Fonte: BE News
Especialistas apontam que falhas na malha ferroviária e atrasos nas operações portuárias ameaçam a competitividade do Brasil no mercado global
Com o crescimento das exportações de grãos e outros produtos agrícolas, o Porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina, enfrenta desafios críticos de infraestrutura. A afirmação é do diretor de logística para a América do Sul da ADM, Vitor Vinuesa. Ele participou do painel “Competitividade e demandas logísticas da agroindústria” durante o Sudeste Export 2024.
Vinuesa explica que, empresas como a ADM, especializada em grãos, relatam dificuldades na gestão logística e no escoamento de cargas devido à sobrecarga das vias ferroviárias e restrições no canal de navegação.
O representante da ADM destacou que, embora a profundidade do canal de navegação não seja o maior dos problemas, o fluxo intenso de navios, incluindo cruzeiros, impacta negativamente a operação, afetando a eficiência dos terminais de granel. “Precisamos redesenhar toda a parte de movimentação e entrada e saída de navios”, disse Mauro, ressaltando que a demanda crescente por navios maiores e mais eficientes esbarra nas limitações do porto e nas exigências comerciais da China, principal destino das exportações brasileiras de soja e milho.
Um dos gargalos mais evidentes está na malha ferroviária. Atualmente, apenas 50% da carga da ADM é transportada por ferrovia, com potencial para atingir 80%. No entanto, a falta de infraestrutura adequada, especialmente na Baixada Santista, impede o pleno uso desse modal. “Esse é o nosso maior desafio. Há investimentos em andamento, mas eles não acompanham a expansão dos terminais”, afirmou o presidente da Associação Comercial de Santos, Mauro Sammarco, mencionando que novos terminais devem começar a operar nos próximos anos, intensificando ainda mais a competição por capacidade logística.
O modal rodoviário, apesar de menos eficiente, continua sendo fundamental para o escoamento, agravando o congestionamento das estradas. Sammarco enfatizou a necessidade de repensar a gestão logística para evitar a fuga de cargas para outros portos, especialmente no Arco Norte, que tem ganhado relevância com o crescimento das operações em portos como Itaqui e Barcarena.
Outro ponto crítico levantado foi a falta de contêineres e atrasos no fornecimento de navios, problemas que impactam especialmente o escoamento de café e produtos frigorificados. “Estamos perdendo competitividade”, alertou o presidente da ACS, mencionando que a demanda por exportações continua a crescer, mas a infraestrutura brasileira ainda não está preparada para suportar esse aumento.
Atrasos
O diretor técnico do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Eduardo Heron Santos, afirmou que 86% dos navios transportando café chegaram com atraso ao Porto de Santos no último mês de agosto.
Ele ressaltou que os atrasos nas operações portuárias, especialmente nos portos de Santos e Rio de Janeiro, são problemas crônicos, mas que têm se intensificado. Apenas no mês de agosto, 86% dos navios transportando café para Santos chegaram com atraso, refletindo uma situação alarmante para a logística cafeeira.
Os especialistas entraram em consenso ao afirmar que o Porto de Santos enfrenta um cenário de necessidade urgente de modernização, com investimentos estruturais que permitam maior eficiência no escoamento das exportações. O desenvolvimento de sistemas como o Port Community System (PCS), que busca otimizar as operações portuárias, pode ajudar, mas entre eles há a opinião em comum de que será necessário um esforço conjunto entre setor privado e Governo para lidar com o aumento da demanda.
O Sudeste Export 2024 foi uma edição regional do Brasil Export, principal fórum de debates sobre o desenvolvimento dos setores de portos, logística, transportes e infraestrutura do país. Sua programação foi transmitida pela TV BE News no canal 82 da Sky; canal 58 da parabólica; e em sinal aberto para a Grande Campinas no canal 19. Está disponível no canal @tv_benews no Youtube; e no site
www.tvbenews.com.br.