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01/07/2024 - 11h23

Criado para controlar a escalada da inflação na década de 90, Plano Real completa 30 anos


Fonte: O Liberal
 
Desde 1994, a moeda brasileira trouxe controle inflacionário e crescimento econômico, marcando uma nova era
 
O Plano Real, que introduziu a atual moeda brasileira, completa 30 anos nesta segunda-feira, 1º de julho. Criado durante o governo de Itamar Franco (1992-1995), foi o único plano a controlar a escalada de preços que, em 1993, chegou a 2.500%.
 
“A inflação estava fora de controle. Comprar pão francês dependia da hora do dia, com preços variando constantemente, causando grande incerteza econômica e social”, relembra o economista Múcio Zacharias.
 
Em 1º de julho de 1994, o programa de estabilização culminou com o lançamento do real (R$). A nova moeda substituiu o cruzeiro real, com uma paridade de CR$ 2.750,00 para cada R$ 1,00. A inflação acumulada até julho foi de 815,60%, e a primeira inflação sob o real foi de 6,08%, a menor em muitos anos.
 
Segundo Zacharias, o Plano Real estabilizou a hiperinflação com uma abordagem mista, introduzindo a nova moeda e a URV (Unidade Real de Valor) para ancorar expectativas. “O objetivo era quebrar a inércia inflacionária, mantendo o valor estável enquanto preços e salários eram convertidos para a nova moeda”.
 
Além disso, o governo adotou políticas fiscal e monetária rigorosas para controlar o déficit público e reduzir a liquidez. Uma âncora cambial inicial, fixando o real ao dólar, ajudou a estabilizar expectativas inflacionárias e atrair investimentos estrangeiros.
 
O economista Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que a vida dos brasileiros melhorou significativamente nos primeiros anos após a implementação do Plano Real.
 
“A estabilização dos preços restaurou o poder de compra das famílias, permitindo um planejamento financeiro mais confiável e estimulando o consumo e os investimentos”. Contudo, a política monetária restritiva e os ajustes fiscais também resultaram em desemprego elevado e ajustes econômicos.
 
Para os especialistas, o que diferenciou o Plano Real de outros planos econômicos anteriores foi a abordagem gradual. “Ao invés de tentar combater a inflação de forma abrupta com congelamento de preços e salários, o Plano Real introduziu uma moeda virtual (URV) para estabilizar os preços antes de lançar a nova moeda”, comenta Garbe.
 
Na época, o economista Múcio Zacharias trabalhava como controlador de uma empresa de médio porte. Ele recorda a confusão inicial com a conversão salarial.
 
“Quase tivemos uma greve quando os salários foram divididos por 2.750 [URV], gerando desconfiança. Todos achavam que estavam sendo enganados”. Esse fenômeno de perda de referência foi essencial para quebrar a inércia inflacionária, segundo Zacharias.
 
O Plano Real teve um impacto duradouro na política monetária e fiscal do Brasil, levando à criação do Copom (Comitê de Política Monetária) e ao fortalecimento do Banco Central, além de enfatizar a responsabilidade fiscal.
 
Com a inflação sob controle e a moeda estável, o Brasil se tornou um destino mais atraente para investimentos estrangeiros e se integrou nas cadeias de valor globais.
 
“A credibilidade conquistada permitiu ao Brasil participar mais ativamente em organizações econômicas internacionais e atrair parcerias comerciais estratégicas”, destaca Zacharias.
 
Legado
 
Para os economistas entrevistados pelo LIBERAL, o legado do Plano Real  é extenso e permanente. “Ele marcou o fim da hiperinflação e estabeleceu as bases para a modernização e crescimento da economia brasileira”, afirma Zacharias.
 
Garbe acrescenta que a confiança na economia foi restaurada e que o Plano Real trouxe importantes lições sobre responsabilidade fiscal e política monetária independente, que continuam a orientar a política econômica do país.
 
Desde 1942, foram feitas muitas reformas das quais nasceram seis novas moedas:
 
• Cruzeiro Novo (1967)
• Cruzeiro (1970)
• Cruzado (1986)
• Cruzado Novo (1989)
• Cruzeiro (1990)
• Cruzeiro Real (1993)
 
Economistas que criaram o Plano Real
 
• Edmar Bacha
• Winston Fritsch
• Pedro Malan
• Gustavo Franco
• André Lara Resende 
• Pérsio Arida
• Clóvis Carvalho
 
As principais medidas do Plano Real incluíram:
 
• Criação da URV: uma moeda virtual para estabilizar preços antes da introdução do real.
 
• Introdução do Real: substituição do cruzeiro real pelo real, com uma taxa de câmbio inicial controlada.
 
• Ajustes fiscais: implementação de medidas para reduzir o déficit público.
 
• Reformas econômicas: Privatizações, liberalização do comércio e desregulamentação de setores econômicos.
 
• Política monetária restritiva: controle da base monetária para evitar a volta da inflação.