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Trabalho remoto é duas vezes maior no serviço público

Fonte: Valor Econômico
 
A parcela de funcionários públicos que estão trabalhando de casa aumentou apesar da crescente flexibilização do isolamento social, e é duas vezes maior que a de empregados da iniciativa privada na mesma situação. A constatação é de técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que analisaram microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19, do IBGE, para os meses de maio e junho. De acordo com os pesquisadores, 24,7% dos empregados no setor público, cerca de 3 milhões de pessoas, trabalhavam de forma remota ao fim de junho. No mesmo período, somente 8% dos trabalhadores do setor privado, 5,7 milhões de pessoas, tiveram essa oportunidade naquele mês. 
 
O Ipea também detectou que esse contingente do funcionalismo tem aumentado: subiu 1,9 ponto percentual na virada de maio para junho, enquanto o do setor privado recuou em razão da abertura da economia (-0,2 p.p.). No total, segundo o IBGE, 13,3% dos brasileiros ocupados e não afastados trabalharam de casa em junho. “Já esperávamos esse resultado pela própria natureza laboral do funcionalismo, mais relacionado a serviços e gerência”, afirma o técnico do Ipea Geraldo Góes. “Mas a desigualdade fica mais clara quando se observa que, mesmo com a reabertura, 200 mil servidores entraram em teletrabalho e número parecido deixou essa condição no setor privado”, diz. Para o pesquisador, enquanto a flexibilização pressionou empresas privadas à volta do trabalho presencial, alguns órgãos públicos tiveram percepção de agravamento do contágio e resolveram aderir à modalidade remota. 
 
O Ipea avançou na aplicação de modelo desenvolvido pela Universidade de Chicago para estimar o potencial de teletrabalho na economias americana e de 86 países, entre os quais o Brasil. Segundo o Ipea, 22,7% das ocupações poderiam ser desempenhadas de casa, o que contempla cerca de 20 milhões de pessoas. Nessa linha, mais da metade do funcionalismo, 50,7% ou 5,9 milhões de servidores, poderia estar em teletrabalho, enquanto essa proporção cai para 18,6%, ou cerca de 15 milhões, entre empregados privados.
 
Por região, o Ipea identificou que, ao fim de junho, o Sudeste concentrava 58,4% de toda a população ocupada em teletrabalho do país, seguido de Nordeste (16,7%), Sul (13,9%), Centro-Oeste (7,7%) e Norte (3,3%). Góes afirma que a disparidade está em linha com a literatura internacional, que aponta forte relação entre renda per capita e potencial de teletrabalho. Tomando como base a população ocupada em cada região, o Sudeste também liderou: em junho o percentual de trabalhadores atuando remotamente - 16,2%. No Nordeste 10,3% estavam trabalhando de casa, seguido por Sul (9,9%), Centro-Oeste (11%) e Norte (5,7%). Na comparação por unidade da federação, ao fim de junho, o Distrito Federal tinha a maior proporção de ocupados trabalhando de casa naquele mês (25,8%), devido à concentração de servidores. Em seguida, surgem Rio de Janeiro (22,8%), que apresenta um misto de mercado e aparato estatal fortes, São Paulo (18%), Paraíba (16%) e Ceará (14,3%). Para Góes, a aparição da Paraíba no topo e de Estados mais ricos no fim da lista pode ser explicada pelas diferenças na trajetória da pandemia pelo país, o que tem ensejado graus de isolamento e reabertura também diferentes. O fim do ranking é dominado por Estados do Norte, sendo o pior o Pará (4,1%). 
 
Por fim, o Ipea identificou o perfil mais prevalente entre os que trabalham de casa: mulher branca de 30 a 39 anos com diploma de nível superior. Em junho, as elas eram 55,5% e eles 44,5%. Na comparação por cor, diferença ainda maior: 63,8% daqueles em teletrabalho eram brancos, enquanto somente 34,4% eram pretos ou pardos.
 

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