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18/07/2023 - 11h32

Metacognição, a inovação antropológica 4.0


Fonte: BE News - Coluna Tecnologia & inovação*
 
Calma pessoal. Fiquem tranquilos que não tomei nada alcoólico, nem consumi nenhuma substância proibida antes de escrever a coluna desta semana. Ocorre que, no último dia 26 de junho, tive o privilégio de participar de uma atividade sensacional chamada “Encontro de Líderes”, dentro do VI Simpósio de Gestão Portuária, evento organizado pelo competentíssimo prof. Dr. Sérgio Cutrim, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Aliás, Sérgio Cutrim era um dos componentes da equipe vencedora do Hackaton promovido pelo Brasil Export em 2020 que, como prêmio, esteve na comitiva que visitou os processos de inovação de Singapura em maio deste ano.
 
No evento, a professora Vera Martins, também da UFMA, apresentou um conceito inovador, que conseguiu destruir grande parte dos alicerces do que eu pensava ser a explicação definitiva para o que acontece atualmente com nossa sociedade moderna. Até então eu acreditava que a tecnologia estava no centro das transformações sociais e que a 4ª Revolução Industrial, com todas as suas tecnologias disruptivas, seria a causa raiz da acelerada transformação por que passa a sociedade global.
 
Mas não é nada disso! A tecnologia é apenas uma ferramenta. Uma espécie da acelerador da transformação. A verdadeira mudança é antropológica e está na cabeça de cada uma das pessoas. É claro que eu não consigo chegar nem aos pés da professora Vera para explicar isso, mas vou tentar aqui, com base no que eu entendi. Desde que viramos o século, começamos a entender que quem tinha o poder era quem tinha os “dados”. Isso durou pouco, pois na verdade o poder estaria na mão de quem tem o “conhecimento”. Mas agora se sabe que, na verdade, o poder está nas mãos de quem consegue se adaptar mais rápido e aprender melhor os novos conhecimentos. 
 
Se nós fôssemos mais espertos, já teríamos acreditado em Charles Darwin, que, no livro A Origem das Espécies, concluiu que quem sobrevive não são os mais fortes, mas aqueles que possuem maior capacidade de adaptação.
 
Pois bem, mas o que seria então a metacognição? Vamos ver se um raciocínio com cabeça de engenheiro ajuda a entender isso. “Meta” é um prefixo que vem do grego e que, resumidamente, significa algo como “além”. Assim, metaverso, por exemplo, seria além do universo. Em TI, metadados são os dados dos dados, por exemplo, numa tabela, “Porto de Santos” pode ser um dado. Os metadados seriam os dados que explicam esse dado. No caso: “Nome de um porto organizado”; “escrito com letras maiúsculas” e qualquer outra informação útil para descrever os possíveis dados da tabela.
 
Cognição já é a capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento, tomando por base um conjunto de habilidades mentais e/ou cerebrais como a percepção, a atenção, a associação, o juízo, o raciocínio e a memória.
 
Então a metacognição é a consciência de si próprio, ou seja, a capacidade de conhecer e de dominar o seu próprio processo de aprender, mesmo que isso implique muitas vezes duvidar do próprio pensamento.
 
É aí que a metacognição aparece como conceito inovador para nos ajudar a compreender e, principalmente, a nos adaptar ao mundo moderno. O fato é que, talvez aceleradas pela abundância de informações, as pessoas estão se manifestando e assumindo novos comportamentos numa velocidade jamais vista. Uma grande parte das pessoas, arraigada a pensamentos e conceitos antigos e pré-formatados, não está conseguindo entender e aprender com essas mudanças, e acabam sofrendo ou sendo intolerantes, porque queriam que o mundo fosse de acordo com seus gabaritos mentais. E a má notícia é que podem sofrer à vontade, porque seu pensamento não tem o menor poder de reverter nada disso.
 
Com a metacognição, todos nós podemos entender que tudo o que está aí é irreversível e que o melhor caminho é tentar aprender como extrair o melhor resultado, inclusive no universo empresarial e corporativo. Isso passa pelas novas identidades de gênero, polarizações políticas, necessidade de tolerância etc. Não estou dizendo que temos que aceitar todas as formas de pensamento, pois aquilo que prejudica outras pessoas sempre será ruim. Mas até mesmo esses pensamentos estão aflorando em grande quantidade (inclusive em estádios de futebol). Por sorte, a metacognição está aí para nos ajudar.
 
*A coluna Tecnologia & Inovação é uma contribuição do Conselho Brasil Tech Export, presidido pelo diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Angelino Caputo.