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21/07/2022 - 09h47

O Porto que eu vi


Fonte: A Tribuna – Tribuna Livre / Adilson Júnior*
 
Recentemente, participe da Comitiva Porto & Mar, iniciativa do Grupo Tribuna que realizou visita técnica ao Porto de Roterdã, na Holanda, ou Países Baixos. O porto, de forma organizada, existe desde 1328, ou seja, funciona há quase 700 anos! O complexo portuário impressionou pela dimensão, avanço tecnológico, ferramentas de gestão e, principalmente, pela relação Porto-Cidade. Deparamo-nos com um dos maiores portos do mundo, em dimensão, carga movimentada e influência. Algo que extrapola a Holanda, sendo classificado como o maior da Europa e eleito pelo Fórum Econômico Mundial como o melhor do mundo em termos de infraestrutura portuário. O Porto de Roterdã soube aproveitar sua localização estratégica.
 
Os números atestam esse gigantismo: movimentou 369 milhões de toneladas (2021) em uma área de 105 km², 42 km de cais; em termos de movimentação de contêineres chega a mais de 14 milhões de TEU – o Brasil inteiro movimentou em 2021, mesmo período de Roterdã, 11,7 milhões de TEU, de acordo com dados divulgados pela Antaq.
 
Um dos aspectos que mais impressionam no Porto de Roterdã é a sinergia Porto-Indústria. Dezenas de indústrias têm o Porto com importante elo na cadeia produtividade, abrangendo atividades químicas e petroquímicas e alimentícias, entre outras. Por outro lado, automação e ferramentas tecnológicas não significaram desemprego, ao contrário, o Porto emprega 385 mil trabalhadores, diretos e indiretos, em uma cidade cuja população é de cerca de 1 milhão de habitantes. O sistema portuário é referência em termos de avanço técnico.
 
Sem dúvida, a gestão é o aspecto que merece destaque naquele complexo portuário. A Autoridade Portuária de Roterdã pertence ao município, sendo uma empresa eficiente e muito profissional, em total integração com o governo central. Os agentes públicos estabelecem diretrizes, mas as decisões relativas à gestão são exclusivas da Autoridade Portuária, ou seja, o sistema é extremamente descentralizado e resulta em excelência.
 
O que podemos aprender com o Porto de Roterdã é que o porto não é só lugar para navio, mas é acima de tudo, um arranjo de negócios, desenvolvimento, gerador de empregos, renda e qualidade de vida. Por outro lado, a gestão mostra que uma empresa pública pode, sim, ser eficiente e moderna, e gerida pelo município, que entende as necessidades da população local, articulando todos os interesses dessa importante cadeia de negócios. Enfim, um porto gerido não de costas para a cidade, mas totalmente integrado a ela.
 
Enfim, um modelo que pode e deve ser seguido pelo Porto de Santos, igualmente gigante, mas que necessita ter maior interface com a cidade e a região, resolvendo a questão dos acessos terrestres, do acesso aquaviário, defendendo os interesses dos pequenos e médios empresários locais, um porto cujas decisões importantes são debatidas e implementadas pelos maiores interessados em seu desenvolvimento, não somente em Brasília. Devemos, dessa forma, aproveitar o debate lançado pelo Governo Federal em torno da possível desestatização da Santos Port Authority (SPA) para colocar a questão dos interesses locais em relevo, e não aceitar “pacotes fechados”, mas construir ideias e atitudes.
 
Temos profissionais gabaritados para tanto, que juntamente com outros agentes da sociedade, políticos e empresários, podem e devem formular conceito e propostas, visando o melhor para o Porto de Santos, para a cidade e a região. Aliás, por oportuno, ressaltamos que a iniciativa do Grupo Tribuna, ao realizar o evento Porto & Mar, se insere nesse esforço.
 
*Adilson Júnior, presidente da Câmara Municipal de Santos