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20/10/2023 - 11h29

Portos verdes


Fonte: A Tribuna On-line - Editorial
 
A curto e médio prazos, a não adoção dessas políticas representará perda de cargas e dificuldade nas transações
 
Ganha cada vez mais espaço o debate em torno das questões que envolvem a adoção de práticas, políticas e medidas ambientalmente sustentáveis nos portos mundiais, o de Santos incluído. O tema foi o eixo central de importante evento que terminou ontem no Panamá, o TOC Americas 2023. Como disse um dos organizadores do evento, os portos são responsáveis por uma variedade de emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa (GEE), aqueles que prejudicam a camada de ozônio e fazem com que o clima do planeta se desequilibre, como já tem sido visto mundo afora. Debater a necessidade de práticas ambientalmente sustentáveis diz respeito não só ao embarque e desembarque de mercadorias, mas abrange toda cadeia produtiva pré e pós-movimentação de carga, desde a produção no campo até a exportação e entrega dos produtos no destino final.
 
Em fórum promovido recentemente pelo Grupo Tribuna, a descarbonização das atividades portuárias foi também um dos temas levantados, porém, a adoção de medidas verdes depende, ainda, da existência de tecnologias, insumos e mercado para que se façam economicamente viáveis. O uso do hidrogênio verde como matriz energética, produzido a partir de duas rotas no Brasil (biometano ou eletrólise), é capaz de reduzir a emissão de GEE entre 80% e 100%. Porém, o acesso a esse sistema ainda não se dá de maneira fluida e sustentável no âmbito econômico-financeiro. Quatro eixos serão necessários para tornar realidade a transição energética para o hidrogênio verde: pesquisa e desenvolvimento, mão de obra qualificada, investimentos e uma política reguladora. Por ora, as empresas que operam na cadeia portuária e retroportuária têm feito a lição de casa a partir da eletrificação de sua frota, o que já reduz significativamente a emissão de GEE.
 
Esse movimento está presente nos portos mundiais, mas a introdução de medidas efetivas se dá de maneira diferente entre os países. Os portos e quem os administra precisam entender que, a curto e médio prazos, a não adoção dessas políticas representará perda de cargas, dificuldade nas transações multilaterais e prejuízos econômicos relevantes. O acordo Mercosul-União Europeia é exemplo de inserção de exigências ambientais entre países para que acordos de livre comércio continuem. A tendência é de que ‘assuntos verdes’ se tornem cláusulas comuns, com estabelecimento de metas e prazos, sob pena de cessarem negociações econômicas internacionais.
 
O Brasil tem na área ambiental um universo de oportunidades, e os portos podem ser a alavanca para alcançar um patamar mais elevado nesse caminho, uma vez que têm posição estratégica na América do Sul e já exportam grande parte da mercadoria para os mercados europeu e americano. Enxergar dessa forma pode não só acelerar as medidas necessárias para a redução da pegada ambiental, como criar uma cadeia de valor a ser seguida no cenário internacional.