Artigos e Entrevistas
26/07/2023 - 11h36

Cidades portuárias


Fonte: A Tribuna On-line - Tribuna Libre / Marcus Vinícius De Freitas*
 
Ao longo da história, cidades portuárias exerceram papéis fundamentais no processo de desenvolvimento de países. Estas cidades conseguem aproximar o mundo da população local e servir como mola propulsora do desenvolvimento econômico. O mesmo se pode dizer quanto a aeroportos, que desempenham uma função essencial no capitalismo de algumas nações.
 
A Ásia é pródiga em casos de desenvolvimento a partir dos portos. Singapura é um exemplo clássico de um lugar que cresceu substancialmente em razão da sua posição geográfica e importância portuária. O desenvolvimento recente da China, em particular, tem uma relação profunda com as cidades costeiras como polos de progresso econômico e social. Um porto bem estruturado serve para o escoamento seguro do comércio internacional de um país. As cidades portuárias chinesas, por exemplo, possuem até mesmo uma renda per capita mais elevada que outras partes daquele país asiático.
 
A China é reconhecidamente um país que investe pesado em infraestrutura. Aliás, há até mesmo um provérbio chinês que afirma: “Construa uma estrada e fique rico”. A ideia por trás desta expressão é enfatizar a importância da construção de uma infraestrutura sólida para permitir o avanço nacional, com a respectiva melhoria na qualidade de vida e do bem-estar social. A função do estado é planejar o longo prazo e pavimentar a estrutura necessária para que o setor privado possa agir e promover maior riqueza.
 
O Brasil parece esquecer-se desta importante lição. Nos últimos anos, temos ouvido sobre o grande desenvolvimento do agronegócio brasileiro e a evolução que teve nas últimas décadas e também como transformou o Brasil num importante celeiro global. Este celeiro, no entanto, enfrentará as agruras, num futuro próximo, de uma infraestrutura aquém de suas necessidades. Para o campo brasileiro alimentar o mundo - como se pretende - é necessário melhorar substancialmente a questão da infraestutura: estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Além disso, a questão da armazenagem dos grãos é essencial para se lograr a manutenção de estoques reguladores e até mesmo a plena utilização das safras sem perdas desnecessárias.
 
Cidades como Santos, que tem uma vida histórica associada ao porto, poderiam desempenhar um papel ainda mais relevante como porta de entrada e saída do Brasil para o mundo. Em muitos lugares, observa-se que algumas destas cidades se tornaram zonas econômicas importantes. À medida que se avalia o futuro do Brasil, seria o momento de uma cidade como Santos abrir-se ainda mais ao mundo para forçar uma mudança no seu status como cidade portuária e servir, de fato, como polo fundamental para fomento do desenvolvimento. Seria interessante que houvesse uma zona franca na Baixada Santista e que neste litoral paulista também se criassem plataformas importantes de exportação. Talvez fosse o tempo de nossas autoridades visitarem as cidades portuárias chinesas, por exemplo, para melhor compreenderem como tornar suas cidades fundamentais ao progresso de uma nação.
 
*Marcus Vinícius De Freitas. Professor Visitante, China Foreign Affairs University