Fonte: A Tribuna On-line
Com desperdício de tempo e dinheiro, maior complexo portuário do Hemisfério Sul ainda sofre no dia a dia com gargalos históricos
Terminais, caminhoneiros, motoristas e moradores de Guarujá. Todos sofrem com a falta de infraestrutura de acesso, que já faz parte da rotina na Margem Esquerda do Porto de Santos. “Vergonha” é a palavra mais usada por quem é prejudicado e resume bem a situação do maior complexo portuário do Hemisfério Sul em relação aos gargalos logísticos.
São anos e anos de muitas promessas, paliativos e nenhuma ação efetiva do Poder Público para resolver o problema de um local que recebe diariamente mais de 6 mil caminhões. A Rua Idalino Pinez, popular Rua do Adubo, em Vicente de Carvalho, é a única via de entrada e saída para os veículos pesados envolvidos em operações portuárias na região, entre a Rodovia Cônego Domênico Rangoni e a Avenida Santos Dumont.
Tem quase um quilômetro de extensão e fica no Jardim Boa Esperança, nome sugestivo para representar o sentimento que ninguém por ali tem mais. “O movimento vem aumentando, mas a Rua do Adubo sempre foi a única de acesso. Não tem como fazer milagre. Não adianta querer mudar semáforo ou posição de rua. Temos que fazer um novo acesso para suportar os caminhões”, afirma o empresário Agnaldo Biazotto, morador do local há 45 anos e dono de oficina há 10. “Andaram tapando buracos, mas vão abrir outros, porque o fluxo é muito grande. A manutenção está sendo feita, mas não suporta”, emenda.
O caminhoneiro autônomo Ernani Alves, o Japão, que mora no bairro desde que nasceu, há 60 anos, já cansou de falar a mesma coisa. “Aumentar o fluxo de caminhões é bom, porque traz trabalho e mostra que o Brasil está andando. Só que o local não suporta”.
Ações paliativas
Os dois se referem a mais ações paliativas feitas nos últimos meses pela Prefeitura de Guarujá e pela Autoridade Portuária de Santos (APS), após manifestação de associações de caminhoneiros e paralisação das atividades, em fevereiro.
“Percebemos que existiam mudanças, a partir de ideias deles, que poderiam ser feitas sem demanda financeira grande e que não dependiam de obras complexas”, explica a secretária de Defesa e Convivência Social de Guarujá, Valéria Amorim, que estava à frente do processo.
Na Rua do Adubo, foi realizada limpeza e manutenção na rede de drenagem, operação tapa-buracos, além de recomposição asfáltica e dos trechos em paralelepípedos.
A Prefeitura alterou a sinalização horizontal da via, ampliando o número de faixas de rolamento na pista sentido rodovia, bem como os tempos semafóricos no cruzamento com a Avenida Santos Dumont, o que reduziu a fila de caminhões no trecho. No caso, são duas faixas sentido rodovia e uma na direção inversa.
No acesso do km 7, na Avenida Santos Dumont e no acesso ao terminal Santos Brasil, também foram realizadas atividades de manutenção viária, igualmente com execução de tapa-buracos e recomposição asfáltica.
A secretária de Defesa e Convivência Social acrescentou que uma equipe foi contratada pela APS – e que fica em Guarujá – com a finalidade de tapar buracos. Antes, havia apenas uma, porém alocada em Santos.
Nunca resolveu
As medidas que só empurram o problema são conhecidas na Margem Esquerda. Tapar buracos e mudar direção de ruas não é novidade. Em março de 2011, ou seja, há mais de 13 anos, A Tribuna publicava que, após passar por mudanças viárias cujo objetivo era amenizar a confusão do trânsito de caminhões, a “historicamente problemática” Rua Idalino Pinez era “o próprio cenário de desrespeito à legislação e de abandono ao espaço público”. Na ocasião, as alterações de mão da via não amenizaram os congestionamentos, mas facilitaram infrações de caminhoneiros.
Novo governo, novas promessas para a região
A solução, segundo os caminhoneiros, virá com as obras prometidas pelo Governo Federal. Elas foram anunciadas pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, em 11 de março, na sede da Autoridade Portuária de Santos (APS).
Trata-se da segunda fase da Avenida Perimetral da Margem Esquerda, com traçado estudado pela APS, além de discutido e aprovado junto à Prefeitura de Guarujá. A revisão do projeto e a execução das obras estão estimadas em R$ 580 milhões, obtidos por intermédio de recursos públicos.
A importância do empreendimento é tanta que, depois da conclusão, a Rua do Adubo não será mais utilizada para operações portuárias e voltará a atender somente o trânsito municipal.
De acordo com a APS, a revisão do projeto visa, principalmente, à redução das desapropriações necessárias para implantação do empreendimento, além do atendimento a solicitações da Prefeitura Municipal do Guarujá para atualização, considerando o cenário atual da região e o Plano Diretor.
O projeto consiste na complementação do Sistema Viário Perimetral da Margem Esquerda do Porto de Santos, promovendo a segregação e a racionalização do tráfego de veículos pesados, provenientes, principalmente, das atividades portuárias. Além da adequação do traçado das avenidas Santos Dumont e Perimetral, prevê adequação de passeios e ciclovias, implantação de dispositivos de conexão viária e adequações hidráulicas, elétricas, bem como sinalização rodoviária.
Viadutos
Está prevista a construção de viaduto de transposição à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, que interligará os terminais portuários à estrada no sentido São Paulo, eliminando o tráfego pesado das vias urbanas de Vicente de Carvalho. Também contempla a execução de um outro viaduto na Avenida Santos Dumont, sobrepondo-se à Avenida Perimetral, e outro para acesso ao Sítio Conceiçãozinha.
A licitação para revisão do projeto está em fase de planejamento, sendo a publicação do edital prevista para este mês e a contratação para julho. Após a elaboração do projeto básico, estimado em 18 meses, as obras serão iniciadas.
Enquanto isso, o jeito é seguir conversando com a Prefeitura e com a APS. “Queremos continuar ajudando os caminhoneiros com fiscalização, colocando os agentes na rua, fechar as vias que forem necessárias e dar apoio. Por enquanto, não é problema para ser resolvido de uma só vez”, afirma o secretário da Mobilidade Urbana de Guarujá, Marcio Jair Rampini, que passou à interlocução da Administração no tema. (TS)
Parceria
Apesar de cobrarem solução definitiva, as entidades de caminhoneiros de Guarujá acharam positivas as pequenas intervenções na Rua do Adubo. “Para fazer o chamado vira, que é o trabalho porto a porto, chegava a demorar umas três horas. Com as alterações, chegou a uma hora”, diz o presidente da Associação Porto-Guarujá, Everton Pereira da Silva. A satisfação dos caminhoneiros foi maior porque partiram de sugestões trazidas pela própria categoria. “Fomos repassando às autoridades, que nos atenderam na medida do possível”, afirma o presidente da Associação dos Transportes Autônomos de Contêineres (Atac), Vinilson Panta dos Santos. “A parceria com a Prefeitura e a APS tem ajudado bastante”, completa o presidente da Associajá, Rafael Nonato.