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11/07/2025 - 11h36

Nova tarifa de Trump ao Brasil ameaça o Porto de Santos, que já exportou R$ 12,8 bilhões aos EUA; entenda


Fonte: A Tribuna On-line
 
Tarifa de 50% anunciada pelo governo americano ameaça exportações, impacta transportes terrestres e coloca em risco até 2,8 mil empregos diretos e indiretos ligados ao cais santista
 
A taxação de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros deve impactar negativamente as exportações a partir de 1º de agosto, data prevista para a medida entrar em vigor. Desde já, essa possibilidade de recuo no envio de mercadorias ao mercado americano acende o sinal de alerta no Porto de Santos, que é o fiel da balança comercial nacional – escoa 30% do comércio internacional – e corre risco de perder cargas se não houver solução para o impasse.
 
Em 2024, os EUA importaram mais de 8,1 milhões de toneladas via Porto de Santos, atingindo R$ 12,8 bilhões. Isso equivale a 12,6% do total exportado pelo complexo portuário, colocando os americanos atrás apenas da China, que importou 42,4 milhões de toneladas (R$ 26 bilhões e 25,5%). Os dados foram informados pela Autoridade Portuária de Santos (APS).
 
Segundo a APS, os cinco principais produtos exportados aos EUA no ano passado foram café em grãos, óleos brutos de petróleo, suco de laranja, máquinas e implementos e carnes bovinas.
 
“Não há dúvidas de que a tarifa impactará o Brasil e forçará uma reorganização das relações com outros parceiros comerciais. Neste sentido, a Autoridade Portuária de Santos está preparada para atender a eventuais mudanças no perfil das movimentações”, informou a APS, em nota à Reportagem.
 
Balança
 
A gestora do principal porto brasileiro mencionou ainda que, incluindo os seis primeiros meses de 2025, tem prevalecido um superávit a favor dos americanos. “Se considerarmos os últimos 16 anos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a vantagem comercial chega a US$ 90 bilhões a favor dos EUA. Assim, esperamos que eles não concretizem a ameaça (de tarifação de 50%), inclusive porque sairão perdendo”.
 
Perdas
 
Segundo o advogado Emanuel Pessoa, doutor em Direito Econômico e professor da China Foreign Affairs University, cerca de 35% das exportações brasileiras destinadas aos EUA — estimadas em US$ 38 bilhões (2024) — passaram pelo Porto de Santos.
 
“Isso representa aproximadamente US$ 13,3 bilhões em mercadorias. Com a possível alta tarifária, projeta-se uma queda de até 25% nesse volume, o que resultaria em uma redução de cerca de US$ 3,3 bilhões no fluxo de exportações via Santos até dezembro”, analisou.
 
“Essa desaceleração prejudicará a arrecadação do Porto. Considerando uma receita média de 0,8% sobre o valor das cargas exportadas, o impacto direto na receita portuária pode ultrapassar US$ 26 milhões — o equivalente a aproximadamente R$ 145 milhões, na cotação atual”, complementou.
 
Transporte terrestre
 
Também poderá haver recuo no transporte terrestre. “Com menos cargas partindo de estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná e Minas Gerais, o volume de fretes com destino a Santos pode cair entre 10% e 18%. Isso afetará transportadoras, cooperativas agrícolas e caminhoneiros autônomos, especialmente nos corredores logísticos Santos-Campinas-Rondonópolis, que concentram grande parte da movimentação de produtos agroindustriais e frigorificados para exportação”, disse Pessoa.
 
O especialista afirmou também que em um cenário moderado, estima-se que até 800 empregos diretos possam ser afetados apenas no Porto de Santos, além de cerca de 2 mil postos de trabalho indiretos nas áreas de logística, segurança e serviços gerais.
 
Mercado teme impacto nas vendas
 
Os portos brasileiros movimentam 95% de tudo que é produzido no País. Dessa forma, a imposição de uma taxa de importação de 50% sobre os produtos nacionais pelos Estados Unidos impactará não só a cadeia de comércio exterior, mas as operações portuárias e a economia doméstica.
 
“Qualquer alteração em alíquotas de importações gera reflexos nas atividades de comércio exterior e com consequências nas atividades portuárias. Ainda não há dados suficientes para avaliar os impactos econômicos e sociais”, afirmou o presidente da Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop), Sérgio Aquino.
 
Para o presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a medida é uma ameaça à economia do País. “É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil”.
 
Castro receia que o anúncio dos EUA possa criar uma imagem negativa do Brasil, gerando medo em importadores de outros países ao fechar negócios. “Quem vai querer se indispor com o presidente Trump? Todavia, acreditamos que o bom senso prevalecerá e a taxação será revertida”.
 
O diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, declarou que o setor está preocupado e perplexo. “O impacto direto nas exportações brasileiras para os EUA, se mantidas as tarifas de 50%, será grande. O mercado americano é o maior do mundo, uma grande diversidade de produtos importados. No caso do Brasil, serão afetados produtos como petróleo, café, carne, açúcar, celulose, sucos, frutas, semiacabados de aço, alumínio, aeronaves e peças”.
 
Gleisner disse também que o projeto Nearshoring, da Cisbra, que está em curso e busca ampliar negócios com parceiros comerciais próximos, poderia ser prejudicado pela nova taxação. “O projeto prevê um forte incremento das exportações brasileiras para os Estados Unidos”.
 
O executivo comentou ainda que a busca dos exportadores brasileiros por outros mercados já existe e faz parte da rotina, porém nenhum tem potencial, pelo tamanho e diversidade do mercado americano.
 
Tarifa do café brasileiro pode aumentar 400%
 
O Brasil é o principal fornecedor de café aos Estados Unidos. Em 2024, o País exportou 8,1 milhões de sacas para o país, 34% acima dos 6,1 milhões de sacas de 2023 e 16,1% de todas as exportações do produto no ano passado. Atualmente, a taxa de importação norte-americana é de 10%. Caso a taxa de 50% entre em vigor, a alta é de 400%.
 
Neste ano, no acumulado dos cinco primeiros meses, os EUA já importaram 2,9 milhões de sacas de café brasileiro, respondendo por 17,1% do total.
 
“É o país mais importante em termos de consumo de café, ao redor de 24 milhões de sacas, e o Brasil é o principal fornecedor nesse mercado, com mais de 30% do market share”, afirmou o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos.
 
Segundo ele, a entidade está fazendo uma agenda positiva junto à National Coffee Association, dos Estados Unidos. “É importante lembrar que o café gera muita riqueza nos Estados Unidos”.
 
O executivo destacou ainda que os EUA importam café e agregam valor na industrialização. “Para cada US$ 1 de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana, 2,2 milhões de empregos e 1,2% do PIB norte-americano, uma vez que são gerados US$ 300,1 bilhões na economia. Isso porque 76% dos norte-americanos tomam café, é a bebida mais consumida hoje no mercado”.
 
Por fim, Matos espera que o bom senso prevaleça e a previsibilidade de mercado, porque quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano. “Tudo que gera impacto no consumo é ruim para o fluxo do comércio, para a indústria e ao desenvolvimento dos países produtores e consumidores. Portanto, estamos esperançosos de que nós tenhamos uma condição muito mais apropriada e adequada para o comércio de café do Brasil para os Estados Unidos”.
 
Ranking dos cinco produtos mais exportados para os EUA via Porto de Santos
 
- Café em grãos – US$ 1,39 bilhão – 324,7 mil toneladas
 
- Óleos brutos de petróleo – US$ 1,37 bilhão – 2,9 milhões de toneladas
 
- Suco de laranja – US$ 1,03 bilhão – 1,68 milhão de toneladas
 
- Máquinas e implementos – US$ 866,3 milhões – 91,4 mil toneladas
 
- Carnes bovinas – US$ 824,5 milhões – 124 mil toneladas