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Roberto Jefferson e o Ministério do Trabalho: o passado explica o receio

Fonte: Rede Brasil Atual / Blog do Marcelo Auler 
 
Na antiga DRT do Rio sempre mandava o PTB comandado por Jefferson. Com a filha Cristiane Brasil na chefia da pasta, terá o ministério 

 
Pode-se dizer que não se trata de pré-conceito, ao se repudiar o fato de a filha do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, Cristiane Brasil, ser emplacada no cargo de ministra do Trabalho. Talvez haja quem considere um mero preconceito. Na verdade, quem conhece um pouco da história contemporânea do Brasil constatará que é sim um pós-conceito.
 
Jefferson, como político que se alia ao governo de plantão, sempre foi considerado “dono” das indicações para a área do Trabalho no estado do Rio de Janeiro.
 
Tanto nos governos de FHC como até no primeiro governo de Lula (2003), era ele quem indicava, em nome do PTB, o ocupante da então Delegacia Regional do Trabalho (DRT), que hoje se tornou superintendência. Agora, na definição de Fernando Brito, do TijolacoMinistra Cristiane, mas pode me chamar de Roberto Jefferson – ele, através da nomeação da filha, acabou ganhando o ministério.
 
No governo do PT, como narramos na biografia do ex-procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro e ex-deputado federal Antônio Carlos Biscaia (Biscaia – editora Cassará, 2012), ao respeitar o acordo feito em torno do apoio dos petebistas a Lula no segundo turno das eleições de 2002, o então chefe da Casa Civil do governo, José Dirceu, rechaçou as indicações dos seus correligionários do Rio para a DRT. Manteve o PTB no comando da delegacia.
 
“A indicação é do Jefferson. Política se faz com compromisso e fiz um acordo com ele para apoiar o Lula no segundo turno”, definiu Dirceu em uma conversa com Biscaia, em fevereiro de 2003.
 
Com esta posição, dois nomes que o PT do Rio indicava ficaram ao relento: o então advogado trabalhista e hoje deputado federal Wadih Damous, e o sindicalista, dirigente da CUT, ex-secretário estadual do Trabalho no governo de Benedita da Silva, Adeílson Ribeiro Telles.
 
A primeira indicação feita por Jefferson, à época, foi barrada pelos levantamentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O nome não era confiável. Nem chegou a ser conhecido. O escolhido então foi o auditor-fiscal do trabalho Henrique Pinho. Ficou na função até junho de 2005.
 
Com o surgimento do chamado mensalão, detonado por uma denúncia do próprio Jefferson na tribuna da Câmara, o então deputado caiu em desgraça junto ao governo e Pinho foi substituído por Lívia Arueira, servidora do ministério, que conhecia a fundo a Divisão de Fiscalização em Segurança e Saúde do Trabalho.
 
As consequências da passagem de Pinho pela DRT do Rio de Janeiro, porém, só vieram a público quase um ano depois. Surgiram em abril de 2006, em uma ação conjunta da própria Corregedoria do Ministério do Trabalho – na época já comandado por Luiz Marinho, sindicalista, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista e ex-prefeito de São Bernardo – com a Polícia Federal e a Procuradoria da República.
 
Foi a Operação Paralelo 251, que toda a imprensa cobriu com destaque na época, mas acabou esquecendo dela. Inclusive agora, quando o político cassado passa a ter mais poderes ainda. Antes, seu grupo dominava uma DRT. Agora, sua filha, Cristiane Brasil (ou será o próprio, como diz o Tijolaço?) assumirá o comando de todo o ministério.
 
Como noticiou a Folha de S.Paulo (5/4/2006), na Operação Paralelo 251 foram presos 55 suspeitos, entre auditores-fiscais do trabalho, servidores da DRT e até funcionários aposentados que negociavam com empresários – muitos deles de empresas de ônibus – propinas para fazerem vista grossa das ilegalidades descobertas nas fiscalizações nas empresas. Até processos com autuações desapareciam.
 
(...)
 
O que ressalta aos olhos é que na antiga DRT-RJ o poder político era do PTB, comandado, como continua a ser, por Jefferson. Agora seu poder irá ampliar. Mandará no ministério como um todo. Resta saber se órgãos internos de controle funcionarão como devem para evitar que tais esquemas se repitam. Só o tempo dirá.
 
Leia artigo completo no Blog do Marcelo Auler
 

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