Notícias

Ipea: renda dos negros ainda é cerca de duas vezes menor que a dos brancos

Fonte: Correio Braziliense
 
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal que avalia renda apontou, no entanto, leve diminuição entre a diferença de renda por raça
 
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) que avalia a Renda dos brasileiros apontou diminuição na diferença entre os salários da população negra e da branca. Contudo, o estudo divulgado, nesta terça-feira (16/4), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostrou que os brancos ainda ganham cerca de duas vezes mais que os negros. A média é de R$ 1.144,76 mensais para brancos contra R$ 580,79 para os negros. 
 
A diferença quando se observa dados desagregados por cor e sexo diminuíram no período em questão. O IDHM da população branca caiu de 0,819 para 0,817, e o da população negra elevou-se de 0,728 para 0,732. De acordo com a pesquisa, o resultado foi possível pela melhoria em todos os quesitos analisados para os negros e a queda nas dimensões de Renda e Educação para os brancos. 
 
O IDHM do Brasil teve resultado praticamente estável. A movimentação do indicador foi de 0,776 para 0,778, entre 2016 e 2017.  Também foi observado pelo estudo uma queda de 0,92% no valor da renda per capita no mesmo intervalo de tempo. O índice passou de 0,748 para 0,747. 
 
Contudo, esse impacto é contrabalanceado pelas outras duas dimensões da pesquisa: o crescimento da esperança de vida, que foi de 75,72 anos para 75, 99 anos - que elevou o IDHM Longevidade de 0,845 para 0,850 - e a dimensão da educação, que aumentou de 0,739 para 0,742. O subíndice de Frequência Escolar também teve alta, ao passar de 0,792 para 0,797.
 
De acordo com o Coordenador do INCT em políticas públicas e desenvolvimento, Marco Aurélio Costa, é importante fazer ressalvas aos resultados em educação. Segundo ele, o dado mais sensível é o que mostra que menos de 60% dos jovens entre 18 e 20 anos concluíram o ensino médio. “É um dado preocupante. O jovem que saiu do ensino médio, fez mais de 18 anos, impactou o dado e fez reduzir essa dimensão como um todo”, explicou. 
 
Costa também explicou que o país ainda é muito desigual e que a concentração de renda pouco reduziu ao longo dos últimos anos. “É um país muito desigual, com renda muito concentrada”, disse. Ele também chamou atenção para a diferença do IDHM separado por sexo. Segundo Costa, por mais que os IDHMs que avaliam longevidade e educação para as mulheres sejam mais alto que o dos homens, o IDHM Renda para as mulheres é tão melhor que puxa a média geral do público feminino para baixo. 
 
Para a coordenadora da unidade de desenvolvimento da Pnud, Samantha Dotto Salve, a renda das mulheres ainda não compatível com o nível de estudo delas. “Isso é negativo até para a produtividade brasileira. Mulheres instruídas ficam longe da produção por conta dos afazeres fora do trabalho. Negros e brancos tiveram redução importante, mas ainda é um caminho longo para percorrer”, comentou.
 
De acordo com o diretor do FGV Social, Marcelo Neri, os indicadores mostram alguns problemas: uma pequena reversão na dimensão da renda e uma desaceleração na expectativa de vida. Apesar de observar o crescimento da esperança de vida, de 75,72 anos em 2016 para 75,99 anos em 2017, Marcelo chama atenção para a redução que acontece na comparação com números dos anos passados. De 2012 para 2013, a expectativa cresceu 0,32 (anos), de 2013 para 2014 o índice teve variação de 0,3. De 2015 para 2016, o crescimento caiu mais, apenas 0,28. Este ano, 0,27. 
 
“Nas três dimensões analisadas houveram tropeços. A expectativa de vida aumentou metade do que se crescia e teve uma grande desaceleração. Além disso, na dimensão econômica andamos para trás”, analisa Marcelo ao justificar o pequeno crescimento do índice. Os fatos destacados pelo pesquisador o fazem concluir que o estudo mostra “um estado de saturação do Brasil”. “Quando se tem aumento da expectativa de vida, é preciso fazer reformas na economia para desenvolver. Houve um avanço social sem um avanço econômico”, afirma.
 
Para ele, apesar de alguns avanços notados, o retrato nacional é preocupante devido a esta saturação observada. “O nosso modelo econômico teve vários avanços, mas chegou em um esgotamento, onde os avanços sociais estão sendo colocados em cheque”, conclui.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)

Compartilhe