Fonte: A Tribuna On-line
Estudo aponta que a adoção de hub ports, com destaque para o cais santista, pode triplicar o transbordo de contêineres, reduzir custos logísticos e impulsionar a conectividade dos portos nacionais
Se o sistema portuário brasileiro contasse com um ou mais portos concentradores e distribuidores de cargas, os chamados hub ports, seria possível triplicar o transbordo de contêineres para portos menores no País, adotando uma logística mais ágil, eficiente e com menor custo. É o que aponta o estudo “Contribuições para o planejamento da consolidação de hub ports no Brasil” desenvolvido pela consultoria A&M Infra, Navarro Prado Advogados e APM Terminals, anunciado ontem. O documento indica ainda que o Porto de Santos tem vocação natural para ser um hub port.
Segundo o sócio-diretor da consultoria A&M Infra, Marcos Pinto, na prática, os portos concentradores estão aptos a receber navios que transportam até 15 mil TEU (contêiner padrão de 20 pés), o equivalente a 100 mil toneladas. A carga desembarca, fica concentrada e é distribuída entre navios de menor porte (feeder, 4 mil TEU) com destino a portos menores. Essa distribuição de cargas é conhecida como hub-and-spoke, uma tendência mundial que otimiza a logística como um todo, mas que o Brasil ainda não adota por falta de infraestrutura portuária.
A operação de um hub eficiente permitiria reduzir o tempo de layover (conexão de um contêiner entre o navio de longo curso e o de cabotagem), que hoje varia de 5 a 7 dias nos portos do País, reduzindo atrasos e contratempos para as escalas seguintes. Ao conectar serviços de feeder ao hub, amplia-se a conectividade de portos menores com as diferentes linhas dos armadores e portos de destino.
“A consolidação de um ou mais hub ports no Brasil significaria um acréscimo potencial de até 4,6 milhões de TEU de transbordo, em volumes de 2023. Neste mesmo ano, foram movimentados no transbordo 2,4 milhões de TEU. Num cenário mais arrojado, com hub ports, o volume de transbordo poderia triplicar, saltando dos atuais 18% para algo entre 30% e 40%”, avaliou o diretor de Investimentos da APM Terminals para as Américas, Leonardo Levy.
Primeiro passo
Contudo, os especialistas defendem que o primeiro passo deve partir do poder público. “O Governo Federal precisa ter um planejamento orçamentário para alocar recursos para isso. A obrigação de investimento poderia ser incluída no contrato de arrendamento do terminal, mas é preciso avançar nessa etapa de planejamento”, afirmou o sócio do escritório Navarro Prado Advogados, Lucas Navarro Prado.
Conforme o estudo, hipoteticamente, se o hub-and-spoke fosse adotado na rota da costa leste da América do Sul para a Ásia, poderia reduzir o custo do transporte marítimo em 13%. Se tal solução viesse a ser adotada para os principais serviços dessa rota, a economia seria de cerca de R$ 600 milhões ao ano em 2030.
Porto de Santos
Marcos Pinto disse que o Porto de Santos é um candidato natural e favorito a se tornar um hub brasileiro. “É o maior da América Latina, responde por cerca de 40% da movimentação nacional de contêineres e é o único que recebe todas as linhas de longo curso (internacionais) que passam pela costa leste da América Latina, mas o acesso aquaviário não permite a operação de novas classes de navios em sua plena capacidade”.
Ao que Levy complementou: “Hoje, o Porto de Santos tem transbordo, mas poderia intensificar isso se acomodasse um hub, desde que tivesse terminal com grande capacidade e infraestrutura no canal de acesso”.
O executivo observou também que o sistema estimula toda a cadeia de transporte marítimo. “Se isso acontecesse em Santos, a gente teria aumento de 60% na cabotagem, o que exigiria aumentar a frota de navios, eventualmente usar estaleiros nacionais, construir embarcações ou aumentar a demanda por reparo dos navios. Então, você estimula o crescimento do número de oficiais da Marinha Mercante”.
Concessão permitirá dragagem de aprofundamento e expansão
O Governo Federal tem uma visão alinhada ao estudo proposto. Ontem, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciou que a concessão do canal de navegação do Porto de Santos à iniciativa privada ocorrerá no último trimestre de 2026. Atualmente, o projeto está em fase de elaboração de estudos pela Autoridade Portuária de Santos (APS).
Em entrevista no Summit Antaq 2024, promovido pelo Grupo Tribuna e pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) na última terça-feira, em Brasília, a secretária-executiva do Ministério de Portos e Aeroportos, Mariana Pescatori, comentou sobre a importância desse movimento para a ampliação a cabotagem.
“Para termos um aprofundamento do canal (dragagem) para 17 metros, a ideia é que parta para uma concessão de longo prazo. Hoje, temos restrição e os maiores navios do mundo não escalam Santos. Então, com um canal mais profundo, a ideia e que esses navios atraquem em Santos e a gente possa, por cabotagem, fazer a distribuição para os outros portos do País”.
Mariana complementou que, devido à falta de capacidade de Santos, “hoje, muitas cargas são deslocadas para os portos do Paraná e Santa Catarina”.
Outros portos
Além de Santos, Paranaguá (PR), Itapoá (SC), o complexo Itajaí-Navegantes (SC), Suape (PE) e Pecém (CE), também poderiam se tornar hub ports, de acordo com o levantamento, por possuírem grandes grupos que transportam e operam cargas nos próprios terminais (verticalização), potencial para expansão e aumento de capacidade e fácil adequação do acesso aquaviário. Esses atributos favorecem os planejamentos de importadores, exportadores, armadores e serviços específicos.