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12/07/2023 - 11h13

Mestre em Engenharia de Transportes fala dos desafios do Porto de Santos em prol da eficiência


Fonte: A Tribuna On-line
 
Por mais produtividade e menos filas, aproveitar áreas ociosas e aumento do uso da tecnologia são atitudes fundamentais
 
Engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, Luis Claudio Santana Montenegro afirma que a criação de capacidade, aproveitando as diversas áreas ociosas, e o aumento do uso da tecnologia e dos investimentos no setor de logística são atitudes fundamentais para que os portos, incluindo o de Santos, possam ter mais produtividade e menos filas. Na entrevista a seguir, ele também defende a desburocratização de processos.
 
Qual a necessidade de novos e constantes investimentos na logística envolvendo os portos?
 
Uma logística eficiente deve permitir que o fluxo de pessoas e mercadorias aconteça sem paralisações. O pior que pode acontecer é que o fluxo seja interrompido ou fique aguardando capacidade. Se queremos ser mais eficientes e competitivos no comércio internacional, precisamos de investimento nas infraestruturas que suportam nossa logística. Principalmente nos portos, que são pontos de contato de modais diferentes e local de acesso ao transporte marítimo, que responde por mais de 95% do nosso comércio internacional. Fizemos recentemente um levantamento preliminar e chegamos a um patamar de R$ 48 bilhões por ano de custos perdidos com caminhões e navios em filas, esperando por capacidade portuária. É três vezes maior que o valor avaliado do Porto de Santos. Ou seja, perdemos três Portos de Santos por ano com filas evitáveis.
 
A logística usada acompanha a tecnologia que já existe?
 
Quando falamos de aumento de capacidade, temos que entender que ele pode ser construído por alguns caminhos. O mais curto, com resultados mais rápidos e com soluções de custo relativamente baixo, é aumentar a eficiência das infraestruturas já existentes. O uso eficiente tira delas o máximo de sua capacidade. Somente depois disso é que pensaríamos em novas infraestruturas, ou na expansão física das que estão disponíveis. Se queremos melhorar processos para ganhar capacidade em infraestruturas disponíveis, temos que inserir tecnologias e inovar. Temos muito a avançar em inovação e uso de tecnologias. Ainda estamos muito lentos, mas temos potencial enorme para acelerar e até passar a velocidade mundial. Depende de nossas ações.
 
E no Porto de Santos?
 
O Porto de Santos, pela sua complexidade e magnitude, acaba sendo o melhor case para discutir qualquer proposta de evolução dos processos logísticos. Porém, o Porto de Santos ainda tem muitos desafios a serem vencidos na melhoria da eficiência, dos processos logísticos e do uso de tecnologia.
 
Como resolver os gargalos logísticos nos portos brasileiros?
 
Criando capacidade, o que impede que os portos possam ser gargalo para o aumento da nossa participação no comércio internacional, hoje de ínfimo 1,04%, aumentando eficiência, inovando e inserindo tecnologia para reduzir custos e tirar o máximo proveito das nossas infraestruturas. Um problema emblemático que tenho falado nos últimos anos - e cada vez mais crônico - é a lentidão para aprovarmos investimentos nos portos públicos, enquanto há diversas áreas ociosas e caminhões e navios à espera de atendimento.
 
O Porto de Santos apresenta áreas ociosas? Como resolver?
 
Diversas, como é o caso da região do Saboó, com operações praticamente inexistentes há mais de uma década. Contratos importantes estão em processo de renovação há vários anos no Porto de Santos. É preciso destravar investimentos urgentemente. Só com filas de navios de contêineres no Porto de Santos, estamos gastando (e, consequentemente, aumentando os custos para os usuários finais) mais de R$ 1 bilhão por ano comparados a 2019, quando as infraestruturas estavam começando a ficar congestionadas e os sinais de necessidade de investimento já estavam sendo percebidos. Além disso, há projetos de expansão do Porto de Santos, como o Santos Offshore. Esse projeto, se todas as áreas estivessem já ocupadas, pode se tornar viável, trazer novidades tecnológicas e de perfil técnico do porto. Mas nunca se chega lá porque há muitas áreas desocupadas, o que torna qualquer expansão totalmente sem sentido.
 
O que tem de ser mudado no modelo para contratos de utilização de áreas em ativos portuários públicos?
 
O modelo disponível nos portos públicos é o arrendamento portuário. O problema no Brasil é que é extremamente burocrático e leva cerca de três a cinco anos para ser concluído. Além disso, existe burocracia enorme em qualquer aprimoramento dos contratos. Por isso, as áreas ficam vazias, chegando a patamares médios de cerca de 56% nos 37 portos públicos, com índices de até 90% em alguns portos.
 
Há algum exemplo em especial?
 
O do Porto de Itajaí, que esteve entre os primeiros portos do Brasil na movimentação de contêineres e hoje está completamente vazio. Tudo pela enorme burocracia de formalizar contratos para ocupação do porto. Não há escassez de áreas nos portos brasileiros nem mesmo no Porto de Santos. A partir dessa premissa, é preciso entender que há oportunidades para todo e qualquer investidor interessado.