Fonte: BE News
O pontífice, que morreu aos 88 anos, foi um crítico do fechamento de terminais na Europa para imigrantes e apoiou corredores logísticos para o escoamento de grãos ucranianos
O papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, teve uma relação recorrente com os portos, não apenas como espaços de passagem e comércio, mas como símbolos da solidariedade e da dignidade humana. Ao longo de seu pontificado, o líder da Igreja Católica denunciou o fechamento de portos europeus para migrantes e refugiados, cobrou das autoridades políticas o respeito ao direito à vida e apoiou iniciativas internacionais para garantir o escoamento de alimentos por rotas portuárias bloqueadas pela guerra.
Um de seus primeiros gestos foi em julho de 2013, quando escolheu a pequena ilha de Lampedusa, no sul da Itália, como destino de sua primeira visita pastoral fora do Vaticano. A ilha era, à época, um dos principais pontos de chegada de embarcações precárias vindas do norte da África. O papa celebrou uma missa no porto da ilha, lançou flores ao mar em homenagem às vítimas dos naufrágios e usou palavras duras ao criticar a “globalização da indiferença”.
Segundo ele, o Mar Mediterrâneo havia se tornado “o maior cemitério da Europa”, e a recusa dos países europeus em abrir seus portos era uma afronta à dignidade humana.
Nos anos seguintes, Francisco manteve o tema na agenda, muitas vezes se opondo às decisões de governos que impediram a atracação de navios de resgate de ONGs com centenas de migrantes a bordo. Em 2019, chegou a intervir diretamente junto a autoridades italianas para liberar o navio Ocean Viking, operado pelas organizações SOS Méditerranée e Médicos Sem Fronteiras. Em uma de suas mensagens no Angelus dominical, o papa declarou que os portos devem ser portas de acolhida, não “muros de exclusão”.
Durante a guerra entre Rússia e Ucrânia, Francisco voltou a mencionar os portos, dessa vez como esperança para a segurança alimentar global. Em julho de 2022, após meses de bloqueio russo aos principais terminais marítimos do sul ucraniano, o papa saudou o acordo assinado entre Rússia, Ucrânia, Turquia e ONU para a liberação das exportações de grãos pelos portos de Odesa, Chornomorsk e Pivdennyi. O pacto permitiu a retomada de embarques vitais para países da África e da Ásia, altamente dependentes dos cereais da região do Mar Negro.
Francisco descreveu o acordo como “um sinal de esperança” e insistiu na importância de manter os portos abertos, para que o trigo não fosse usado como “uma arma de guerra”.
Morte e legado
O papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, às 2h35 pelo horário de Brasília (7h35 no horário local), informou o Vaticano. Ele enfrentava problemas respiratórios nos últimos meses, agravados por uma pneumonia dupla que o manteve internado por cerca de 40 dias.
No último sábado (19), ele participou de uma cerimônia na Basílica de São Pedro e, no domingo (20), fez uma aparição na Praça de São Pedro para abençoar os fiéis na celebração da Páscoa.
Nascido Jorge Mario Bergoglio em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, Foi o primeiro papa latino-americano e também o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica. Filho de imigrantes italianos, foi ordenado sacerdote em 1969, tornou-se arcebispo da capital argentina em 1998 e cardeal em 2001. Foi eleito papa em 13 de março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, com a missão de conduzir reformas internas e reposicionar a Igreja diante de desafios contemporâneos.
Durante os 12 anos de pontificado, Francisco se destacou por sua postura próxima aos fiéis, sua defesa dos mais pobres e vulneráveis, sua atenção às questões ambientais e sua firme posição em defesa dos migrantes e refugiados.
Com a morte do pontífice, tem início o período de Sé Vacante até a escolha de um novo papa.