Artigos e Entrevistas
22/06/2023 - 10h09

Perseverar para começar e saber fracassar!


Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
"Já temos a motivação, conhecemos o risco e a possibilidade do fracasso. Falta a disciplina para começar."
 
Particularmente, eu gosto das histórias de sucesso bem detalhadas. Conheço portos pelo mundo e um ponto em comum que quero destacar entre Roterdã, na Holanda, e Ashdod, em Israel, é o sucesso. Como ambos conseguem alcançar tamanho desempenho em seu planejamento versus realizações. Lembro que na minha primeira visita ao Porto de Roterdã, perguntei ao diretor-presidente de lá como eles conseguiram chegar tão longe na automação portuária.
 
Todos nós sabemos que por lá existem caminhões que andam sozinhos, processos de admissão de carga automatizados e.outros pontos. A resposta que eu esperava naquele momento era algo como um grande plano feito e o detalhamento de tudo o que eles realizaram, além, é claro, da forma como conseguiram convencer todos os players do setor, governo, sindicatos etc. Estava enganado, pois a resposta foi simples. Ele me disse: "Sabe como chegamos tão longe? Simplesmente porque começamos".
 
E assim foi também em Ashdod, que recebeu a visita da comitiva da Missão Internacional Porto & Mar Brasil-Israel 2023, promovida pelo Grupo Tribuna no Oriente Médio. Israel e o porto se tornaram os mais inovadores do mundo porque começaram o processo e não tiveram medo de errar. Tanto em Roterdã quanto em Ashdod, pudemos perceber que quando existe a necessidade, há a vontade de fazer!
 
Apesar do risco de errar e fracassar, o verdadeiro aprendizado é que a jornada até o sucesso é mais importante do que o próprio sucesso. Queremos muito o sucesso, mas não queremos a jornada até ele. No Porto de Santos, conhecemos nossas necessidades, algumas delas que perduram por décadas, mas o receio, a falta de vontade, os modelos burocráticos e o risco de errar sem mesmo começar impedem que possamos evoluir.
 
Uma nova ligação entre o porto santista e o Planalto é um bom exemplo. Para pensar em uma nova ligação, precisamos de estudos, viabilidade, interesses dos políticos, do Estado, da Federação, da iniciativa privada... Interesses, interesses e mais interesses. O que é interesse? Trata-se daquilo que é importante, útil ou vantajoso, moral, social ou materialmente. Infraestrutura para o porto é importante, além de muito útil, e deve ser vantajosa para a iniciativa privada e o setor público (ambos e não somente para um lado), com projetos que atendam as esferas moral, social e principalmente material.
 
Além da ligação seca, podemos destacar a dragagem, o túnel, as concessões, entre tantos outros. A agenda de uma boa gestão deve ser no desenvolvimento e na oportunidade e não simplesmente em vender ou não o porto.
 
Tenho a sensação de que aqui temos a síndrome da TV a cabo, onde comercialmente as operadoras fazem de tudo para atrair clientes, com promoções e descontos que seduzem o consumidor. Depois de conseguir, tudo muda, pois a partir da assinatura do contrato a relação parece mais de inimigo do que amigo. O cliente é retido com regras, taxas e penalidades para garantir que a receita perdure - não pela boa prestação do serviço, mas sim pela obrigatoriedade contratual. A regra do jogo ainda pode mudar com o jogo em andamento. Quantas regras foram mudadas nos projetos de concessões depois dos contratos assinados?
 
É preciso entender que há muita oferta de projetos e uma demanda incalculável, com isso precisamos ter a liberdade de fazer, errar e recomeçar. Não por meio de interesses, em que uma gestão interrompe o que a outra fez, mas sim com uma gestão avaliando o que foi feito, aprimorando e criando o ambiente ideal para continuar fazendo. Nos portos que conheço pelo mundo, é assim que funciona. Simplesmente começam a fazer, sem muitos entraves e dão a possibilidade de o mercado ficar cada vez mais faminto por investimentos.
 
Queremos e devemos aumentar a capacidade dos portos, mas por que discutimos tanto se temos tanta oferta? Nessa relação da busca pelo ideal, continuamos inertes. O ideal é movimentar ou ficar parado? Interessante essa pergunta em outro espectro: precisamos movimentar a carga ou ficar com ela parada e armazenada?
 
Se existe área para concessão, que se faça o estudo de todas as áreas, precifique-as e depois disso coloque no mercado para os interessados. Se aparecer um interessado, faça-se a concessão. Se aparecerem dois, realize-se o leilão. O que não podemos é fazer estudos e mais estudos, que demandam anos e provocam em muitos a sensação de outra síndrome, a do estudante: aquele que estuda, estuda e não passa de ano.
 
Errar é uma constante da vida e são as seguidas tentativas que nos fazem vencer os desafios. Ainda que o caminho não seja o apropriado, a gestão bem-sucedida é aquela que insiste e envolve mais gente em torno de suas metas. Ela não sabe bem onde suas ações vão dar, mas “paga para ver” e arrasta um exército consigo. Ela não desiste, persiste e briga contra o feudalismo! Já temos a motivação, conhecemos o risco e a possibilidade do fracasso. Falta a disciplina para começar, tentar e acreditar. Vai dar certo!
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°