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14/10/2022 - 10h06

Os caminhos do ESG nos portos...


Fonte: A Tribuna On-line / Gesner Oliveira*
 
Termo é a síntese de uma agenda de sustentabilidade contemplando as áreas ambiental, social e de governança
 
O termo ESG (Environmental, Social and Governance, na sigla em inglês, ou ASG, em português) é a síntese de uma agenda de sustentabilidade contemplando as áreas ambiental, social e de governança. Tais avenidas de oportunidades para ESG na infraestrutura portuária serão objeto de debate, em 23 de novembro, em mais um evento do ciclo integrado promovido pelo Grupo Tribuna. Há várias oportunidades na formulação de políticas ESG no setor portuário. Seguem três caminhos que merecem lugar de destaque na agenda: adaptação, água e energia.
 
O primeiro é a adaptação à mudança climática. Os relatórios de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) contêm farta evidência de que algumas mudanças no clima são irreversíveis, exigindo providências imediatas que protejam a infraestrutura portuária dos extremos climáticos cada vez mais frequentes, como vendavais e tempestades.
 
Este foi um tema enfatizado no primeiro evento da Agenda ESG Tribuna. Segundo a professora Mônica Porto, líder ESG da Sabesp e convidada do Grupo Tribuna, “adaptação à mudança climática é a chave do sucesso”. Há um longo caminho a ser percorrido nesta direção. Segundo levantamento da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), em parceria com Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), apenas 28,57% dos portos brasileiros possuem uma abordagem específica em seu plano estratégico e nenhum adotou seguro contra mudanças do clima.
 
Em contraste, o Porto de Long Beach, nos Estados Unidos, lançou o seu programa Porto Verde, baseado em cinco princípios de sustentabilidade há quase duas décadas. O foco residiu na relação do porto com a cidade, visando proteger a comunidade dos impactos do aquecimento e outros males, bem como emissões de gases poluentes nas operações portuárias.
 
O segundo caminho está associado ao manejo e tratamento da água. É necessário, por exemplo, garantir o descarte responsável de água de lastro de navios, que pode ter fortes impactos sobre o ecossistema, provocando desequilíbrio ambiental.
 
Chama atenção, por exemplo, a bioinvasão do limnoperna fortunei, conhecido como mexilhão dourado e que chegou ao Brasil nos anos 1990 por meio de água de lastro (água do mar captada pelo navio com a função de garantir sua estabilidade em navegação). Trata-se de espécie nativa da Ásia que trouxe impactos negativos ao Brasil mediante entupimento de tubulações, filtros de usina e bombas de aspiração de água, a degradação das espécies nativas e problemas relacionados à pesca.
 
O terceiro caminho reside na utilização de fontes renováveis de energia para a produção de combustíveis verdes que possam substituir os fósseis, tanto nos equipamentos portuários quanto na navegação marítima.
 
Estas três sendas do ESG no complexo portuário e no mercado marítimo constituem somente uma parte de um conjunto amplo de temas que certamente passam pelo social e pela governança dos portos. O sucesso no enfrentamento de tantos desafios exige um esforço conjunto de um grande número de agentes entre reguladores, setor privado e formuladores de políticas públicas. O evento da Agenda ESG Tribuna do dia 23 de novembro visa precisamente convidar a comunidade para promover este urgente debate.
 
*Gesner Oliveira, economista, professor e coordenador do Centro de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV