Artigos e Entrevistas
01/02/2023 - 11h55

E na passarela!


Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
"Entre confetes e serpentina, existem projetos que duram somente o período da folia.”
 
O Carnaval está chegando e, em meio a marchinhas como "eu fiz tudo para você gostar de mim", "daqui não saio, daqui ninguém me tira" e "quanto riso, quanta alegria", a missão nas próximas semanas é deixar tudo pronto para receber os foliões, seja na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz, em Santos, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, ou na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.
 
E no Porto de Santos, quem disse que não há uma passarela? Inaugurada em janeiro e localizada próximo à Alfândega de Santos, no Centro, ela é destinada aos passageiros da travessia de barcas Santos-Vicente de Carvalho, possui 54 metros de comprimento e 7 metros de largura, além de escadas e elevadores com capacidade para 16 pessoas em cada extremidade. A antiga passagem será fechada após um período de adaptação. Gestão e manutenção ficarão a cargo da Autoridade Portuária.
 
Acontece que, logo no início de operação, a passarela já demonstrou que não atende aos cidadãos que têm a necessidade de “desfilar” com suas bicicletas de um lado ao outro da Rua Xavier da Silveira, gerando filas e fazendo com que as pessoas coloquem as “bikes nas costas” para subir as escadas. Isso porque o elevador disponível não consegue atender a demanda em horário de pico.
 
A maioria dos projetos usa o termo Porto-Cidade e isso me fez lembrar de uma ocasião em que conversei com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Portuária (Sindaport), Everandy Cirino dos Santos, e ele me disse que precisamos de gente da região na gestão e que entenda dos nossos problemas. Confesso que na ocasião não entendi muito esse apontamento. Hoje, percebo que pessoas daqui sabem como devemos elaborar projetos conforme a demanda regional.
 
Afinal de contas, quem nunca soube da quantidade de pessoas e bicicletas que atravessam diariamente entre Santos e Guarujá? Quem nunca pegou uma balsa às 7 horas, por exemplo, e se deparou com a embarcação lotada de bicicletas e sem carros? Essa particularidade da mobilidade regional é notória e explicita. O reflexo na nova passarela? Um gargalo enorme por não ter previsto o atendimento a tantos ciclistas. Com o alto custo das passagens de ônibus, desde sempre, muitas pessoas usam esse meio de transporte para se locomover.
 
Outro ponto é que rotineiramente citamos exemplos de outras cidades e portos pelo mundo que utilizam o transporte por bicicletas como ecologicamente correto, sustentável e saudável, entre outros fatores. Tudo isso para comparar e mostrar ao cidadão que devemos acompanhar essas tendências. Mas por que nossos projetos não preveem isso? Isso sem contar, é claro, do tal ESG, propagado aos quatro ventos ultimamente.
 
Será que as pessoas se esqueceram que os trabalhadores portuários e da região usam bicicletas?
 
O diretor-presidente da Santos Port Authority (SPA), na inauguração dessa obra no Centro santista, anunciou a construção de novas passarelas, no mesmo padrão, para os próximos anos. Esperamos que o projeto seja revisto para atender às necessidades de quem utiliza o serviço e que os elevadores, por exemplo, também sejam repensados. Como sabemos, elevadores possuem custo alto de manutenção e a contratação de serviços sempre foi um grande desafio para a Autoridade Portuária. A gestão publica pode e deve investir em infraestrutura, desde que isso não gere um passivo futuro para a sociedade. Se for gerar passivo, que entregue para a iniciativa privada.
 
Será que a solução agora será liberar novamente o antigo acesso para que as pessoas não sejam prejudicadas?
 
Entre confetes e serpentinas, existem projetos que duram somente o período da folia. Um ótimo Carnaval a todos. Ah, se chover, leve guarda-chuva, pois a passarela também não é coberta!

*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°