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19/09/2023 - 10h59

Guindastes inteligentes, portos sustentáveis


Fonte: A Tribuna On-line / Ricardo Pupo Larguesa*
 
A adoção de guindastes elétricos é um passo animador na jornada em direção à sustentabilidade
 
Um operador portuário virou notícia recentemente ao adotar guindastes 100% elétricos para suas operações em um terminal de Manaus (AM). Senti uma onda de otimismo. Afinal, qualquer movimento em direção a métodos de trabalho mais sustentáveis é uma lufada de ar fresco. Mas, como sempre, não pude deixar de pensar nas controvérsias que cercam a tecnologia elétrica, particularmente no campo dos automóveis. São bem documentadas as preocupações sobre a produção e a logística reversa de baterias de íons de lítio, bem como o paradoxo da dependência de termoelétricas em muitos países, o que potencialmente eleva a pegada de carbono de carros elétricos ao invés de diminuí-la.
 
Então, me perguntei: essa controvérsia também se aplicaria aos guindastes elétricos? A resposta, para minha alegria, é não. E é aqui que a situação se torna verdadeiramente intrigante. Primeiro, vamos abordar a fonte de energia. Os guindastes são veículos com alcance limitado de atuação, restringindo-se a uma área específica dentro do terminal, geralmente em trilhos. Então, os guindastes elétricos não são alimentados por baterias de íons de lítio, o que já elimina parte significativa da controvérsia. Sem baterias para produzir, transportar e descartar, já estamos falando de uma tecnologia potencialmente menos problemática em termos de sustentabilidade.
 
Em relação à matriz energética, a questão é mais complexa, mas também não é tão desanimadora quanto se poderia pensar. Mesmo em um cenário em que a energia elétrica é gerada por fontes não renováveis, os guindastes elétricos tendem a ser mais eficientes e, consequentemente, mais "amigáveis" ao meio ambiente do que suas contrapartes a diesel. Sua eficiência energética geralmente se traduz em menor consumo de energia para a mesma quantidade de trabalho realizado. Além disso, estamos falando de instalações à beira-mar, que poderão tirar proveito de tecnologias emergentes de geração de energia através das ondas do mar.
 
E se pensarmos em escala, os guindastes não são tão numerosos quanto os automóveis, o que significa que seu impacto ambiental, mesmo se fosse negativo, seria muito menor. Além disso, portos são estruturas gigantescas com operações altamente especializadas e controladas. Isso torna mais fácil implementar tecnologias complementares, como fontes de energia renovável e sistemas de armazenamento de energia, para tornar a operação geral ainda mais eficiente e sustentável.
 
Para encerrar, não posso deixar de expressar meu entusiasmo com esta nova direção em que a indústria portuária está se movendo. A adoção de guindastes elétricos é um passo animador na longa jornada em direção à sustentabilidade e estou ansioso para ver como esta tecnologia será implementada e aprimorada nos próximos anos. Afinal, cada gota conta quando estamos falando de proteger o nosso planeta.
 
*Ricardo Pupo Larguesa, engenheiro de computação, sócio-fundador da T2S, professor e pesquisador na Fatec Rubens Lara