Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
Nos últimos anos, acompanhamos uma agenda focada na tão conhecida relação do porto com a cidade
Nos últimos anos, acompanhamos uma agenda focada na tão conhecida relação do porto com a cidade. Uma relação que a meu ver inexiste e que a cada ano se distancia ainda mais. Empregos, capacitação e oferta de oportunidades são os principais pilares, mas o foco sempre esteve em obras que não ajudaram nem o porto e muito menos as cidades.
Se olharmos para o Guarujá, a situação somente piora! Impressiona o olhar voltado para Santos, esquecem que existe operação portuária no lado de Guarujá também. Talvez nesse sentido, Guarujá tenha tido sorte em não contar com a passarela da agonia e com o Parque Valongo no meio de suas operações portuárias. O colapso dos acessos por lá é igual ou pior do que em Santos.
Estamos em plena campanha política e ainda não percebi de nenhum candidato uma preocupação com a relação do porto com a carga. Uma relação fundamental para que os negócios prosperem. Sem empresas não tem operação portuária e muito menos relação do porto com a cidade. Devemos deixar de lado o discurso vazio e nos ater às necessidades concretas e emergenciais.
Aprendi algo curioso com um grande empresário: no Brasil matamos a galinha dos ovos de ouro de fome, porque só retiramos os ovos e esquecemos de alimentá-la. Ainda temos um péssimo hábito de tratar muito bem as pessoas antes que elas se tornem clientes. Depois que conseguimos, tratamos como inimigos.
A gestão eficiente nos portos é fundamental para a economia local e nacional. Entretanto, não conseguimos resolver problemas já alarmados por muitos ao longo de décadas: aprofundamento do canal, acessos rodoviários, STS10 e nova ligação com o planalto.
O aprofundamento do canal não avança por um modelo licitatório que enfrenta diversos obstáculos. Cabe pontuar que isso afeta outros negócios. Uma lei que obriga isonomia, igualdade em participação e foco nos custos e entrega obras judicializadas, custos altos e ineficiência.
Quando olhamos para os acessos rodoviários, acompanhamos a construção de um viaduto na Via Anchieta, em Santos, por exemplo, que prometia ajudar no fluxo de caminhões. Hoje está subutilizado. Na oportunidade, alarmou-se que a responsabilidade do Município foi feita e do Estado também, faltando apenas a entrega por parte do Governo Federal.
Construímos a nova entrada de Santos e deixamos de lado a entrada do Porto de Santos. A nova entrada saiu do papel pelo esforço e investimento do Município e do Estado, que entregaram aquilo pelo qual eram responsáveis. Contudo hoje o novo acesso ao Porto de Santos será feito pelo Estado e não mais pela União, que era responsável e deixou de ser. Ninguém se entende ou todos se entendem?
O STS10 enfrenta a complexidade dos processos de concessões do Brasil, onde a legislação que regula o rito é um verdadeiro “Frankenstein” e montado com vários decretos. Não obstante disso, ainda sofre com interferências e estratégias mal elaboradas.
Foi anunciado o terminal de passageiros com obra prevista para 2025. Ao mesmo tempo anunciada a prorrogação do Ecoporto por mais dois anos e, por fim, anunciado que a licitação da área deve ser feita de imediato para movimentação de contêineres. Ninguém se entende ou todos se entendem?
O que temos de entender é que o Porto de Santos não pode desprezar a carga. Contêineres, passageiros e cargas de projeto são importantes para o negócio. Todos geram valor agregado e promovem o emprego e o desenvolvimento.
É necessário espaço para todos e que a gestão esteja com os olhos na carga e não em interesses momentâneos que irão certamente comprometer o futuro do maior porto do Hemisfério Sul ou o maior dos menores. Temos de pensar grande, ser grande e agir como tal!
Especialistas já alertam ao longo de anos que Santos perde carga para outros portos e outros terminais/empresas estão realizando investimentos fora do nosso porto. Será que a única preocupação política atual é com a relação do porto com a cidade? Quem está se preocupando com a estratégia para atrair cargas para o Porto e com a relação do Porto com seu principal cliente, a carga?
O interesse público está na relação do porto com a cidade ou do porto com a carga? Quanto à terceira via, podemos dizer que é um sonho de verão, assim como o tal do túnel?
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°