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22/08/2023 - 11h17

A transição energética e o papel dos portos


Fonte: A Tribuna On-line / Rodrigo Paiva*
 
Traduzir experiências internacionais à realidade brasileira e definir um caminho talvez seja o ideal para tratar o tema
 
Mais de 80% do comércio mundial se dá por meio dos portos, de acordo com dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Além de serem um dos principais nós logísticos, a evolução de suas funções e a característica de serem o concentrador da cadeia de suprimentos global permitem aos portos atuar como facilitador em melhorias ambientais de algumas formas.
 
São elas: 1) como landlords (provedores de áreas e infraestrutura básica); 2) como reguladores (definindo tarifas, padrões ambientais, ocupação territorial); 3) como operadores (equipamentos e infraestrutura); e 4) como gerenciadores de stakeholders – da comunidade portuária (estimulando a maior colaboração entre a comunidade portuária e a cadeia logística envolvida).
 
Assim, os portos podem estimular movimentos que busquem a transição energética, seja pela definição de padrões institucionais, pela criação de estratégias logísticas verdes, pelo estímulo a novas tecnologias ou pelo convencimento da comunidade portuária de sua importância e seus benefícios. O caminho para a transição claramente não será fácil e linear e dependerá sobretudo de como as Autoridades Portuárias entenderão seu papel e se serão protagonistas ou apenas atores na nova cena global.
 
Olhar para experiências internacionais, traduzi-las para a realidade brasileira e definir um caminho próprio talvez seja a forma mais adequada para tratar o tema.
 
A Europa e seus portos nos trazem exemplos de criação de estratégias importantes no caminho da transição energética pelos portos. O Porto de Roterdã, na Holanda, da mesma forma como o de Antuérpia, na Bélgica, possui estratégias claras e ambiciosas, como seu posicionamento de hub de hidrogênio, a criação de corredores verdes e digitais e o estímulo à economia circular. As metas impostas por Roterdã compreendem redução das emissões de CO2 em 50% até 2030 e CO2 neutro até 2050.
 
Observam-se também algumas iniciativas já na definição da ocupação espacial de área portuárias, em seus planos diretores, ao se definirem terrenos e infraestrutura básica para a implantação de projetos de energia de baixo/zero carbono e, em alguns casos, até mesmo investimentos em projetos de energia sustentável. O desenvolvimento de uma política de transição energética para o sistema portuário brasileiro passará pela criação de uma política governamental estruturada e pensada para o estímulo à atividades ambientalmente amigáveis, que dependem da atuação das Autoridades Portuárias, mas não somente delas.
 
Deve-se possibilitar e estimular que a cadeia logística de importação e exportação, desde a produção agrícola e industrial até o transporte terrestres de e para os portos, adote práticas sustentáveis (uso de combustíveis verdes, energia renovável). Como? Prevendo canais verdes com menores tarifas para cargas ligadas a essas práticas, estimulando a navegação com embarcações que utilizem energia não fóssil, beneficiando os terminais que implementem equipamentos eficientes híbridos e elétricos e utilizando os planos diretores como ferramenta de planejamento verde.
 
Essas são práticas que podem e devem ser adotadas com o objetivo de participar da nova economia global e atrair investimentos privados, que a cada dia buscam alternativas diferenciadas e inovadoras como forma de garantir retornos sustentáveis.
 
*Rodrigo Paiva, especialista em infraestrutura e consultor portuário