por mais tempo, o jovem não consegue acumular experiências, que aumentariam sua produtividade, e ainda pode sofrer perda (“depreciação”) de capital humano. “Ele pode desaprender o que sabia ou seus conhecimentos podem se tornar obsoletos”, explica Ottoni. Aém disso, existe um componente mais subjetivo, o preconceito. “Pode ter essa ideia de que não pega bem um buraco no currículo, o próprio gestor pode acabar olhando com desconfiança.” A pesquisa também indica que a experiência ajuda a reduzir o tempo em que os jovens ficam sem emprego ou sua rotatividade entre trabalhos, mas tem efeito limitado para amenizar as diferenças entre quem inicia a carreira no mercado formal ou informal.
 
Dos jovens cujo primeiro emprego foi sem carteira assinada, um ano depois, 93% estavam na informalidade e, oito anos depois, 58% seguiam sem registro. Apesar de, ao longo dos anos, aumentarem as chances de esse jovem se formalizar, a “distância” entre quem já inicia a carreira com carteira permanece muito grande. Para os jovens cuja primeira experiência de trabalho é no mercado formal, a chance de migrar para a informalidade fica entre 7% e 10% com dois, cinco ou oito anos desde a primeira vaga. 
 
O tempo de permanência no primeiro emprego também se mostrou relevante. Entre quem ficou seis meses ou mais no posto, 69% estavam ocupados oito anos depois. Para quem não ficou nem seis meses no primeiro emprego, a chance de estar empregado oito anos depois cai para 61%. 
 
Segundo Ottoni, a literatura com relação aos resultados práticos de políticas de primeiro emprego é mista. “Em geral, os efeitos não são tão grandes, principalmente quando a gente fala de custo-efetividade. Os custos dessas políticas, como algum tipo de subsídio salarial ou de contratação, são altos. Se os efeitos benéficos se estenderem, pode valer a pena. Um problema é que grande parte da evidência de estudos que a gente tem foca em países desenvolvidos e lá não existe esse universo da informalidade como no Brasil”, explica o pesquisador. 
 
Ele lembra que a restrição orçamentária do país piorou com a pandemia. “Acredito que, nessa saída da crise, o espaço para políticas realmente de grande escala, que é o que seria necessário para esses jovens dado o momento que vivemos, tem espaço limitado. Eu fico um pouco mais pessimista nesse sentido de como realmente será a situação deles no pós-pandemia”, afirma.
 
Um reaquecimento mais robusto da economia pode ter o efeito natural, ao longo do tempo, de reabsorver parte desses jovens que saíram do mercado, diz Ottoni. “Mas é preciso considerar que o jovem que passou por um desemprego mais longo, por exemplo, só vai conseguir reingressar quando os demais que não passaram por essa situação já tiverem sido recontratados.”
 
Outro fator de preocupação trazido pela pandemia é o risco de os jovens deixarem os estudos antes da conclusão. A pesquisa mostra que jovens entre 24 e 26 que abandonaram no meio uma etapa de formação (o ensino médio ou a educação superior) passaram, em média 2,3 anos não-ocupados, o que representa 28% da sua vida laboral. Entre os jovens que completaram as etapas de ensino, a proporção de anos não-ocupados cai para 23,4% (ou 1,9 ano). No grupo etário seguinte, de 27 a 29 anos, a proporção de anos não-ocupados para quem interrompeu os estudos era de quase 26%, contra 21,3% para aqueles que foram até o fim. 
 
“Há risco grande de os jovens terem abandonado sua formação na pandemia. Quem estuda em universidade privada e ficou em situação financeira ruim, precisou parar para trabalhar. E mesmo quem está no ensino médio, se a família passou por dificuldade, pode ser que tenha largado os estudos para completar a renda”, diz Ottoni.
 

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