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Sinais de avanço, mas com um alerta

Fonte: Editorial O Estado de S. Paulo
 
Prévia do PIB mostra primeiro trimestre positivo, mas o impulso da recuperação pode estar acabando
 
Com um bom começo de ano, a economia cresceu 1,5% no primeiro trimestre, superou por 2,4% a produção de um ano antes e acumulou avanço de 4,9% em 12 meses, segundo o Monitor do PIB-FGV, a mais completa prévia das contas oficiais. Se esses números forem confirmados, o País terá superado no período anual até março o desempenho de 2021, quando o Produto Interno Bruto (PIB) se expandiu 4,6%. Nos primeiros três meses deste ano a produção da agropecuária foi 1,7% maior que a do trimestre final do ano passado. Pela mesma comparação, a produção industrial cresceu 0,5% e a dos serviços aumentou 0,8%.
 
Com ganho de 5,7% em 12 meses, o setor de serviços tem exibido uma firme recuperação, depois de ter sido severamente afetado, até os primeiros meses de 2021, pelos efeitos da crise sanitária iniciada em 2020. Por ter sido fortemente impactado, esse setor tem tido amplo espaço para crescer e retomar o nível de atividade anterior à pandemia, observou a coordenadora da pesquisa, a economista Juliana Trece. Mas esse comentário positivo foi acompanhado de uma advertência: o impulso proporcionado pela normalização das atividades está se esgotando e isso “liga um alerta para a sustentabilidade do crescimento”.
 
Essa tendência de esgotamento está incorporada nos cálculos de especialistas. Mesmo com algum aumento nas últimas semanas, as projeções de expansão do PIB em 2022 ainda estão, na maior parte, agrupadas em torno de 1%. Pouquíssimas se aproximam de 2%. Esse número aparece, com maior frequência, nas expectativas para os anos seguintes e corresponde ao potencial de crescimento estimado para o Brasil.
 
O potencial de expansão econômica depende, no médio e no longo prazos, do investimento em capacidade produtiva. Isso inclui investimento em fatores físicos, como máquinas, equipamentos, prédios e infraestrutura. No Brasil, o valor investido nesses bens aumentou 2,8% no primeiro trimestre e 12,6% em 12 meses, segundo o Monitor, mas ainda atingiu soma equivalente a apenas 18,4% do PIB, pouco superior à média do período iniciado em 2000. Essa média é muito inferior aos níveis observados em países emergentes mais dinâmicos que o Brasil, frequentemente superiores a 25%.
 
Mas o potencial produtivo e, portanto, de crescimento, depende também da aplicação de recursos em fatores intangíveis, como educação, ciência e tecnologia. O balanço brasileiro, na formação desse tipo de capital, é bem pior que o do investimento em fatores físicos e regrediu a partir de 2019. Uma das marcas desse período foi o conflito do presidente Jair Bolsonaro com a ciência, a educação e as artes. O desmonte do Ministério da Educação, hoje dirigido pelo quinto titular em menos de quatro anos, foi uma das façanhas do agora candidato à reeleição.
 
Condições mais propícias ao crescimento e à modernização poderão resultar das próximas eleições. Mas o debate eleitoral, até agora, tem sido muito insatisfatório para quem espera propostas de ajuste econômico, de aumento da produção e de melhora de perspectivas sociais.
 

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