Fonte: A Tribuna On-line
O túnel Santos-Guarujá também deve impedir que a pista do aeroporto seja ampliada posteriormente para receber aviões maiores
O brigadeiro Steven Meier, subdiretor de Engenharia da Diretoria de Infraestrutura da Aeronáutica, afirmou que o atual projeto do túnel imerso entre Santos e Guarujá pode atrapalhar as operações do futuro aeroporto, que funcionará na Base Aérea de Santos, no Distrito de Vicente de Carvalho, e impedir que a pista seja ampliada posteriormente para receber aviões maiores. O alerta foi dado na última quarta-feira (8), durante audiência da Comissão de Viação de Transportes da Câmara dos Deputados, em Brasília, chamada pela deputada federal Rosana Valle (PL).
“Do jeito que ele (o projeto) foi concebido, traria alguma limitação para a pista, no momento em que ele se tornaria um obstáculo para a aproximação de uma das cabeceiras”, diz ele.
Segundo o brigadeiro, há alguns meses a Aeronáutica teve uma conversa com a Autoridade Portuária de Santos (APS) e apontou esse conflito. “Ou a gente precisa trocar o traçado dessa rodovia (Cônego Domenico Rangoni) ou ‘mergulhar’ esse traçado para que não gere nenhum obstáculo para a cabeceira”, afirma Meier. “O importante é justamente que essa rodovia, ao sair do túnel (em Guarujá), não cause nenhum impacto para a pista”, completa.
O investimento para construir esse “mergulhão rodoviário” seria de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões, segundo calculou Meier durante a audiência. “O projeto, do jeito que ele foi imaginado, está simplesmente em forma de traçado, não se definiu exatamente a cota dessa rodovia. Se mergulharmos essa rodovia, ou seja, se for também um túnel no cruzamento com a cabeceira, ele não gera absolutamente nenhum impacto”.
O problema, revela o militar, é uma possível cota superior da pista. “Não chega a inviabilizar a operação (do aeroporto), mas, se houver a necessidade de recuar a cabeceira, algumas aeronaves deixariam de operar”, ressalta.
A atual pista do aeroporto tem 1.390 metros de comprimento. “Existe uma possibilidade de expansão de cerca de 200 metros que permite, inclusive, a operação de aeronaves de maior porte. Isso é uma coisa estratégica que tem de ser pensada agora, já na fase de elaboração do projeto, para que o túnel não gere impacto no aeroporto. Pelo contrário: acho que, se isso for bem planejado, uma coisa vai somando com a outra e vai gerando desenvolvimento para a região”.
Surpresa e subcomissão
A deputada Rosana Valle ficou surpresa com a necessidade de ajuste no projeto do túnel. “Falta um entrosamento entre os gestores dos projetos do aeroporto e do túnel, uma vez que são obras geograficamente muito próximas”, comenta, para A Tribuna.
“É inconcebível que o aeroporto não possa ser ampliado futuramente, por conta do traçado dos acessos do túnel. Felizmente, esse detalhe ainda pode ser resolvido pelo diálogo técnico entre os órgãos envolvidos que podem rever os projetos e adequar as necessidades”, acrescenta.
Rosana solicitou à Comissão de Viação e Transportes a criação de uma subcomissão, com a participação da Secretaria de Aviação Civil do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor); da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac); Prefeitura de Guarujá, Aeronáutica e da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Esses órgãos, segundo ela, já se comprometeram a participar desse grupo de trabalho.
A criação da subcomissão precisa ser aprovada pelo presidente da Comissão de Viação e Transportes, o deputado federal Mauricio Neves (PP-SP). “O pedido já foi protocolado. Com isso definido, vamos organizar um cronograma de reuniões e acompanhamento das obras”, explica.
Procurada, a APS disse que projeto do túnel é um “desenho conceitual” e que com a definição da construtora “os detalhes técnicos serão inseridos e aspectos como este levantado pela Aeronáutica serão debatidos e aplicados - se viáveis - ao projeto executivo”.
Pelo Governo Estadual, apenas a Cetesb, responsável pelo licenciamento, respondeu. Disse que o aeroporto foi considerado nas análises de alternativas do projeto. “A conexão viária com a Rodovia Cônego Domênico Rangoni será implantada em nível superficial, sem interferência nas operações aéreas”.
Encontro
A reunião sobre o túnel imerso Santos-Guarujá que estaca marcada para ontem, conforme antecipou A Tribuna, ocorreu na sede da Autoridade Portuária de Santos (APS). Além da presença do presidente da APS, Anderson Pomini, também compareceram os prefeitos de Santos e Guarujá, Rogério Santos (Republicanos) e Farid Madi (Pode), o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), coordenador da comissão externa da Câmara dos Deputados para monitorar as obras do Túnel Santos-Guarujá, e representantes da empresa Mota-Engil, vencedora do leilão de implantação do túnel. Foi o primeiro encontro entre os envolvidos na obra.
A APS e as Prefeituras receberam da empresa o compromisso de compartilhamento das informações, com a garantia de preocupação com os prazos e providências com relação ao canteiro de obras, ao impacto geológico e ao desenvolvimento socioeconômico do entorno.
A implantação do canteiro de obras em área da União em Guarujá, porém, não foi decidida, como era a expectativa. Os detalhes técnicos serão debatidos e apresentados após a assinatura do contrato, diz a APS. O túnel Santos-Guarujá é uma obra avaliada em R$ 6,8 bilhões, sendo que R$ 5,14 bilhões serão custeados meio a meio entre a União e o Governo Paulista.